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Capítulo dois
Ao ver aquela cena Bright se lembrou de partes da sua vida que ele lutava todos os dias para esquecer. A mãe havia morrido há poucos meses após lutar contra um câncer no colo do útero. Era difícil pra ele dizer em voz alta, mas sentia culpa de não ter estado com a mãe durante a luta contra a doença. Mesmo silenciosa, ela descobriu a tempo de tentar um tratamento, mas acabou não resistindo.
O Velence, especificamente a cozinha, tinha toda uma simbologia única para ele. O bar foi construído pelo avô e passado para o pai, que conheceu a mãe e os dois se casaram na ilha após viverem um amor de verão. A mãe estava de viagem e os dois se apaixonaram perdidamente. Bright veio logo no primeiro ano de casamento e a vida a três era incrível. Ele se lembrava do pai reformando a cozinha, o deck, o andar de cima, pois aonde o pai ia, Bright estava junto.
A alegria dos dois era ver a mãe dançando pela cozinha enquanto preparava as refeições e durante a noite, os petiscos para alimentar os clientes. Aquele era um lugar sagrado e Bright se lembrava de todos os momentos bons que tiveram ali. Cada canto daquele cômodo era repleto da mãe, por isso ver alguém de fora, cozinhando naquele lugar o deixou perturbado.
Seus amigos estiveram ali, ele fazia as lições de casa ali, era naquele lugar que ele via o pai observar a mãe dançando, e expressar todo o amor que estava descobrindo ainda muito novo. Foi ali também que ele soube da gravidez e chegada de Ame. Lembrava-se que chorou na mesa e chegou a dizer que não queria uma irmã, mas quando a bebê chegou trazida pelo pai até a cozinha, tudo se transformou. A vida parecia ainda melhor com uma irmã.
Os anos foram passando e logo veio Charlotte. Quando a garota estava com um ano, o pai acabou falecendo em um acidente de barco. Tinha voltado a pescar e saiu com os outros pescadores da ilha para pegar o peixe do dia. Durante o trabalho, o tempo virou e uma tempestade avassaladora destruiu parte do bar e levou o pai. A primeira perda que ele sofreu na vida.
Foi na cozinha que ele viu a mãe se reerguer e continuar lutando para criar os três filhos. Logo Jennie chegou e ajudou a aliviar aquela tensão toda. O medo ainda andava com eles, mas a força de duas mulheres incríveis fez tudo dar certo. Bright pode ir para Bangkok realizar o sonho que tinha desde que era pequeno. As músicas que a mãe ouvia na cozinha eram tudo para ele. Os cantores, as bandas, os ritmos, tudo parecia preencher Bright quando as escutava e ele logo começou a cantar e se apresentar no palco improvisado que o pai criou.
Ele amava música, amava aquele sentimento que o preenchia sempre que começava a cantar e em Bangkok descobriu que poderia ter uma carreira e viver da música. Ser um músico de sucesso exigia dedicação total, e quando a doença da mãe foi descoberta um ano atrás, ele estava longe. Decidiu que voltaria para a ilha ao saber da notícia, mas mãe e tia o convenceram a permanecer, afinal ele tinha a vida dele e logo ela melhoraria, asseguraram durante uma discussão calorosa por telefone.
Mas nada havia sido justo na vida de Bright. Ele se achava o cara mais azarado do mundo, mesmo conseguindo muitas coisas, o sentimento de perda sempre o acompanhava e isso o tornava indiferente para muitas coisas, principalmente relacionamentos. Só havia uma coisa que tornava Bright um ser humano capaz de expressar suas emoções, eram suas preciosas lembranças. Sua maior arma para se blindar do mundo era sua indiferença, mas quando mexiam com tudo que envolvia suas memórias, ele se transformava.
- O que está acontecendo aqui?
Sua voz saiu como um sussurro enquanto sua cabeça processava todos aqueles sentimentos. Gigie passou por ele e nem ela foi capaz de ouvir a pergunta que ficou solta no ar.
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Estrela do mar ⭐ {Parte I}
FanfictionAcreditando que conseguiria enfim decolar sua carreira de músico, Bright Vachirawit viu tudo mudar quando sua mãe morre em decorrência de um câncer. Ao voltar para Ko Samui para ajudar sua tia a tocar os negócios da família e cuidar das duas irmãs...