ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 32

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   Nossas mãos ainda estavam entrelaçadas enquanto andávamos pela ruas frias que haviam perto do apartamento de Maxon e Ramona. As únicas coisas que não me permitiam congelar por completo eram o terno de Caliban em meus ombros, e o toque de sua mão na minha.

   Quando saímos do restaurante, o demônio estava com tantas perguntas que eu quase podia enxergar um ponto de interrogação em seus olhos brilhantes. Obviamente, todas eram a respeito do rapaz com o nariz quebrado. Eu respondi a todas, tendo que contar toda a história por trás de meu ressentimento quando Caliban perguntou o porquê de me irritar tanto com o que Nicholas estava fazendo com Sofie.

   — Então ele foi o seu segundo amor? — Eu poderia jurar que sua mão havia estremecido enquanto ele questionava, mas, ele recompôs rapidamente. — você comentou que namorou um rapaz mundano antes dele, que foi seu primeiro namorado.

   Contraí os lábios com força, tentando não me lembrar da noite em que eu violei a mente de Harvey Kinkle, apenas para me apagar dela. Não era justo eu ter o poder de fazer algo assim, mas, eu nunca me arrependeria. 

   — Harvey foi mais como um amigo para mim do que um namorado, só ficamos juntos naquela época porque parecia ser o certo. — eu ri baixinho, com as lembranças de meu primeiro beijo vindo até minha mente. Tínhamos 14 anos, hormônios e inexperiência. — Nunca foi amor. Quando conheci Nicholas foi diferente, eu senti coisas que nunca havia sentido antes, uma atração avassaladora, e uma paixão tão grande que me fazia esquecer de todos os erros que ele cometia. Bom, eu não me submeto mais a isso.

  Caliban soprou o ar frio, afastando a neblina de sua boca.

   — Mas, foi amor? — Ele abaixou a cabeça, me encarando enquanto ainda caminhávamos. 

   — Talvez, não sei. — respondi, incerta. — se aquilo foi amor, eu não quero sentir nunca mais.

   — Eu acho que não foi amor. — ele concluiu, após alguns minutos em silêncio. — talvez você estivesse fascinada pela ideia de ter alguém de verdade, alguém que te faz sentir "borboletas" na barriga, mas, o amor verdadeiro não faz você se esquecer de seus princípios. Você se apagou para caber no mundinho dele, você se esforçou sozinha por vocês dois, e ele te deixou achar que isso era o certo, o normal.

   Eu respirei fundo, sentindo suas palavras me afetarem com uma força invisível em minha mente. Ele estava absolutamente certo sobre o que disse.

   — Eu concordo com você, mas a Sabrina antiga não concordaria. — eu ri da ironia que era eu ter ficado tão diferente ao ponto de ter que me dividir em duas partes, a antiga e a atual. — ela era ingênua, teimosa e esperançosa demais para largar o Scratch. Aprendi da pior forma que ela estava errada.

   — Olha, pelo menos a teimosia ainda continuou em você. — brincou, me dando uma cotovelada fraca e arrancando mais um sorriso meu. — posso te fazer uma pergunta?

   — Fique a vontade.

   — Por que você se apagou da mente de todos que você conhece, de todos que um dia te amaram? — Meu sorriso se desmanchou com a pergunta. — Por que aquele rapaz não se lembra de você?

   — A princípio, eu não pretendia fazer isso, mas quando disse á eles que eu pessoalmente comandaria o inferno, cedendo toda a minha vida antiga em troca disso, todos ficaram devastados. A forma como eles me olhavam mudou, eu mudei. Eu não era mais a garota dócil e mansa que todos amavam, eu me tornei algo mais sombrio, algo que poderia ser cruel e morder quando necessário. Na verdade, eu acho que só me tornei eu mesma. — expliquei, com as palavras saindo como farpas de minha garganta. — e isso, eles não toleravam. Então, respondendo a sua pergunta, eu me apaguei porque foi mais fácil, porque desse modo eles não jogariam todas as suas mágoas em minhas costas. Harvey, Rosalind, Theo, Nicholas, tia Zelda, tia Hilda, Ambrose, Prudence, as bruxas do coven. Eu fiz isso com eles, e não vou dizer que me arrependo, se é isso que você espera.

   Fechei os olhos esperando que ele finalmente tivesse se cansado de me julgar mentalmente e começasse a me julgar verbalmente. No entanto, ele apenas disse : 

   — Inferno... essa merda toda deve te fazer sentir muito solitária. — e fazia. — Eu te vejo como você é princesa, e prometo que nunca vou te julgar por isso. — sussurrou em meu ouvido, e apenas então, eu percebi que não estávamos mais caminhando, e que seus braços estavam me apertando contra seu corpo. Ele estava me abraçando.

    E eu estava chorando.

   — Você acabou de fazer uma promessa para o diabo? — eu ri, entre soluços, com o rosto deitado em seu peito, enquanto as lágrimas molhavam sua camisa social.

   — Talvez eu seja mesmo idiota o suficiente para fazer isso.

    Caliban limpou minhas lágrimas com a palma de sua mão, e me encarou tão intensamente que eu me senti uma obra de arte viva. Eu poderia dizer que um magnetismo mágico me atraiu até a sua boca, mas isso seria mentira, eu mesma o puxei até mim, eu mesma encostei nossos lábios. Ele segurou meu queixo gentilmente, enquanto entreabria a boca, retribuindo meu beijo. Sua língua quente se enroscou na minha, e eu soube que queria ficar assim para sempre.

    Para sempre. 

𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 𝐝𝐨 𝐢𝐧𝐟𝐞𝐫𝐧𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora