O homem não devia passar dos vinte anos, mas ainda assim, estava no inferno, com dois dos meus capangas agarrando-o pelos braços. Era apenas um humano, apesar da crueldade que pesava em seus olhos profundamente escuros. Eu não me surpreendia mais por ter pessoas tão jovens vindo direto para o inferno, não depois de ter presenciado todos os casos anteriores.
Minha conselheira sabia exatamente quais eram os pecados do homem, e mesmo assim, não esbanjava ódio ou nojo em seu rosto. Estava acostumada a lidar com isso.
— Lilith? — eu chamei, e ela me encarou, sabendo que era para fazer um breve relatório.
— John Hale. — indicou ele com as mãos. — Quando tinha dez anos gostava de matar insetos, aos quinze matou o próprio cachorro. Depois que atingiu a maioridade, resolveu procurar um alvo maior. Matou uma garotinha de oito anos, e cometeu necrofilia depois do ato.
— Assassino. — fúria pesava em minha voz, deixando-a grossa, quase demoníaca. — Você acha que tem o direito de decidir quem vive ou não, humano?
O homem me respondeu com uma gargalhada de extremo deboche. Os guardas apertaram ainda mais seus braços, sem tolerar o desrespeito que escutavam.
— Deus não estava lá para me impedir, garota.
— Oh, que azar. — um sorriso malicioso se formou lentamente em meus lábios. — Não se preocupe, eu vou lhe dar um belo presente pelas coisas que fez, John.
— Quem é você?
Eu mexi meu dedo indicador, brincando com uma faísca de fogo em sua ponta. O assassino acompanhou todos os movimentos que eu fazia, e por mais que permanecesse inexpressivo, eu podia sentir o medo que ele exalava de forma involuntária. Se o mortal sentia medo observando apenas uma migalha de meu poder, nem satã poderia salvá-lo se um dia tivesse o privilégio de o ver por completo.
— Não reconhece a Rainha do inferno, humano? — perguntou Lilith, com indignação.
— Não era Lúcifer quem comandava o inferno? — ele sorriu de forma confiante, mas seu cheiro e seus dedos trêmulos ainda o entregavam. — O mundo vai entrar em delírio quando descobrirem na verdade é uma garotinha.
Bastava que eu afirmasse com a cabeça, para que minha segunda no comando acabasse com sua existência desnecessária, mas eu não permitiria esse ato de misericórdia nem morta. Me levantei, antes que Lilith chegasse até ele, e afastei-a para trás de meu braço.
— Lilith, me providencie um caixão — ordenei, me aproximando do moreno. —, e depois que enfiar esse inútil lá dentro, quero que o jogue na Costa do lamento.
A máscara inexpressiva do moreno se desfez, com ele me lançando um olhar que implorava por piedade. Depois de tudo que havia aprontado, ele estava bem longe de merecer isso. O rapaz conseguiu arranjar forças por um momento, se soltando dos guardas, e se atirando no chão, aos meus pés.
– Qualquer coisa, menos isso. — me controlei para não vomitar nele, quando sua cabeça encostou no chão, e ele agarrou minhas pernas. — Você não pode fazer isso, majestade.
Foi inevitável não gargalhar diante de tamanha hipocrisia e autopiedade humana. Eu simplesmente amava como os mortais mudavam os adjetivos depois de se sentirem ameaçados, como se isso fosse capaz de resolver algo. Eu não era uma garotinha? Lilith, também parecendo notar a mudança repentina de tratamento, riu com escárnio.
— Eu posso, e vou. — puxei-o pelos cabelos, com força, levantando seu corpo, até que ele estivesse em pé novamente. Sem pensar duas vezes, os guardas voltaram a contê-lo. — Deus não está aqui para me impedir, está? — modifiquei a frase, me deliciando em usá-la de forma irônica contra ele.
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𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 𝐝𝐨 𝐢𝐧𝐟𝐞𝐫𝐧𝐨
FantasíaO vazio achou uma brecha na vida de Sabrina no exato momento em que ela abdicou do "Spellman" em seu nome, no exato momento em que ela deixou de ser dócil e amável, no exato momento em que... Ela se tornou ela mesma. E, cuidar do inferno estava l...