ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 5

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Caliban analisava o doce em sua frente, estudando os mínimos detalhes, desconfiado com sua origem. Ele pegou-o com as pontas dos dedos, balançando no alto. Em resposta, alguns grãos de açúcar caíram no prato. Eu levantei as sobrancelhas para ele, que segurava a rosquinha como se fosse algo tóxico.

— O que diabos é isso, Sabrina? — ele fez uma careta, cheirando o doce.

Depois dele ter eliminado o meu compromisso, eu resolvi levá-lo para uma lanchonete, na intenção de tentar agradecer pelo que fez, mesmo que eu não tivesse pedido por sua ajuda, e mesmo que ele tivesse feito da forma errada. Não me custava nada tentar uma aproximação para descobrir alguma falha que interferisse em sua reivindicação pelo trono.

— Isso — eu peguei o doce de suas mãos, dando uma mordida, e o devolvendo em seguida. — é um donuts.

— Fonte de energia estranha. — ele deu uma pequena mordida na rosquinha. Não demorou muito para que desse outra, e mais outra, completamente rendido pelo sabor adocicado. — Inferno! Isso é muito bom. — o príncipe fechou os olhos, mastigando o doce de forma lenta, como se isso pudesse prolongá-lo. Seu rosto estava calmo, diferente da primeira vez que eu o vi no inferno, tentando a todo custo parecer desafiador.

  — Você sabe quebrar o pescoço de demônios com as mãos, mas não sabe o que é um donut. — eu sorri, pegando minha xícara de café e bebendo seu líquido. — Não dá pra ser perfeito, não é?

  – Esse doce é a segunda coisa mais próxima da perfeição que eu já vi.

  — E qual é a primeira coisa? — questionei casualmente, escondendo a todo custo minha curiosidade.

Suas íris verdes se focaram em meus olhos por segundos significativamente longos, enquanto o príncipe limpava os cantos de sua boca com o dedo polegar.

— A primeira coisa... — ele levou o dedo sujo de açúcar até a boca, limpando o conteúdo com a língua. Eu me movi desconfortavelmente na cadeira. — Sou eu.

Eu gargalhei de seu convencimento, como se ele tivesse acabado de me contar a piada mais épica que eu havia escutado em toda a minha vida, jogando a cabeça para trás, e colocando as mãos em minha barriga, quando começou a doer. Ele riu também, mas não tão exageradamente quanto eu.

— Ah, você é uma gracinha. — eu disse, com a voz falhada, que se recuperava da recente gargalhada.

Meu sorriso se desfez, e eu parei de escutar o que ele falava, quando meu olhar se voltou para a porta da lanchonete, onde Ambrose e Prudence entraram, com as mãos entrelaçadas, rindo um para o outro de forma descontraída. Uma leve pontada atingiu meu coração, enquanto eu via meu primo se aproximando, com sua namorada. Eles pararam ao lado de nossa mesa, com os olhares fixos em mim. Engoli seco, sabendo que era tarde de mais para que eu disfarçasse minha presença, virando o rosto.

— Nos conhecemos? — perguntou meu primo, sem piscar, enquanto tentava buscar no fundo de sua mente por lembranças. Lembranças que foram apagadas. — Você é muito familiar.

Caliban levantou as sobrancelhas, encarando o casal, e esperando por minha resposta.

— Acredito que não. — menti, tentando puxar um sotaque estrangeiro em minha voz. — Somos turistas, chegamos aqui hoje.

— É estranho ver turistas em Greendale, considerando que somos quase esquecidos pelo resto do mundo. — disse Prudence, desconfiada.

Ela parecia exatamente a mesma, usando uma maquiagem extravagante em tons de preto, com as costas erguidas, e um olhar penetrante. Eu diria sem dúvidas, que era uma das pessoas mais bonitas que eu conhecia. Se sozinha ela já era bonita, então formando um par com Ambrose, eles poderiam dominar o mundo usando apenas a beleza como arma.

— É exatamente por isso que viemos. — respondeu Caliban, percebendo meu transe. — Qual é a graça de conhecer os lugares que todas as outras pessoas já viram? Queremos experiências novas.

— Vocês estão juntos, ou são irmãos? — ela questionou, sendo abraçada na cintura por Ambrose.

— Ela é minha noiva. — ele sorriu.

Noiva.

  A palavra me atingiu sem um aviso prévio, me deixando sem fala. Eu sabia que era apenas uma encenação, mas ser sua noiva um dia realmente era uma possibilidade, e isso me assustava mais do que eu gostaria de admitir. Ambrose arregalou os olhos, desviando sua atenção de mim para Caliban algumas vezes, até que ele disse :

  — Não acredito nisso, Sabrina. — uma frase curta, mas que me deixou perplexa. Ele não podia se lembrar de mim, não quando Lilith fez um feitiço impecável em todos que eu conhecia, me apagando de sua mentes. Até mesmo Prudence ficou surpresa com a pronúncia de meu nome. Como se lá no fundo, fosse familiar.

  Eu abri a boca, mas nenhum som saiu.

  — Vamos, Freya. — Caliban mentiu, percebendo que havia algo errado. Quase não notei quando ele se levantou, estendendo sua mão para mim. — Já vimos que as pessoas daqui não batem muito bem da cabeça.

  Em outras circunstâncias, eu não teria aceitado sua mão, mas com meu primo me olhando com reconhecimento, era inevitável. Senti como se eu tivesse saído de meu corpo, enquanto Caliban me arrastava para fora da pequena lanchonete.

  Eu não sabia que sentia tanta falta de Ambrose, até ver ele, dizendo meu nome como nos velhos tempos, me olhando com uma esperança que não podia existir. A tristeza que eu trancava no fundo de minha alma se desencadeou, fazendo com que lágrimas teimosas escorressem pelo meu rosto.

  O loiro ao meu lado, puxou meu pulso, me encostando na parede mais próxima que havia perto de nós. Ele se aproximou de meu corpo, observando as lágrimas que caíam, inquieto. Tentei virar o rosto, mas ele segurou meu queixo, me fazendo olhá-lo.

  — Por que você está chorando? — ele acariciou minhas bochechas, molhando os dedos. Sua confusão estava estampada no rosto.

  Não. Exibir meus sentimentos para ele, seria como se eu deixasse minhas costas indefesas para um inimigo. Deixar que ele se aproximasse assim era uma terrível fraqueza. Eu me afastei, limpando meu rosto, e balançando a cabeça.

— Esqueça isso. — eu disse, sorrindo fraco, e começando a andar para longe.

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!NOTAS FINAIS!
Olá, gostaram do capítulo? A minha parte preferida sem dúvidas foi o Caligato se apaixonando pelo donut!

𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 𝐝𝐨 𝐢𝐧𝐟𝐞𝐫𝐧𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora