ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 10

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   Todo o desastre aconteceu tão rápido.

   Num momento, eu estava decidida a destruí-los. No outro, Caliban foi carregado por um, em direção a floresta. E Ramona estava sendo atacada por outro, em pleno voo, enquanto Maxon saltava, tentando a todo custo arrastar o anjo para a superfície.

  Então, eu me vi dividida entre ajudar meus novos parceiros, ou ir atrás do principe. A visão de Maxon conseguindo abocanhar a asa do anjo, balançando a cabeça selvagemente, e jogando-o no chão, me disse que eles iriam se virar mais do que bem.

  A última coisa que presenciei antes de correr para a floresta, foi a besta destroçando o estômago do ser angelical, com suas enormes presas.

   Depois de incontáveis tropeços, encontrei o príncipe, no centro da floresta, com um chicote aparentemente de ferro acertando suas  costas. O desgraçado que manuseava a arma era o anjo, mas diferente do outro, talvez por ser maior e mais brilhante.

   Era como se eu não estivesse controlando meu corpo, quando sai de trás de uma árvore, correndo até onde os dois estavam. Caliban, mesmo ajoelhado, e mesmo sofrendo, gargalhou ao me ver, guiando toda a atenção do ser divino para mim.

  O anjo, de cabelos pretos e olhos de ouro, enrolou o chicote na própria mão, enquanto andava até mim, com um sorriso de ingenuidade falsa.

   — Então, a rainha veio se divertir... — ele riu, sem preocupação alguma com o alvo que Caliban traçava em suas costas. — Interessante.

   — Me diga, anjo — eu sorri, retribuindo toda a sua indiferença. —, por que eu deveria poupar a sua vida aqui e agora? Se me der um bom motivo, eu posso até fechar os olhos e fingir que não vi você fugindo.

  — Sou uma criação do senhor, um imortal. É impossível que você acabe com a minha vida.

  — Oh, anjinho, não se precipite. — minha voz estava carregada de ironia. — Vamos ver se você estudou mesmo as lições de casa. Se lembra daquele belo querubim que foi corrompido?

  — Lúcifer. — afirmou, com desgosto.

  — Você pode me dizer por que ele foi corrompido?

   — Era um maldito ambicioso, com crueldade dentro de si.

   Atrás dele, o príncipe de barro se levantava lentamente, sem fazer qualquer barulho.

   — Isso é algo que tenho em comum com ele, anjo. — estalei os dedos, fazendo com que seu chicote aparecesse em minhas mãos. — Algo tão abundante em meu sangue, que poderia transferir uma grande parte para você.

   Ele se afastou alguns passos, esbarrando as asas no corpo de Caliban, enquanto seus cílios piscavam incessantemente.

  — Não toquem em mim, seus imundos. — empurrou o loiro com força, mas sem nenhum ferro em mãos, foi incapaz de afastar Caliban. — Demônios sujos e estúpidos! — o anjo gritou, com uma força surpreendente na garganta.

  O moreno abriu as asas, pronto para carregar Caliban para algum outro lugar distante. No entanto, eu fui mais rápida, enrolando o chicote em seu pescoço certamente nunca tocado antes.

  O querubim ficou imóvel, enquanto eu apertava-o cada vez mais. Queria matá-lo, mas não poderia perder a oportunidade que tinha acabado de aparecer, com ele em minhas mãos.

   — Vamos. — sorri, acariciando as madeixas escuras do ser.

  Com o caminho já traçado em minha mente, teletransportei nós três de volta para onde Ramona e Maxon nos aguardavam com o que deveria ser um cadáver, destruído.

  Os dois encararam Caliban, abismados com o sangue que escorria por suas pernas, depois repararam no que eu tinha em mãos. Um combustível.

   — Vocês mataram Gabriel. — o ser escorregou até o chão, ficando de joelhos, sem se importar com o quanto o ferro estava o apertando. — Ele... morreu. — se virou para mim, levantando a cabeça, com os olhos transbordando em lágrimas. — Me mate. Não irei resistir, só... acabe logo com isso. — minha boca abriu, mas nenhum som foi capaz de saltar para fora. — Me mate!

  Era a primeira vez que todos ficavam em silêncio, era a primeira vez que eu quase podia sentir o aperto nos corações de meus companheiros.

  Era a primeira vez em muito tempo, que eu sentia um aperto hesitante afetando o meu.


 

𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 𝐝𝐨 𝐢𝐧𝐟𝐞𝐫𝐧𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora