PRÓLOGO

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Olá..
Nessa narrativa a s/n será chamada de Mellany.
O primeiro contato que terão com a história será na percepção da Hannah e logo após à personagem principal. Será narrado completamente na visão de Mellany, expandindo os fatos relacionados (com alteração) desde o início até a grande reviravolta ao fim.
Boa leitura à todos vcs..
;)



 Há muito tempo não vinha aqui, da última vez foi há dez anos quando ainda éramos pequenas, mas depois desse trágico acidente me sinto de uma certa forma totalmente responsável, e não é algo que eu possa explicar o porquê, mas agradeço por ele ter vindo comigo, tenho certeza que não iria conseguir falar nada a eles sem a sua companhia por perto me sustentando moralmente de alguma forma. É tudo exatamente como me lembrava. Cada espaço de terreno ou pequenas lembranças me fazem ter flashes na cabeça de alguma forma das coisas boas, um passado bom que está quase sendo completamente apagado e eu não sei o que fazer mais, não sozinha pelo menos.

Me sustento firme na minha companhia e encaro tudo o que deve ser encarado neste momento. Eu poderia ter evitado, ou ter feito alguma coisa. Eu salvaria ou pelo menos tentaria salvar. Tudo isso me consome, a dor e o remorso me consomem. A tristeza dessa lembrança vem cada vez mais forte, eu não consigo mais esconder, com certeza está bem mais visível do que eu acho que esteja. As pessoas parecem estranhas e mais distantes. Eu pareço mais distante e estranha.

Sou eu, não as pessoas.

A dor, ela é a responsável. Eu sou.

Eu, somente.


***


O quarto é calmo, aparenta estar calmo, mas está se movimentando. Tem algo se movimentando, posso ver. Sinto. Não estou ficando louca. Ele diz que sim, mas não acredita no que digo. E no que isso adianta então? Eu escuto barulhos, passos. Eu escuto coisas se mexendo sendo que não sou eu quem as provocou. Minhas mãos tremem e vão em direção a cabeça. Estou vendo coisas. Não. Isso é real. Muito real. Deito na cama e fito a porta de vidro transparente que apenas reflete a escuridão do lado de fora. Meu coração está disparado.

Ele entrou..

Quero gritar para alguém, mas não consigo. Eu pedi ajuda antes, cadê? Foi há muito tempo, preciso dela agora.

SOCORRO!

É como ela dizia, do jeito que descreveu e me avisou que era real. Sempre foi real. Não é mito

Apavorante, horrível.

Me arrasta para algum lugar pelo braço, ninguém vê e ninguém sabe de nada. Devia ter avisado ou alertado a eles, meus amigos. Meu adeus. Um adeus que ninguém saberá que eu deixei se ela não aparecer. Eu preciso dela.

ELES PRECISAM.

ELES!!!



***


- 4 meses depois -


"Eu já disse tudo o que sei, não há mais nada. Essa é a verdade e eu aceitei e você deveria aceitar, senhorita."

"Você sabe porque está aqui. A dor. Sua dor. Precisa falar dela, colocar pra fora isso que te está te matando por dentro e eu sei que está, pois seu semblante não é o mesmo de antes."

"Você me conhece, já conversamos antes. Essas sessões não são de hoje, me conhece melhor que eu mesma, e sabemos disso porque você não para de anotar toda a vez que senta nessa merda de cadeira e começo a falar qualquer baboseira que você acredita ser verdade. E se fosse mentira? E se toda essa psicologia inútil fosse uma mentira? E se a mente humana fosse uma mentira e as emoções na verdade são apenas tensões de um coma inconsciente que ficamos submersos e não aceitamos realmente?

"Jogos. Você está jogando a sua própria vida, e deixe eu te falar, você está perdendo. E advinha pra quem, pra isso aí que você finge não sentir no coração."

"E fingir não é melhor que sofrer? Esquecer não é melhor que ser massacrado? Observar e fingir não ter visto não é melhor do que julgar? Você quer que eu desinterre algo já cicatrizado e extremamente em decomposição. Eu estou lutando, ok? Eu tentei, fiz de tudo. Eu gritei, chorei, solucei e quer saber? Não importa, ninguém liga. Você não é importante. Ninguém é importante para essa sociedade. Eu morri já. Eu morri e ainda estou aqui sorrindo, fingindo viver. Eu só quero gritar pra todo mundo ouvir, ou não. Eu não sei o que eu quero. Eu só quero sumir, desaparecer. Eu só quero esquecer. Tudo acabou, e você quer que eu diga? Eu digo! Culpa minha!! TOTALMENTE CULPA MINHA."

"A culpa não foi sua."

"Não? Como você sabe que não foi? Não estava lá, não viu todas as coisas que passamos juntos, não viu minha dor naquela hora que não pude fazer nada, não sentiu meu coração dilacerar por completo. Era ele, entende? Só ele! E acabou! Eu o perdi. A única coisa que amei se acabou por completo na minha frente."

"Quer me contar tudo? Como tudo isso veio a acontecer?"

"Não, não quero contar."

"Essa dor não irá embora se não me contar. Olhe para você. Que lágrimas são essas que você está derramando agora? Tristeza ou remorso?"

"Os dois."

"Deve se perdoar. Seu caminho para a recuperação estava indo muito bem até se juntar a isso tudo, e a eles principalmente. Te aconselhei para fazer o que seu coração mandava, mas não pensei que se aprofundaria a este ponto. A ponto de estar aqui comigo agora"

'Eu sei, me desculpe. Eu precisava. Eu só precisava e..."

"Do começo. Conte tudo pelo começo."

"Eu não consigo."

"Consegue. Se lembre que não é só você que precisa disso, vidas de pessoas inocentes dependem disso, e só você lembra de tudo. E só você pode acessar essas memórias aí enterradas por conta própria. Coloque para fora. Não crie mais fantasias. Os policiais dependem de uma testemunha agora e você é a única."

"E se eu não conseguir falar o que eles querem ouvir? O que você quer ouvir? Eu sei que está gravando tudo isso, e sei que dará mais tarde para eles se caso for necessário ou comprometedor o que eu disser."

"Então saberemos isso somente mais tarde, enquanto isso podemos começar desde o início. Me diga tudo o que se lembra. Cada memória, cada lembrança doloroso ou boa. Você estava lá, não é? Então se deite, feche os olhos e recorde. Como isso se principiou?"

"Eu sempre estive lá. Foi em 30 de março de 2020."                                              

Duskwood: Crime EleitoOnde histórias criam vida. Descubra agora