Lobos- O Despertar Da Lenda | Livro 02| Concluído

Capítulo 27

De mãos dadas, caminhávamos lentamente em direção às vozes alteradas que vinham da parte de trás do palácio. Eu me perguntava o que poderia ser aquilo.

Quando a multidão à frente percebeu nossa presença, foram abrindo caminho para passarmos. Quando a última fileira de lobos e panteras que rugiam e rosnavam se afastou, tivemos visão de Dante sentado no chão, com cordas de cores azul e branco em suas mãos e em seu pescoço, feitas por Harry e outros bruxos que se mantiveram de pé ao lado dele, enquanto puxavam as cordas.

"A magia de todos está de volta?"

"Por que, em vez de me causar felicidade, me deixa intrigada?"

— Já começaram a festa! — Disse Lucian, despertando-me de meus devaneios.

Olhei para ele e sorri, mas ao ver o estado de Dante, senti uma pontada de compaixão crescer em meu peito.

Romeu, Felipe, Oscar e meu pai estavam com as mãos cerradas bem próximo a ele, o que já entregava o que estava acontecendo ali. Olhei um pouco para o lado e vi Mabel. Ela estava triste e de cabeça baixa. Ergueu um pouco a cabeça para olhar em volta e, quando me viu, correu até mim.

— Oi, Aurora. — ela me abraçou. — Você está bem?- Ela parecia aflita.

— Estou... e você? — Afastei-a para olhar em seus olhos marejados. Logo ela virou-se para olhar para Dante, que já estava muito ferido.

— Digamos que estou destinada a um lobisomem com a sentença de morte assinada. Não é o melhor conto de fadas a se viver. — Ela forçou um sorriso, enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto.

Olhei para o meu lobo, e isso bastou para que ele entendesse que eu não tinha mais a intenção de torturar Dante, não totalmente por pena dele, e sim pela mulher que chorava, lágrimas amargas diante de mim. Colocar-nos no lugar do outro é fundamental, embora seja difícil lutar contra nossa própria vontade.

"E se fosse Lucian ali?"

"Provavelmente eu já teria matado um por um que o ferisse sem pensar duas vezes."

— Me acompanhem, Mabel. — Passei à frente, logo sentindo ela e  Lucian me acompanharem.

Quando me aproximei de Dante, fiz um sinal com a mão para que o soltassem e se afastassem. Não demorou para que meu pedido fosse atendido.

— Dante. — Chamei-o. Ele estava de cabeça baixa e, lentamente, foi a erguendo, até que aquele olhar de diamantes se encontrasse com o meu. Ele me encarou por um tempo, depois desviou a atenção para um certo alguém, nada intimidador, atrás de mim.

— Aurora. — Fazendo um pouco de força, Dante ficou de pé. Olhou para a lua e suspirou. Seus olhos desceram até se encontrarem com os meus novamente.

Fiquei em silêncio, observando-o. Suas roupas estavam em farrapos e cobertas de sangue, seu corpo e seu rosto profundamente machucados. Pela quantidade de ferimentos, levaria um tempo maior do que o normal até que ele se curasse totalmente.

Ele engoliu em seco, parecia escolher as melhores palavras para falar, até que de sua boca saiu:

— Me perdoe, Aurora. Fui um idiota, e sei que mereço a morte. E apesar de saber que é você que vai me matar, nem assim consigo te  odiar, até porque... eu sou o culpado! Eu que fiquei no seu rastro o tempo todo, como um imbecil, que eu sei que sou. — Ele me encarava envergonhado.

Devagar, fui me aproximando, até estar próxima a ele. Coloquei as mãos na cintura e olhei para cima, mostrando o punhal que trazia para torturá-lo e o joguei no chão, próximo aos seus pés.