Lobos- O Despertar Da Lenda | Livro 02| Concluído

Capítulo 38

Aurora...

Sentada em frente à penteadeira de madeira antiga do quarto, perdia-me nas lembranças da conversa com Lucian enquanto penteei os longos fios brancos do meu cabelo. Sentia-me mais leve depois de compartilhar cada detalhe das coisas que até então guardava em meu íntimo; era como se tivesse tirado um enorme peso da minha consciência.

"É exatamente isso."

"Eram tantas coisas que me afligiam."

"Sinceramente, custo a me entender às vezes."

Assim como eu, Lucian também ficou intrigado quando contei que um estranho me ajudara a voltar para o palácio após regressar do mundo de sombra. Ele quis saber mais a respeito, mas eu não tinha muito a dizer, pois o homem de belos cabelos negros evaporou como fumaça assim que se certificou de que eu conseguiria chegar em casa sozinha.

"Estranho... de olhos tão intensos quanto os meus."

"Sinto que aquele não foi nosso primeiro nem será nosso último encontro."

Passei muito tempo desde minha volta relembrando e analisando os traços daquele lobisomem; curiosamente, ele me lembrava tanto o meu pai.

"Por que será, né, Aurora?"

"Olhos azuis intensos, postura rígida e cabelos negros, como a noite."

Parei meus movimentos e encarei meu reflexo através do espelho.

— O que impede de voltar para casa, meu irmão? — Sussurrei, largando a escova que penteava meu cabelo sobre a penteadeira.

Um longo suspiro escapou de mim ao perceber as grandes lacunas que ainda tinha para resolver em minha vida.

"Lacunas que nem se eu quisesse me deixariam em paz."

Levantei-me de onde estava.

Tinha a intenção de descer para encontrar Lucian e o Alfa, sobre o qual ele havia comentado estar intrigado com certas atitudes dele. Confesso que estava ansiosa para conhecê-lo, só não sabia porquê e tinha a sensação de que não iria gostar de descobrir.

(...)

Aproximava-me das escadas quando senti um calafrio percorrer meu corpo e então ouvi uma voz distante falar por telepatia:

— Mate-a quando a encontrar, irmã. Ela é um perigo para as crianças e não é quem aparenta ser.

Parei imediatamente.

Olhei para o lado e vi que as portas da varanda estavam abertas, mas não foi isso que chamou minha atenção, e sim um grande lobo cinza na parte mais escura, entre as árvores. Sua feição intimidadora, a brisa que levava levemente as folhas soltas das árvores, fazia seu pelo voar, deixando em destaque alguns sinais de luta em seu rosto.

"Vicente."

Quando fiz menção de falar, ouvi um barulho, pareciam galhos se quebrando, mas eu estava dentro do palácio e o barulho vinha de trás de mim, então só me restava uma opção.

"Mabel."

Olhei de relance para ela por cima do ombro, e no pouco tempo que gastei fazendo esse movimento, o lobo simplesmente desapareceu, fazendo-me desconfiar da minha própria sanidade.

"Ele esteve mesmo aqui?"

"Talvez esteja ficando paranoica."

"Ou não."

— Minha adorada luna. — Mabel chamou minha atenção, seu cheiro era inconfundível, assim como o barulho de seu grande corpo deslizando pelo chão.