51- Uma decisão nas mãos

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Alguns milênios atrás.

Há muito tempo, Selene, a grande deusa da lua, planejava com entusiasmo sua maior criação, a quem ela consideraria como filhos saídos de seu próprio ventre: os seres sobrenaturais, capazes de se transformar em lobos quando a lua cheia surgisse.

— O que pretendes fazer é loucura, Selene. Qual a necessidade de criar seres que podem se transformar em feras terríveis? - Dizia Elos, sua irmã mais velha, demonstrando preocupação com sua supostamente repentina decisão. Mal sabia Selene que o comportamento de Elos era motivado por pura inveja de sua tamanha inteligência e favoritismo em todo o reino.

Ser amada por todos sempre fora um grande perigo, desde bem antes da criação.

— E do que adianta eu ter todo esse poder e não poder fazer nada que me agrade, minha irmã? - Selene caminhava descalça sobre o grande campo verdejante que se estendia abaixo de seu castelo flutuante. - Criar criaturas como filhos não me parece uma má ideia.

— Mas é. - Rebateu Elos. Em sua mente perversa, ela procurava uma maneira para que o plano de boas novas da irmã fosse um fiasco e sua reputação viesse a se manchar.

— Discutindo novamente, meninas? - Hélios, seu irmão do meio, tratado como um simples lacaio por não ter o sangue puro dos pais de Selene e Elos, aproximou-se ao ver a discussão das irmãs adotivas.

— Isso não é da sua conta, Hélios. Por que não vai se juntar aos criados para ter uma conversa de seu nível? - Elos lançou suas palavras venenosas.

— Nenhum dos criados é filho de deuses, como eu. Que assunto eu teria com eles? - Hélios respondeu. O jovem deus nunca aceitou as ofensas de sua irmã, pois sabia que, mesmo não sendo filho legítimo dos soberanos, não era inferior a nenhuma das duas. Hélios fora abandonado por uma das irmãs da rainha quando nasceu e desde então se tornara um dos filhos do casal que teve compaixão de sua situação.

Elos virou o rosto, pois não tinha mais o que falar.

Naquela tarde, Selene sentia-se exausta de tentar convencer sua irmã de que sua ideia era boa, mas ela já estava decidida no que faria, com ou sem o apoio de sua família. Ao saber da ideia, Hélios brincou, dizendo que a ajudaria a criar não somente seres capazes de se transformar em lobos, mas também os que se alimentavam exclusivamente de sangue e outros capazes de fazer feitiços. De longe, Elos ouvia atentamente a conversa dos irmãos, e uma ideia maldosa se alimentava em seus pensamentos.

...

A noite parecia não querer chegar, mas ela chegou. Selene estava ansiosa para realizar seu desejo; faltava pouco para terminar. Os ômegas, os betas, os alfas, as lunas e os mais fortes, chamados de supremos, foram criados.

— Venha, Hélios, está faltando a sua parte. - Selene, que flutuava tão leve e pacífica quanto uma folha, falou para o irmão que a assistia.

Seu longo cabelo seguia o movimento de seu corpo.

Hélios, com um sorriso de orelha a orelha, levitou até a altura de Selene, e ambos deram as mãos.

— Que venham criaturas do bem, entendendo seus limites e aceitando seus lugares. Nasçam os bruxos, os vampiros, as fadas, as panteras, as raposas, os lobisomens, os unicórnios, e que cada ideia de sobrenaturais em nossa mente se concretize. - Sorrindo um para o outro, Hélios e Selene demonstravam satisfação em suas criações. Foi então que Elos surgiu entre os dois.

Dela, uma luz negra emanava.

— Que de cada espécie criada saiam traidores, invejosos, assassinos com sede de poder, seres maus e cheios de ambições, capazes de qualquer coisa para conseguirem o que querem. Que os problemas reinem na vida dos mais poderosos. Que minha essência passe por todas suas gerações, causando desordens em seu mundo perfeito.

Lobos- O Despertar Da Lenda | Livro 02| Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora