Capítulo 10

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DAKOTA

Não consigo acreditar que Evangeline foi sequestrada.

O pior de tudo é que nem estão se importando. A única coisa que o meu pai fez foi dar um discurso sobre o quanto está preocupado e o quanto vai se esforçar para trazê- la de volta. Isso é tudo mentira.

Eu não sei como vou tolerar ficar aqui sem a minha irmã. Meus pensamentos são muito exaustivos. Eu nunca desabafei com ninguém. O mais perto que cheguei de desabafar foi no dia em que dormi no quarto da Evangeline.

É impossível explicar que estou rodeada de pessoas, mas nunca me senti tão solitária. A solidão é um sentimento angustiante e desesperador. É possível que eu sempre sinta solidão?

Em algum momento da minha vida, eu parei de sentir medo. Não tenho ideia de como isso aconteceu. Acho que apenas não havia bons motivos para eu sentir medo. Entretanto, agora estou assustada. Eu não quero perder a única amiga que eu já tive.

- Dakota? – escuto uma voz delicada me chamar.

- Estou aqui – respondo, parando na frente da porta do meu quarto e me virando para ver quem me chamou. – Precisa de alguma coisa?

Kiara sorriu gentilmente para mim e suspirou.

- Eu que vim perguntar isso para você – respondeu. – Como você está?

- Estou bem, eu acho.

- Imagino que deva estar preocupada com ela. Vocês eram próximas.

- Por que diz isso? – questionei.

Nunca achei que eu e a Evangeline aparentássemos ser próximas. Ela não contava muitas coisas para mim. Não queria pressioná-la. Se Eve quisesse me contar algo, seria no tempo dela. Entretanto, sei que ela não confiava em mim completamente. Não posso julgá-la, já que a realeza é um ambiente venenoso e manipulador.

- Evangeline falou coisas boas sobre você no baile em que conversei com ela – Kiara revelou.

- O que ela falou? – perguntei sem me importar em esconder a curiosidade.

- Não lembro as exatas palavras, mas ela disse que sentia que podia confiar em você.

Prendi a minha respiração, assimilando aquelas palavras. Isso me pegou desprevenida. Ela confiava em mim. Evangeline não me contava tudo, porém confiava em mim.

Muitos sentimentos me atingem e não sei o que pensar. Me sinto bem por saber que, no fundo, Eve gostava de mim. Mesmo assim, é impossível não me preocupar com o seu sequestro. E se ela nunca mais voltar? Será que perdi a única companhia que eu realmente gostava?

Sem querer, uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto. Limpo-a rapidamente com o dedo.

- Se precisar de qualquer coisa, pode me chamar – ela ofereceu.

- Eu agradeço muito, Kiara – dei um sorriso melancólico.

Eu estava caminhando lentamente pelos jardins do castelo, tentando me distrair um pouco, quando vi James andando em minha frente

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Eu estava caminhando lentamente pelos jardins do castelo, tentando me distrair um pouco, quando vi James andando em minha frente.

- Você não estava preso?! – perguntei com um tom de voz um pouco alto demais.

- Fale mais baixo – pediu, sussurrando. – O rei me libertou.

- E por que ele faria isso?

- Você deve estar ciente do meu acordo com ele, certo? – fiz que sim com a cabeça. – Agora que Evangeline foi sequestrada, não tenho utilidade.

- Não – sussurrei em negação. – Ele não pode fazer isso.

- Ele não quer me matar aqui para não criar uma grande confusão. Fui transferido para o acampamento de guerra. Serei morto lá, provavelmente.

- Fuja, vá embora daqui! – mandei. – Ainda dá tempo.

- Não posso. Dois guardas virão me acompanhar. Tenho poucos minutos.

Suspirei, passando a mão em meu cabelo.

- Você não pode ir, não pode morrer.

- Dakota...

- Você é a minha única esperança.

- De quê?

- De sobreviver aqui e encontrar minha irmã um dia – admiti. – Sem a Evangeline, eu não tenho mais nada. Oh, céus, minha vida é tão miserável que a minha esperança é depositada em um homem que traiu a confiança de minha irmã.

- Escute, sei que está doendo, mas a Evangeline está bem.

- Como você pode saber? – questionei.

- Sei que dei todos os motivos para que duvide de mim, mas eu imploro, Dakota, confie em mim uma única vez – pediu com desespero. – Preciso que entregue algo para a sua irmã.

- Nem sei se a encontrarei novamente um dia.

- Você irá – ele garantiu, entregando-me uma carta. – Quero que saiba que eu sempre amei a sua irmã. Não duvide disso nem por um maldito segundo.

As palavras de James foram tão firmes e verdadeiras que eu não ousei duvidar.

- Preciso que me prometa entregar esta carta para ela.

- Eu prometo, James.

Ele se vira para ir embora, porém voltou-se para mim novamente. De repente, sem que eu esperasse, James me abraçou.

- Sua irmã iria querer que eu fizesse isso – murmurou. – Ela também iria querer que eu dissesse para continuar lutando. Não desista, Dakota. Você terá milhares de dias difíceis, mas eu garanto que coisas melhores lhe aguardam. Não dê ao seu pai o gosto da sua desistência.

É tão difícil, quero dizer. A coisa que mais quero nesse momento é desistir. Não enxergo razão alguma para continuar lutando.

- Me prometa que não vai desistir! – insistiu, imaginando o que eu estava pensando.

- Não desistirei, eu prometo – garanti.

Ele soltou um longo suspiro de alívio e beijou minha testa. Não foi um beijo romântico. Foi como... como o carinho de um irmão, mesmo que eu não tenha um relacionamento assim com James.

E então James foi embora.

Fiquei olhando para o nada por vários minutos.
Eu acabei de deixar o amor da vida da minha irmã ir embora, mesmo sabendo que ele provavelmente morrerá em breve.

Refleti tudo o que aconteceu. O James gastou esses últimos minutos – os quais poderia ter usado para escapar – apenas para entregar uma carta para Evangeline e para garantir que eu – alguém que ele mal conhece – fique bem, somente porque sabia que minha irmã se importava comigo.

Pergunto-me se um dia alguém me amará tanto quanto James ama a minha irmã. Será que um dia alguém seria capaz de dar a vida por mim e gastar seus últimos minutos garantindo que eu saiba de seu amor por mim?

Eu apenas desejo que eu consiga encontrar a Evangeline e entregar essa carta algum dia. Tudo não pode ter sido um desperdício. A minha irmã precisa ao menos saber que foi amada por ele.

Imagino o quanto deve ser doloroso para James fazer isso. Ele encontrou o amor da sua vida e agora morrerá com a incerteza de que sua mensagem chegará. Acho que eu não conseguiria.

Agora estou ainda mais perdida aqui. Não me resta nenhuma pessoa de confiança e não tenho a mínima ideia de como encontrarei Eve. A única coisa que eu posso fazer é continuar vivendo normalmente, como se estivesse tudo bem, quando na verdade não está.

Nas histórias que nos contam quando somos crianças, a história sempre chega no fim quando todos estão felizes. Eles esquecem de contar que é impossível que alguém viva feliz para sempre. No mundo real os finais são todos miseráveis.

𝙆𝙞𝙣𝙜𝙙𝙤𝙢 𝙤𝙛 𝙃𝙤𝙥𝙚 | 𝙐𝙢𝙖 𝙧𝙚𝙫𝙤𝙡𝙪𝙘̧𝙖̃𝙤Onde histórias criam vida. Descubra agora