Capítulo 30

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DAKOTA

As coisas que Aaron disse mexeram comigo.

Eu finjo que odeio ele porque gosto dele.

Parece ridículo, mas é bem mais fácil fingir ódio do que admitir qualquer forma de amor.

Eu ainda estava muito abalada com as coisas que aconteceram no palácio. Sim, meus pensamentos ainda me sufocam.

Mas agora eu sei que vou superar.

Continuarei lutando.

Fico sem reação quando Ayla se senta ao meu lado, sorrindo.

Não tive muito contato com os amigos da minha irmã por enquanto. Pode parecer estranho, mas eu não sei conversar com as pessoas. O que eu vou falar?

- Nós ainda não tivemos a oportunidade de conversar – ela disse com gentileza.

Todos aqui não me trataram com nada além de gentileza. Com exceção do Aaron, que adora me estressar.

- Não sei como conversar com vocês – admito.

Ela fica em silêncio, me dando abertura para falar.

- Na corte, eu costumava usar máscaras. Se eu falava com alguém, decidia exatamente quais palavras usar e que expressões fazer – expliquei. – Passei tanto tempo usando máscaras que não sei mais quem eu sou.

- Não é tão difícil quanto parece. Quando estiver falando com alguém, não fale o que a pessoa quer ouvir. Fale o que você quer dizer.

Realmente parece ser fácil, mas não é.

- Me sinto uma estranha aqui – murmurei. Ela me encara, franzindo as sobrancelhas.

- Todos vocês são amigos, são família. Eu sou uma intrusa. Não me encaixo.

- Oh, querida – ela sussurrou, suspirando. – Você não precisa se encaixar. Não precisa mais se moldar em busca da aceitação de ninguém. Nós iremos te aceitar do jeito que você é.

Eu sabia que eles fariam isso. Entretanto, é difícil acreditar. As pessoas nunca me aceitaram por quem eu era. Eu sempre fui descartável. Uma peça em um jogo de tabuleiro.

Estou exausta de fingir e mentir. A partir de agora, eu vou ser verdadeira.

- Percebi que o Aaron gosta de você – Ayla afirmou, sorrindo.

- Ele já foi grosseiro comigo uma vez e o seu passatempo favorito é me irritar. Isso é gostar de alguém?! – questionei, fazendo Ayla rir.

- Ele foi grosseiro de verdade?

- Bem, ele pediu desculpa, e eu tinha sido uma idiota com ele. Mas ele me odeia.

- Ah, claro – ela disse com ironia. – E você o odeia, certo?

- Obviamente – respondi.

Nós duas rimos, porque sabíamos que eu estava mentindo. Sophie apareceu e sorriu ao ver Ayla conversando comigo.

- Está na hora do jantar – a ruiva informa.

- Já estamos indo, amor – Ayla dá um beijo nos lábios da namorada, que volta para a cozinha.

Espero que um dia eu tenha um relacionamento parecido com o delas. O jeito que elas se olham aquece o meu coração.

Pergunto-me como seria estar apaixonada. O único entendimento que eu tenho do amor vem dos livros. Os padrões dos livros são inalcançáveis, até mesmo quando esse padrão é o mínimo.

Idolatramos personagens que respeitam a mocinha e que coloca a opinião delas em primeiro lugar porque isso é raro de encontrar.

Preciso admitir que tenho uma quedinha pelos vilões. É impossível não se atrair por eles. Os vilões não pedem permissão, eles apenas pegam o que querem. Os melhores são os que tem um passado complicado, porque então nós entendemos o motivo da maldade deles.

Para ser sincera, prefiro os anti-heróis. Eles são uma mistura de mocinho com vilão. Eles pegam o que querem, sim, porém eles destruiriam o mundo pela mocinha.

Nunca encontrarei ninguém que destruiria o mundo por mim e não aceito menos do que isso, então continuarei sonhando com os meus personagens. Posso ser solteira na vida real, mas sou casada com milhares de personagens em realidades diferentes.

 Posso ser solteira na vida real, mas sou casada com milhares de personagens em realidades diferentes

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Sentei-me na mesa, sentindo o cheiro de duas pizzas enormes na minha frente. Aaron estava do meu lado direito e havia uma garotinha do meu lado esquerdo, provavelmente a irmã de Nathan.

- Nunca comi pizza – comentei, colocando uma fatia no meu prato.

- E como você vive?! – Nathan questiona, nos fazendo rir.

O jeito que a minha irmã olha para ele é um pouco parecido com o jeito que ela olhava para James, porém é um pouco diferente. Tem carinho em seus olhos, mas também tem admiração.

Peguei a pizza com a mão, mesmo que eu estivesse acostumada a comer apenas com talheres. Dei uma mordida, apreciando o gosto em minha boca.

Uau, isso é muito bom.

Aaron sorriu com a minha cara de surpresa e satisfação.

- Como eu vivia antes de comer isso? – eu disse, arrancando uma gargalhada de todos.

- Como você está? – Aaron perguntou, sussurrando para que apenas eu ouvisse.

- Pensei que tínhamos concordado em continuar nos odiando – eu o lembrei, sorrindo.

- Eu ainda te odeio, mas te odiar quando você não está bem não é nem um pouco divertido.

Parei por alguns segundos para apreciar a beleza de Aaron.

Sua voz é completamente sedutora e os seus olhos acinzentados são hipnóticos. Seu cabelo preto apenas aumenta o charme.

Porra, ele parece um personagem de livro.

- Estou bem, Aaron – falei sinceramente. – De verdade.

Naquele jantar, não falamos sobre planos ou sobre qualquer coisa que envolvesse a revolução. Apenas conversamos, rimos e agimos como... uma família.

E eu renascerei das cinzas.
Todos nós renasceremos.

𝙆𝙞𝙣𝙜𝙙𝙤𝙢 𝙤𝙛 𝙃𝙤𝙥𝙚 | 𝙐𝙢𝙖 𝙧𝙚𝙫𝙤𝙡𝙪𝙘̧𝙖̃𝙤Onde histórias criam vida. Descubra agora