Capítulo 1

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EVANGELINE

Ser princesa é uma merda. Possui suas vantagens, mas ainda assim é uma merda. Todos os dias eu amaldiçoo a Terceira Guerra Mundial. Foi por culpa dela que minha família ganhou o poder em New Kingdom.

Eu sei o que está pensando: New Kingdom é um nome banal e idiota. Bem, então volte no tempo e avise isso aos meus antepassados burros.

Agora eu estou nesse castelo (que deveria se chamar inferno) e sendo obrigada a fingir ser perfeita.

"Levante a cabeça", "mantenha a postura", "sorria", "seja fofa, educada e agradável". Lembro-me da única vez em que chorei em público. É impossível esquecer, já que foi no dia em que minha mãe foi morta. Eu tinha apenas 17 anos e eu pai ordenou aos guardas que me dessem trinta chibatadas.

Naquele dia, James me acompanhou até o meu quarto e me ajudou a limpar as feridas. Ele fez os meus curativos, me abraçou e me deixou chorar. Ele é o único em quem confio nesse castelo.

Depois daquilo, aprendi que tenho que fingir ser alguém que eu não sou. É a única forma de uma garota de 19 anos sobreviver nesse lugar.

- Tente não se atrasar hoje à noite – minha irmã Dakota diz calmamente.

- E use uma maquiagem para tentar esconder... bem, isso – Kimberly aponta para o meu rosto.

Minha irmã mais velha sempre teve preconceito comigo. Dakota e Kimberly são minhas irmãs por parte de pai. Eu sou apenas uma filha bastarda que ele teve com uma camponesa negra. Quando minha mãe não servia mais, teve sua cabeça arrancada. É assim que as coisas funcionam.

Todos sabem quem minha mãe era e quem eu sou, meu pai não fez questão de esconder isso porque ele queria fingir ser uma boa pessoa. "Ah, ele acolheu uma filha bastarda que, além de tudo, é negra. Uau, que bom coração.", é o que ele quer que pensem. Ele é o pior rei que esse reino já teve.

- Kimberly! – Dakota a repreendeu pelo seu comentário ofensivo.

- Sou sua irmã mais velha, é o meu dever ser sincera para o próprio bem dela.

- Ser uma vadia de mal caráter está incluso no fato de ser irmã mais velha ou você fez algum curso, Kimberly? – debochei.

- Você... você não pode falar essas coisas para mim! - ela soava como uma criança mimada.

- Eu claramente posso, já que as palavras acabaram de sair na minha boca. Além de uma vadia, você é surda?

Minha irmã mais nova fica boquiaberta enquanto Kimberly obviamente controla-se para não me bater.

- Eu vou contar para o papai! – gritou.

Odeio admitir que essas palavras me deixaram assustada, mas já estou acostumada com a dor. Não vou recuar por causa de uma ameaça boa.

- Pode contar, querida. Seu pai vai amar saber que você interrompeu as merdas dele por literalmente nada – digo com ironia.

Ficando sem resposta para me dar, Kimberly apenas bate os pés e sai da sala com revolta.

- Você realmente não tem medo de brincar com fogo – Dakota afirmou.

- Acredite ou não, Kimberly é uma das coisas mais fáceis que preciso enfrentar diariamente.

- Não quero imaginar quais são as outras coisas.

- Não, não quer – concordei.

Dakota é muito inocente para ler as entrelinhas em minha fala, mas é uma afirmação muito reveladora, na verdade.

𝙆𝙞𝙣𝙜𝙙𝙤𝙢 𝙤𝙛 𝙃𝙤𝙥𝙚 | 𝙐𝙢𝙖 𝙧𝙚𝙫𝙤𝙡𝙪𝙘̧𝙖̃𝙤Onde histórias criam vida. Descubra agora