Capítulo 9

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ISAAC 

Culpa. Se eu precisasse de uma única palavra para descrever o sentimento que essa missão me trouxe seria culpa.

Eve é como uma irmã para mim. Ela convenceu todos a me ajudar e agora ela está machucada por minha causa, porque eu fui burro o suficiente para acreditar que alguém me amava, que alguém estava disposto a lutar por mim e permanecer ao meu lado. Agora tenho a certeza de que nunca haverá alguém que se apaixone por mim e até prefiro assim, pois a pessoa não se machucará como Eve se machucou.

Observo Evangeline deitada na cama enquanto o barco se move. Estamos no meio da madrugada e eu não consigo dormir. Não enquanto não sei se Eve acordará novamente.

Sinto um toque em meu braço e me assusto, vendo que Ayla havia entrado no quarto. Minha mente estava desligada, sem processar o que acontecia ao meu redor.

Ela me encarou com um tipo de tristeza no olhar. Não com pena. Ayla já passou por coisas demais na vida para saber que a última coisa que deve sentir é pena.

— Não é culpa sua — Ayla afirmou com uma suavidade que eu seria capaz de suportar apenas vindo dela, pois nesse momento eu mandaria todos embora, mas nunca ela. Nunca a minha melhor amiga.

— Você sempre tem que saber tudo que eu sinto, sua espertinha? — questionei como uma brincadeira, porém meu rosto permaneceu sério, tenso.

— Eu não seria sua melhor amiga se não soubesse — argumentou com um sorriso triste. — Falo sério, Isaac, você não fez nada errado.

— Se eu não tivesse pedido à todos para ajudar aquele traidor, Eve não estaria nessa cama com risco de morte. Ela foi a primeira a me apoiar e agora está sofrendo as consequências. 

— Você não sabia quem ele realmente era — Ayla disse. — Você estava apaixonado e não conseguiu enxergar. Sinto muito que a primeira vez que você amou alguém tenha sido assim.

— Não foi a primeira vez — murmurei, encarando o chão. Ela olhou confusa para mim e eu acrescentei: — Não quero falar sobre isso.

— Tudo bem — foi só o que falou.

Era por isso que a nossa amizade funcionava. Nós sabíamos o limite um do outro.

— Queria ter o que você e Sophie têm — admiti. — Um cara que tivesse os mesmos princípios que eu e me amasse independentemente de todas as minhas facetas, por mais obscuras que sejam.

— Isso é algo que se constrói, Isaac. Eu demorei muito para mostrar quem eu realmente sou. Requer confiança. Você encontrará isso quando menos esperar.

Eu sabia que ela estava certa. Se ficássemos procurando alguém, somente nos frustraríamos, porque isso significa que não estamos bem com nós mesmos, que existe um vazio a ser preenchido dentro de nós. Esse vazio não pode ser preenchido por uma pessoa.  Se tentássemos, machucaríamos alguém. A pessoa estaria ali apenas para preencher um buraco. Foi o que fizeram comigo e eu nunca farei com outro ser vivo.

Quando a pessoa que vamos amar aparece, nós mesmos criamos um lugar para ela ser algo a somar em nossas vidas, porém nunca algo no qual nos apoiaremos como um encosto.

-- Eu só... estou cansado -- sussurrei.

Não um cansaço físico. Estava mentalmente exausto. Exausto de tentar e nunca ser suficiente, de sempre acabar machucando alguém.

-- Eu sei -- Ayla afirmou.

E ela sabia mais do que qualquer um.

***

𝙆𝙞𝙣𝙜𝙙𝙤𝙢 𝙤𝙛 𝙃𝙤𝙥𝙚 | 𝙐𝙢𝙖 𝙧𝙚𝙫𝙤𝙡𝙪𝙘̧𝙖̃𝙤Onde histórias criam vida. Descubra agora