- Você ainda vem aqui, meu filho? - disse uma voz bem atrás de uma frondosa árvore.
- Ainda usa de alusões, meu Pai? - respondeu outra voz, porém, esta parecia indiscutivelmente fria.
Era uma noite fria, porém, enluarada. Pequenos casebres emanavam uma luminosidade fraca ao longe daquele gigantesco morro rochoso. O jovem de cabelos negros e rosto perfeito de Anjo, virou-se para fixar um olhar cauteloso à árvore.
- O senhor não deveria andar por aqui com esse tipo de traje. Smoking não faz parte da vestimenta do século XVI.
O homem riu. Seu rosto de mármore polido fitou o garoto que deveria ter seus quase dezoito anos. Ambos eram tão parecidos que quem os visse diriam ser pai e filho.
- E você acha que eu vou me vestir como você, meu filho? Você não envergonha só a nossa raça, vestido assim, envergonha a mim também. Você é um Príncipe...
- Não sou um Príncipe. O senhor que é - o garoto saiu de cima da pedra onde estava e caminhou alguns passos à frente. - Estas roupas remendadas me fazem sentir como um deles...
- Mas você não é, Gustav - rosnou o homem. Seus olhos negros confundiam-se com a noite. Ele alisou a barba rala por alguns segundos, demonstrando indignação. - Você nunca será um deles, porque você não nasceu como eles nasceram.
- Eu sei, não é preciso o senhor me lembrar disso - rebateu Gustav. Ele se olhou dos pés à cabeça. Sua roupa nada mais era do que uma calça feita de linho, uma camiseta de manga longa e uma botina surrada. - E não me chame de Gustav. Para eles eu sou Pedro.
- Você se parece a um camponês, vestido desse jeito - disse o homem, aproximando-se devagar de Gustav. - E não me diga que escolheu esse nome por causa daquele Apóstolo medíocre a quem você tem uma certa adoração?
Gustav não respondeu, então o homem prosseguiu:
- Você é uma afronta para todos nós...
- Você foi banido dos Céus pelo Criador. Quis ocupar o lugar Dele. Quis ser igual a Ele. O que mais é vergonhoso? Eu ser diferente de você, ou você ter sido expulso e achincalhado por todos como um Grande Traidor?
- Não fale assim com o seu Pai. Eu lhe dei a vida Gustav; posso tirá-la se eu quiser. Mas nunca farei isso, pois você é a única coisa a quem verdadeiramente...
- É muito difícil sair de sua boca a palavra amor, não é mesmo?
- Na verdade, não. Muitas acham que sou horrível, sem amor, sem compaixão. Transformaram-me num monstro durante milênios. Mas como esquecer de que eu fui o Anjo mais belo de todos? Se Ele é puro amor, então acho que Ele pôs amor nos seus, não concorda, filho?
Gustav meu a cabeça.
- Olhe para mim - Gustav voltou-se para seu pai. - Não quero vê-lo mais aqui. Tenho uma missão para você.
- Missão? - perguntou o garoto, espantado. O homem afagou os cabelos do filho, que se desvencilhou para o lado.
- Sim, preciso que você vá para a Europa, porém, séculos mais adiante. Não quero que retorne mais para o passado. Isso aqui está te deixando muito mal. Este lugar, chamado de Brasil, ainda é uma terra de bárbaros e pouco habitada. Quero que frequente lugares refinados que lhe farão bem. Lá, será muito bom para você, disso eu tenho certeza.
Gustav baixou a cabeça.
- Não quero que fique magoado comigo por querer o seu bem. Mas este lugar, ao qual todos chamarão de Rio de Janeiro, ainda não está a sua altura. Além do mais, estamos pisando em um local que para eles é santificado e ao qual não me agrada muito.
A grande baía cintilava ao longe, como um grande espelho.
- Sinto a presença do Filho do Criador neste lugar - desdenhou o homem. Ele estendeu a mão e, então, disse: - Venha, meu filho.
Gustav estendeu a mão também. Repentinamente, ele estava com vestes novas e modernas. Logo, os dois desapareceram do cume daquele morro.
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Enviada - Série Eternos
Ficção AdolescenteSinopse de Enviada - Série Eternos Tudo havia se tornado turvo em minha mente. Talvez fosse mais um dos meus sonhos esquisitos. Porém, não era. Frederik perdera suas asas. Meu Anjo se fora para talvez nunca mais voltar. Eu precisava me convencer que...