Pus em ordem todo o meu cérebro. "Dimitri era um Anjo... Mas Gustav também era", disse para mim mesma, encarando-os na sala de aula. "Como saber quem é o Bom e quem é o Mau, se até mesmo um lobo pode se esconder em pele de cordeiro?
Dedilhei o livro por sobre minha agenda.
Quando cheguei ao colégio, eu já havia terminado de ler o livro de título surpreendente. Eu quis saber mais sobre Anjos. Era o meu dever, já que dois deles estavam perto de mim e eu não sabia o que eles queriam de verdade. Havia uma boa possibilidade de Dimitri ser mesmo um Anjo da Guarda, enviado do Céu para me proteger, mas havia também um Demônio, que era Gustav. Não queria acreditar nessa possibilidade. Não queria mesmo.
Minha voz tinha que soar convincente quando eu falasse com Dimitri e Gustav. Encarei Dimitri atrás de mim com atenção; ele ainda parecia chateado comigo, mas quando virei o rosto para Gustav, ele me encarava com aqueles olhos negros e indecifráveis. Uma fileira de dentes a mostra como se fossem me devorar a qualquer momento naquela sala de aula.
Eu queria ficar distante daquele garoto. Mas era inevitável. Quando mais eu o mandava se afastar de mim, indiretamente mais eu o desejava. Queria que ele ficasse perto de mim para sempre, mas era até um sacrilégio pensar nisso; apaixonada por um Demônio. Porém, também dividida entre um Anjo, cujo propósito é zelar por minha vida. Ou era assim que eu pensava. Mas tudo tomou um rumo diferente quando escrevi um bilhete endereçado a Gustav. Entrei sorrateiramente na sala e o deixei dentro de um dos bolsos de sua mochila. Esperava que ele o lesse somente quando saíssemos do colégio, já que eu não suportaria que ele olhasse para mim mais uma vez.
Disparei para casa. Assim que subi alguns degraus da escada em direção ao meu quarto, o telefone tocou. Corri para atender do meu quarto, mas o telefone parou de tocar. Desmaiei em cima da cama, jogada de qualquer jeito. Horas depois, eu acordei desesperada; havia mais de cinco ligações de Dimitri no meu celular. Retornei as ligações. Disfarçando minha voz.
- Sim? – cambaleei até minha escrivaninha com as calças nos joelhos. Agarrei o celular rapidamente e ouvi apenas sussurros do outro lado da linha. Eu não sabia se Dimitri tinha mãe, ele pouco me contava sobre a sua vida. Bem, eu nunca me importei com isso, até agora. Eu não sabia como ele se sustentava, nem onde morava. E a respeito do colégio, ele me dissera que havia ganhado uma bolsa de estudos.
- Dimitri... Quero sair – eu sabia que ele não objetaria, já que ele fazia todas as minhas vontades.
Dimitri ficou mudo por alguns breves segundos.
- Onde você quer me encontrar?
- Na Vista Chinesa – disse-lhe. – Agora são quase quatro horas. Daqui a meia-hora chego lá.
Não deixei que ele mudasse de assunto. Mandei um beijo e desliguei o celular antes de ele dizer alguma coisa.
Tum, Tum, Tum.
O ronco barulhento da moto de Gustav ressoou pela pista úmida. Eu estava parada no mirante, olhando a vista maravilhosa do Rio de Janeiro. O crepúsculo manchava de amareloavermelhado todo o horizonte. Virei o corpo. Ele estava apoiado de costas na sua Kawasaki, indiscutivelmente maravilhoso com uma jaqueta de couro. Seus cabelos negros jogados desajeitadamente por cima da testa o fez parecer um astro de Hollywood. Eu sorri para ele. Como eu não poderia fazê-lo diante de tanta beleza?
Uma chuva fina começou a cair. Nos abrigamos debaixo do pagode. A vegetação densa e fantasmagórica obscurecia toda a Vista Chinesa, no Alto da Boa Vista. E as árvores altas e imponentes abraçavam toda a estrada que jazia solitária e serpenteada. Olhei para meu relógio. Quase 17h30min. Dimitri estava atrasado. Ele não viria. Se ele fosse mesmo um Anjo, ele sabia das minhas reais intenções.
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Enviada - Série Eternos
Teen FictionSinopse de Enviada - Série Eternos Tudo havia se tornado turvo em minha mente. Talvez fosse mais um dos meus sonhos esquisitos. Porém, não era. Frederik perdera suas asas. Meu Anjo se fora para talvez nunca mais voltar. Eu precisava me convencer que...