CAPÍTULO V - UM PACTO SELADO

172 4 0
                                    


- Eu sempre estarei com você minha amada – disse-me Frederik, andando ao meu lado num corredor longo e estreito, com enormes palmeiras antigas ladeando-nos.

- Só nas minhas lembranças – eu disse, sem encará-lo nos olhos.

- A menos que você queria – ele me fez parar de súbito. Olhou bem no fundo dos meus olhos e sustentou meu queixo com os dedos.

- Eu nunca mais vou conseguir te beijar, sentir seu cheiro... te tocar...

- Sei que sou agora apenas uma lembrança para você, Anjo – sussurrou Frederik. Eu não tinha coragem de olhar mais para o seu rosto de querubim. – Procure apenas lembrar de mim... que isso bastará... Agora preciso ir, tenho que ver os meus pais...

Frederik me deu as costas. Fiquei imóvel, vendo-o se distanciar de mim.

- E seus assassinos, você me ajudará contra eles?

- Sim. – foi à única coisa que pude entender.

Estava escuro agora. Minhas pálpebras juntas, coladas umas com as outras. Conforme eu voltava a si, ao meu mundo real, ouvia as vozes de mamãe e papai. Abri os olhos. Vi que mamãe se levantou da poltrona rapidamente e papai deu um giro para me encarar.

- Onde estou?

- Em casa, querida – a mão de mamãe estava enfaixada. Mas rapidamente desviei meu olhar das ataduras. – Você precisa descansar.

- Meu quarto – Lamentei. Passei as mãos na minha testa; havia um grande curativo acima da minha sobrancelha esquerda.

- Seus cabelos ficaram ótimos... – disse mamãe.

Com esforço virei o rosto. Meus cabelos, que chegavam até os meus seios, não existiam mais. Estavam curtinhos como os havia visto na frente do espelho.

- Há quanto tempo eu estou aqui?

- Você ficou desacordada por mais de trinta e cinco horas. Seu pai achou que estivesse em coma, ou entrado em algum tipo de transe, então chamou o médico novamente para ver se era preciso uma internação – interrompeu-me mamãe, sentada na cama, aninhando-me. – Mas ele disse apenas que você precisava descansar. Apenas descansar.

- Vocês têm alguma notícia de Frederik? – esperava uma resposta ansiosamente.

- Ele será enterrado hoje às 17h30min – disse papai. – Lúcia nos ligou avisando... Mas lhe dissemos que você não estava em condições de ir. Então nós iremos no seu lugar para dar os pêsames à família.

- O que mais? Como Lúcia está?

- Foi Lúcia quem avisou a um grupo de policiais que vira o primo em um Mustang 1964. Frederik não conseguiu frear o carro desgovernado – continuou papai. Eu o fitava sem dizer nenhuma palavra. – Estava embriagado quando invadiu o Rathaus Park.

Pelo contrário, Lúcia estava comigo no Rathaus Park, ela viu o primo morto, mas não como havia morrido. Viu um dos seus agressores, pois o outro tinha ido embora, ou foi assim que eu achei, quando constatei - após minutos - que ele estava fazendo papai e mamãe de reféns.

- O carro colidiu contra duas figueiras centenárias... O laudo da perícia sairá daqui um mês para ver se houve alguma falha nos freios do carro. Bem, o que eu sei é que Frederik estava sem o cinto de segurança. O pobre ficou preso em meio às ferragens... – completou mamãe, limpando os olhos. – Lamento pela perda, querida. Frederik era apenas uma criança...

Enviada - Série EternosOnde histórias criam vida. Descubra agora