- Eu sempre estarei com você minha amada – disse-me Frederik, andando ao meu lado num corredor longo e estreito, com enormes palmeiras antigas ladeando-nos.
- Só nas minhas lembranças – eu disse, sem encará-lo nos olhos.
- A menos que você queria – ele me fez parar de súbito. Olhou bem no fundo dos meus olhos e sustentou meu queixo com os dedos.
- Eu nunca mais vou conseguir te beijar, sentir seu cheiro... te tocar...
- Sei que sou agora apenas uma lembrança para você, Anjo – sussurrou Frederik. Eu não tinha coragem de olhar mais para o seu rosto de querubim. – Procure apenas lembrar de mim... que isso bastará... Agora preciso ir, tenho que ver os meus pais...
Frederik me deu as costas. Fiquei imóvel, vendo-o se distanciar de mim.
- E seus assassinos, você me ajudará contra eles?
- Sim. – foi à única coisa que pude entender.
Estava escuro agora. Minhas pálpebras juntas, coladas umas com as outras. Conforme eu voltava a si, ao meu mundo real, ouvia as vozes de mamãe e papai. Abri os olhos. Vi que mamãe se levantou da poltrona rapidamente e papai deu um giro para me encarar.
- Onde estou?
- Em casa, querida – a mão de mamãe estava enfaixada. Mas rapidamente desviei meu olhar das ataduras. – Você precisa descansar.
- Meu quarto – Lamentei. Passei as mãos na minha testa; havia um grande curativo acima da minha sobrancelha esquerda.
- Seus cabelos ficaram ótimos... – disse mamãe.
Com esforço virei o rosto. Meus cabelos, que chegavam até os meus seios, não existiam mais. Estavam curtinhos como os havia visto na frente do espelho.
- Há quanto tempo eu estou aqui?
- Você ficou desacordada por mais de trinta e cinco horas. Seu pai achou que estivesse em coma, ou entrado em algum tipo de transe, então chamou o médico novamente para ver se era preciso uma internação – interrompeu-me mamãe, sentada na cama, aninhando-me. – Mas ele disse apenas que você precisava descansar. Apenas descansar.
- Vocês têm alguma notícia de Frederik? – esperava uma resposta ansiosamente.
- Ele será enterrado hoje às 17h30min – disse papai. – Lúcia nos ligou avisando... Mas lhe dissemos que você não estava em condições de ir. Então nós iremos no seu lugar para dar os pêsames à família.
- O que mais? Como Lúcia está?
- Foi Lúcia quem avisou a um grupo de policiais que vira o primo em um Mustang 1964. Frederik não conseguiu frear o carro desgovernado – continuou papai. Eu o fitava sem dizer nenhuma palavra. – Estava embriagado quando invadiu o Rathaus Park.
Pelo contrário, Lúcia estava comigo no Rathaus Park, ela viu o primo morto, mas não como havia morrido. Viu um dos seus agressores, pois o outro tinha ido embora, ou foi assim que eu achei, quando constatei - após minutos - que ele estava fazendo papai e mamãe de reféns.
- O carro colidiu contra duas figueiras centenárias... O laudo da perícia sairá daqui um mês para ver se houve alguma falha nos freios do carro. Bem, o que eu sei é que Frederik estava sem o cinto de segurança. O pobre ficou preso em meio às ferragens... – completou mamãe, limpando os olhos. – Lamento pela perda, querida. Frederik era apenas uma criança...
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Enviada - Série Eternos
Teen FictionSinopse de Enviada - Série Eternos Tudo havia se tornado turvo em minha mente. Talvez fosse mais um dos meus sonhos esquisitos. Porém, não era. Frederik perdera suas asas. Meu Anjo se fora para talvez nunca mais voltar. Eu precisava me convencer que...