Papai comprara uma casa magnífica no bairro do Jardim Botânico. Era toda feita de ladrilhos com alguns revestimentos de madeira. Eu conseguia respirar um ar tão puro quanto nos parques de Viena por causa da Floresta da Tijuca que ladeava todas as mediações da casa, e eu tinha ao meu lado, uma estátua maravilhosa, chamada por todos de Cristo Redentor.
No meu primeiro dia de aula, no Colégio São Judas, em Botafogo, todos começaram a me encarar sorrateiramente, como se eu fosse de outro planeta. Cochichavam tão baixinho que mal podia ouvir. A Prof.ª de História, Alexandra, fizera comigo o que fez com mais duas alunas novas; nos apresentou à turma.
Em Viena, eu costumava me sentar com Lúcia sempre nas primeiras carteiras, para evitarmos comentários maldosos de colegas que mais pareciam chacais prestes a nos devorar vivas. Agora não seria diferente.
- Mais uma tímida e esquisita garota entra para o São Judas – comentou do fundo uma garota extremamente sorridente, porém, maquiavélica. Eu a encarei nos olhos . Eu sabia que aquela garota loura se dirigia a mim, pois pude ver seus olhos vidrados de cima a baixo em minha direção. – Eu não sei por que só admitem pessoas caretas aqui neste colégio? Ainda disse a papai que queria ir para o São Magno, mas...
- Silêncio, Amanda Amorim – ralhou a professora por cima dos seus oclinhos de meia-lua. Aparentemente, vi seus cabelos tomarem um brilho chocante quando falou. – Para sua informação, ela é uma garota normal como todas. Se você quer dizer que no São Judas só estudam "anormais", então posso incluí-la na trupe também?
Todos na sala riram.
- Falarei com papai a respeito dessa professorinha – sussurrou Amanda, bem baixinho. Amanda estava distraída quando a Prof.ª Alexandra se aproximou dela. Com os olhos esbugalhados e a raiva à flor da pele, ela pigarreou:
- Não me importa o quanto dinheiro o seu pai tenha. Eu não tenho medo dele – ela virou as costas para Amanda e se aproximou de mim e das duas outras alunas novas. –, e nem do que ele possa fazer comigo. Na minha turma mando eu, ouviu?
A Prof.ª Alexandra virou-se para a turma com um sorriso estonteante.
- O segundo ano do ensino médio não será tão fácil assim, alunos. Eu mesma reprovei no mesmo quando tinha a idade de vocês. Pois bem, de onde vocês vieram?
Que idiotice a minha. Já ia abrir a minha boca para dizer o que não devia. Pensei duas vezes antes de responder, depois de gaguejar inúmeras vezes, sem olhar para os alunos que nos encaravam, curiosos.
- Ah, qual é. Ela nem sabe de onde veio, professora – riu um garoto de cabelos arrepiados e um rosto que dizia: problemas. Mal pude escutar o que ele acabara de dizer.
- Richard Ebner, calado, querido. Você falando é como um sino badalando sem parar... Chega a ser irritante – disse a professora, apontando uma carteira para mim. Seus olhos cor de violeta dispararam em minha direção. – Se ela não quer responder é de todo o seu direito. Angela, Luciana e Beatriz são suas novas colegas de classe, e espero que elas sejam tratadas como todas as demais. Com igualdade, e não com indiferença. – agora os olhos cor de violeta se dirigiram a garota loura e bonita: Amanda!
Quarenta minutos após ininterrupta conversa, o sinal do intervalo tocou. Eu puxava o zíper da minha mochila quando um garoto extremamente eufórico – para não dizer desastrado – tentou me ajudar quando meu estojo caiu no chão. Bati a minha cabeça contra a dele quando abaixei o corpo para pegá-lo.
- Não ligue para ela. São extremamente hostis à primeira vista, mas você aprende a lidar com todos aqui... – o garoto de óculos de aros redondos e com cara de CDF, porém, belo, estendeu a mão para mim. – Sou Dimitri.
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Enviada - Série Eternos
Teen FictionSinopse de Enviada - Série Eternos Tudo havia se tornado turvo em minha mente. Talvez fosse mais um dos meus sonhos esquisitos. Porém, não era. Frederik perdera suas asas. Meu Anjo se fora para talvez nunca mais voltar. Eu precisava me convencer que...