CAPÍTULO II - ENVIADA

169 6 1
                                    


- Como está meu amor e nosso bebê? - Disse um homem alto e bem aparentado, com seus quase trinta anos de idade. Os olhos verde-esmeralda brilharam ao aguardar a reação da esposa sobre a cama. Largou sua pasta em cima de uma poltrona e sorriu ainda mais para ela.

- Tive novamente outro pesadelo! - Disse a esposa, deitada sobre uma cama bem acolchoada e quente. Tinha por volta dos seus vinte e quatro anos, e era tão bela quanto uma ninfa dos bosques, com seu rosto delicado e longos cabelos castanhos da cor de seus olhos.

Sua barriga imensa dava sinais de que o bebê não tardaria em chegar ao mundo. O casal se beijou.

- Hugo, não quero ficar mais neste lugar. Precisamos ir embora do Rio de Janeiro - vociferou a mulher, fazendo cara de dor. - Quero que me prometa que iremos embora assim que Angela nascer? Prometa-me!

- Maria, meu amor - começou novamente o homem, sentando-se ao lado da mulher. Afagou sua barriga, fazendo-lhe carinhos. -, os seus pesadelos não devem interferir na nossa vida. São só pesadelos.

- Não, Hugo! - gritou Maria, nervosa. - Há pessoas querendo o mal de Angela. Eu posso sentir. Homens estranhos me perseguem durante os sonhos, à procura de Angela. Ouça-me, precisamos fugir.

- Tomou seu calmante? - disse Hugo, preocupado.

- Você não acredita em mim, não é mesmo? - Maria deu um tapa na mão do marido. O frasco com os calmantes caíram no chão. - Insiste em me tratar como seu eu fosse uma louca!

- Eu só quero que fique bem, só isso, meu amor! - ele beijou a sua testa. - Talvez fosse melhor contratar uma enfermeira para ajudá-la quando eu não estiver. Celeste lhe dá alguma assistência, mas ela só é uma diarista. Não está aqui vinte e quatro horas por dia... O que acha?

- Sempre me virei sozinha. Não preciso de ninguém - Maria estava irritada com a insistência do marido. Ele não ousou dizer mais nada. - Só quero esperar o nascimento de Angela... Nós temos que sair desta cidade o quanto antes.

- E para onde você quer ir?

- Para qualquer lugar seguro longe desta cidade - replicou a mulher, alisando sua barriga. - Eu não quero que a nossa filha sofra alguma coisa.

Hugo baixou a cabeça. Não sabia o que estava acontecendo com a mulher. Talvez estivesse ficando louca, ou seria apenas algum tipo de fobia ou acesso?

Hugo passou a trabalhar em casa durante os últimos meses de gestação da mulher. Ela sentia-se um pouco mais segura tendo a sua companhia, mas de uns tempos para cá, ela adquirira o hábito de trancar todas as portas e janelas. E foi numa manhã de domingo de outono, do dia dez de maio, há dezesseis anos que Maria Millvina começou a sentir fortes contrações no pé da barriga. Ela gritou o nome do marido, do quarto. Gritou novamente, ao que todo o apartamento parecia ter estremecido.

Hugo largou a papelada por cima de seu notebook e levantou-se da cadeira do seu pequeno escritório improvisado, ao lado da lavanderia.

- Precisamos ir - disse a mulher, segurando a parte inferior da barriga e mal podendo se manter ereta. - As coisas já estão no carro?

Ele assentiu, segurando a mulher desajeitadamente para não machucá-la.

Maria abriu os olhos devagar: um forte clarão a cegava. Ela não tinha dúvidas de que já estava na sala de parto. Olhou para o lado e viu enfermeiros correndo de um lado para o outro e afagando sua cabeça estava Hugo, seu marido, a postos como um grande Anjo guardião.

- Prometa-me que você não sairá de perto da Angela, querido? - disse Maria, aflita. - Prometa-me?

- Prometo! - prometeu-lhe o marido através da máscara cirúrgica. - Agora fique calma. Eu estou aqui!

- Eu o amo muito - Maria tentou sorrir, mas não conseguiu.

Enviada - Série EternosOnde histórias criam vida. Descubra agora