Na terça, cheguei bem cedo no colégio. Dimitri chegou de bicicleta... Passou por mim sem me olhar. Estava com um Ray Ban preto, escondendo alguma coisa no olho esquerdo.
- Dimitri, Dimitri! – Chamei. Ele não queria falar comigo ainda. – O que aconteceu?
- Não é da sua conta – disse com raiva, passando por mim. Parei, absorta, diante dos portões de entrada do colégio, vendo-o se distanciar ainda mais.
Passamos inúmeros dias sem nos falarmos. Dava vontade de ao menos dizer-lhe um Oi, mas se nenhum dos dois torcia o braço, não haveria o porquê d'eu falar alguma coisa a ele. E olha que já era final de junho.
Pus uma blusa xadrez, minha calça jeans surrada e meu All Star. Estava pronta. Olhei-me pela última vez no espelho.
A campainha tocou uma vez. Olhei para a rosa roxa que Gustav me dera naquela manhã de sábado para me levar a minha primeira aula de direção, dentro de um vasinho que estava em cima do criado-mudo, ao lado da minha cama. Estava intacta ainda.
- Angela, querida – era a voz de papai.
- Estou indo – avisei. Celular, identidade e dinheiro nos bolsos. Pronto.
Desci a escada às pressas. Dimitri e Gustav estavam parados diante da soleira. Papai e mamãe sem entender nada do que acontecia. Muito menos eu, porque, até então, Dimitri estava sem graça. Nós havíamos feito as pazes dois dias antes, quando ele me convidou para ir à festa de Amanda, mas Gustav também havia me convidado. Eu fiquei sem graça de falar alguma coisa para os dois. Queria que parassem de infantilidade e fossem amigos a partir daquele momento. Eu estava mais do que enrascada. Para meu pior azar. Dimitri parado diante da mureta de madeira e Gustav apoiado apenas com um dos pés, com as costas na coluna de madeira bem na entrada de casa. Ambos começaram a me analisar.
- Você está linda! – disseram os dois juntos, automaticamente.
- Obrigada! – Agradeci. Olhei para os olhos perspicazes de mamãe. Eu tinha certeza que ela estava analisando os dois de ponta à cabeça. E, quando chegasse em casa mais tarde, ela me relataria se eram bons garotos ou não.
- Muito cuidado, rapazes – advertiu-os papai. Dei-lhe um beijo.
Mamãe abraçou-me.
- Se eu soubesse que ele vinha para levá-la, eu sequer... viria – disse Gustav, olhando para Dimitri. Os dois se encararam. Quebrei o silêncio com um gritinho.
- Se querem ir comigo, terão de ir juntos. Caso contrário, eu não irei – alertei. Os dois me fitaram de imediato.
Dimitri recusava-se a entrar no carro de Gustav. Preferia ir de ônibus a ficar com Gustav sequer um segundo. Insisti. Relutando demais, ele entrou no carro, mas eu fiquei no banco de trás da Mercedes preta. E Gustav e Dimitri na frente. Como Gustav tinha dezoito anos, não me preocupei com o fato de estarmos infringindo qualquer lei. Ele tinha carteira e não estava alcoolizado.
Carros e mais carros ocupavam toda a rua e parte da calçada... Estávamos em frente a uma mansão majestosa, dentro de um condomínio luxuosíssimo na Barra da Tijuca. Uma burocracia somente para entrar. A casa era toda projetada... dando um ar futurístico a tudo. Estava edificada bem próxima a um rochedo... As colunas de mármore logo na entrada da casa branca davam a entender que era lá que Amanda morava, já que estava o sobrenome Amorim todo em dourado e, logo abaixo, o n° 11 bem pequenininho.
- Vocês vieram? – Disse Amanda bem alto, abrindo a porta assim que Gustav tocou a campainha. Mas eu sabia que ela me ignorava, dirigindo a palavra somente a Gustav e Dimitri. – Ei, Bruno, nada de subir nas escadas e pular no sofá. Vá para o seu quarto. Meus pais não levaram meu irmão. Teve que ficar, então sobrou para mim – ela sorriu para Gustav. – Tive que morrer em uma graninha para ele não contar nada a eles sobre a festinha.
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Enviada - Série Eternos
Novela JuvenilSinopse de Enviada - Série Eternos Tudo havia se tornado turvo em minha mente. Talvez fosse mais um dos meus sonhos esquisitos. Porém, não era. Frederik perdera suas asas. Meu Anjo se fora para talvez nunca mais voltar. Eu precisava me convencer que...