CAPÍTULO XI - JOGO DE SEDUÇÃO

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        Inacreditável era o fato de Gustav se aproximar sempre de mim todas as vezes que Dimitri se distanciava. Era o único momento em que ele podia fazer o que pretendia fazer: de se achegar até mim sem que Dimitri descubra.

        O sol despontava sorrateiro no horizonte e uma luz fraca desmaiava nas paredes do colégio. Os sinais do outono se foram, mas, do contrário de Viena, eu sabia que no Rio não nevava, só fazia frio, e não era aquele frio de matar. Era meados de junho e Amanda berrara alto depois da aula que daria uma festa em sua casa no fim do mês, antes das provas e, consequentemente, das férias escolares. Todos estavam convidados, inclusive eu, já que ela não usou as palavras exceção nem restrição a mim, e nem a alguns poucos que ela não gostava na sala.

        Todos no colégio ficaram surpresos ao ver Dimitri chegar sem aqueles seus óculos de aros redondos no dia seguinte – seus olhos eram verde folha, incríveis. Seus cabelos aloirados estavam arrepiados e com gel. Algumas garotas o olhavam de devaneio, sem sequer acreditar que aquele era um dos CDFs do colégio. Dimitri estava lindo de morrer. Sua camisa branca estava colada em seu corpo, então pude ver, sob a claridade da luz do sol, no estacionamento, seu abdômen enrijecido – pude ver mais de três gomos de cada lado. E seu peitoral e braços tão definidos que as linhas chegavam a contornar os músculos protuberantes. Ele tinha carisma e era companheiro nas horas em que eu mais precisava, e Gustav, o charme e o perigo que eu gostava de vez em quando. Ambos eram totalmente diferentes um do outro, como água e vinho, como água e óleo, como o bem e o mal.

        - De onde saíram esses músculos? – Disse, dando um meio sorriso.

        - Andei malhando um bocado – rebateu. Ele era mais alto que eu, eu tinha 1m e 68cm contra 1m e 86cm. Eu poderia estar enganada, mas ele tinha a mesma altura de Gustav.

        Mais tarde, depois da aula, Dimitri me parou no pátio do colégio e me disse se eu iria para a festa de Amanda. Bem, Amanda estava empenhada para que Dimitri fosse também; ele se tornara uma sensação aquele dia. Isso eu não pude negar. Disse-lhe que pensaria, mas não queria lhe dizer que eu queria estar lá também, no mesmo lugar onde Gustav também estaria. Preferi ficar quieta.


        Estava sentada numa biblioteca em Botafogo, examinando livros para um trabalho de português; Figuras de Linguagens. A Prof.ª Rosa negava-se a aceitar trabalhos feitos no computador, preferia escritos à mão. Depois de quase duas horas ininterruptas, olhei para o relógio e notei que faltavam apenas dez minutos para as seis. Estava de noite e estava frio. Guardei meus materiais. E o que consegui fazer do trabalho e saí, dando um tchauzinho para a bibliotecária que não me reconhecera, já que o turno da outra havia acabado mais cedo.

Atravessei a rua. Teria que pegar o ônibus do outro lado do quarteirão. Estava frio demais e lufadas de vendo vinham fortes em minha direção. O ronco barulhento de uma moto soou esquina afora. Uma Kawasaki verde parou bem no meio-fio. Meu coração acelerou. Agarrei nas alças da mochila apertando-a ainda mais contra as costas.

- O que uma garota menor de idade faz andando uma hora dessas pela rua? – disse Gustav, retirando o capacete. O motor da moto ligado ainda.

- Estava na biblioteca – estava surpresa. Nem sabia como começar, já que era a primeira vez que eu falava com Gustav desde o dia em que entrou no colégio. – Nem me dei conta do horário. Além do mais, não passam das seis. Não há perigo nas ruas ainda.

Ônibus começaram a passar pela rua. Pedestres caminhavam pelas calçadas e algumas padarias e bares estavam abertos ainda. Numa sexta-feira de movimento. Por mais que estivesse frio as pessoas recusavam-se a ficar em casa.

Enviada - Série EternosOnde histórias criam vida. Descubra agora