Legítimo

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— Você me marcou, seu cerberus sem cabeça! — Taehyung chacoalhava Jimin pelos ombros, com toda a força que tinha. — A gente nem sabe quais vão ser as consequências di-

— Para de se mexer tanto, a ferida vai abrir.

— A ferida que você abriu, né?! — Apertou os ombros do alfa, enfático. — E qual é que você soube cuidar tão facilmente disso?! Você só não é um tenente?

— Eu fiz o treinamento de socorrista, qual o problema? Ah, valeu Tannie. — Fechou e deu de volta a maleta de primeiros socorros que Tannie trouxera assim que o choque passou e o ômega começou sua crise de reclamações em voz alta, pra não dizer gritando. — Meus colegas se machucam demais em campo, não podia só ficar olhando.

— Ah, mesmo? — Taehyung levantou as sobrancelhas, meio sarcástico. — Quem vê até pensa que você é gentil assim, não a besta que acabou de me morder.

— Hare!... — Jimin suspirou jogando a franja pra trás, cansado. — Eu já pedi desculpas, tá? Eu nunca... nunca tinha sentido esse impulso incontrolável antes, não deu pra evitar!

— Hmf... — O capitão deixou o lábio de baixo escorregar sobre o de cima num muxoxo, apertando de leve com a mão robótica o ombro direito enfaixado. — Mah... não tem jeito né... Nós dois numa mesma nave é uma verdadeira raridade no momento, não dava pra prever.

— É melhor você descansar. — Jimin se levantou da cama, calçando os sapatos. — Eu fiz o que pude, mas não sou médico; é melhor tentar achar algum no caminho e fazer um pequeno desvio de rota.

— Nem pensar. — Taehyung se levantou também. — Nós precisamos é achar mais atalhos pra chegar logo em Trimurti: você não ouviu o que eu acabei de dizer? Nós somos dois lobos, se formos pegos juntos em qualquer lug- wa!

— Viu? — Mas Jimin teve que evitar sua queda certa no primeiro passo. — Você precisa descansar.

— Merda!... — Reclamou entre dentes, sendo posto de volta na cama. — O que baba você fez comigo que minhas pernas...

— É normal, é normal... — Afastou-lhe os cabelos azuis da testa pra deixar um beijo ali. Estava preocupado, sim, mais com o quanto o cheiro de sangue da sua mordida estava mexendo com ele de um jeito não saudável do que com Taehyung estar machucado: pelo tanto que ele era casca grossa, talvez? Bem, ele não expressou o mínimo de dor em meio toda a rejeição pela futura nova cicatriz, na verdade não escorreu uma lágrima, nem quando ele estava dando os pontos na ferida. — Eu vou tentar achar o caminho mais curto, sim? — Mesmo assim, estava com as pernas trêmulas depois de transar: era uma sensibilidade um tanto seletiva a dele, não? — Mas se não for curto o suficiente pra você aguentar, vamos parar pra procurar um médico.

— Você acha que eu sou quem, em, tenente? — Perguntou, sério. — Não me subestime só porque me ouviu gemendo: vou só tirar um cochilo e então estarei bem.

— Espero que sim. — Sorriu, pondo as mãos nos bolsos e caminhando até a porta. — Até porque... — Falou antes de sair. — ...ainda temos uma jornada de treze dias, né?

— Não me lembre disso.

Jimin só conseguiu rir enquanto clicava no interruptor pra fechar a porta do quarto. Taehyung tinha um charme tão dele, né... tanto que estava começando a se preocupar com o quanto estava afeiçoado a ele: o ômega não mentiu quando disse que foram sentimentos desenvolvidos em pouco tempo demais; mesmo se apaixonando fácil era muito cedo pra se sentir... bem, responsável pelo caçador daquele jeito. Já não sabia se seu coração ainda batendo loucamente mesmo depois do banho gelado era seu lobo, empolgado por finalmente achar o infelizmente improvável par genético perfeito, ou se só era ele, Park Jimin oficial da marinha, com um fraco pra homens com autoconfiança elevada demais e uma autoconsciência desnecessária.

— "Não tem jeito", né...como ele disse. — Soltou o ar, se sentindo cansado mas mesmo assim cruzando o salão central da Blueberry até a poltrona do capitão, aonde Tannie, majestosamente sentado sobre as patas traseiras, não pensou duas vezes antes de pular pro chão, deixando vago pra que ele se acomodasse: um verdadeiro cavalheiro, aquele doginho, não dava pra negar. — Valeu Tannie... Vamos ver... uoh! Você fez um trabalho excelente cortando caminho, não? — Elogiou, sendo respondido com uma tímida língua pra fora. — O plano é chegar em Trimurti antes do tal Suga, certo? Hm... — Analisou o mapa aberto no painel. — Terra Zero, eh... Mesmo sendo um atalho é muito longe pra parar no meio de uma nebulosa... Tem mesmo um planeta aqui?

Tannie latiu em confirmação, parecendo bem seguro do que estava dizendo, até porque, sim, o pequeno Tannie era de lá: uma das raríssimas espécies vivas legítimas de Trimurti. 

Blueberry - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora