Blueberry - Vmin

Nebulosa

Tannie tinha acabado de redirecionar a rota da Blueberry num novo atalho e de configurar o piloto automático pra então tirar um cochilo encolhidinho sobre um flutuador no piso mais alto do salão. Jimin ficou olhando pra ele por uns segundos sem conseguir evitar um sorrisinho de canto: ele era tão fofinho, o cachorro. Mal dava pra acreditar que compartilhavam dos mesmos traços genéticos; talvez por causa da diferença primordial da natureza daquelas modificações: Yeontan era uma adaptação natural da sua espécie ancestral, o lobo; os híbridos não, os híbridos eram resultado de uma alteração genética feita em laboratório, que por ser artificial não tinha nenhum demérito, apesar da União pregar exatamente o contrário. "Uma afronta ao panteão divino, todas as espécies impuras", era assim que as chamavam.

— Você me acha impuro, Jin?

— O quê?! — O major se exaltou do outro lado. — Jimin, não seja idiota, eu já dormi com você.

— Mas não dorme mais.

— Hare!... — O ouviu suspirando, decepcionado. Deu uma risada. — Você sabe muito bem que eu só quis te proteger: não acho que haja nada de errado com você, mas eles...

— Eles sim. — Completou por ele. — Escuta: eu não sou de me revoltar com essas coisas, mas tem quem seja. — Esperou por alguma resposta do major. — E não sem motivo. — Provocou depois de uns segundos de silêncio.

— Aonde babas você quer chegar?! — Funcionou. — Droga! Eu atendi achando que você tinha feito seu relatório; se soubesse que ia ficar discutindo suor de ameba...

— Não queria te irritar. — Mentiu. — E eu mandei o relatório. — Tocou no painel de comunicação, aprontando pra fechá-lo. — Depois a gente se fala.

Fechou a chamada, espiando por cima do ombro se tinha acordado Tannie: ele ainda estava dormindo.

— Foi mal, né, Jin... — Murmurou de si pra si. — Espero que você entenda se eu fizer qualquer bobagem.

— Que bobagem?

— Ah. — Virou pra ver Taehyung chegando a passos lentos, meio iluminado por uma nebulosa roxa preenchendo toda a paisagem pela meia cúpula de vidro do salão. — Desculpa, acordei você?

— Não... — Deu-lhe a mão metálica ao que ele estendeu a sua. — Só estou sem sono.

— Mh... — Puxou-lhe pro seu colo. — Isso é um mau sinal... — Deitou a cabeça no ombro largo. — Nem consigo mais sentir seu cheiro.

— Claro, hoje é o último dia do cio. — Acariciou os cabelos dourados: os fios parecendo cor de rosa refletindo a luz roxa da nebulosa. — Amanhã eu já vou estar livre de você.

— Você quer me fazer chorar? — Subiu a mão pelo peito desnudo do ciborgue. Era tão bom Taehyung não gostar de usar camisas: ele tinha um peitoral maravilhoso, realmente era um desperdício escondê-lo por baixo de roupas. — Está conseguindo.

— Mentiroso. — Segurou a mão do loiro subindo pela cicatriz recente no seu pescoço. — Você não deve aguentar mais transar de oito em oito horas.

— Isso foi uma piada?

— Mas antes de acabar...eu queria fazer uma coisa.

— Mh? — Continuava acariciando na ponta dos dedos a cicatriz no pescoço alheio, criada da sua mordida.

— Eu quero marcar você.

— Sério?! — Levantou o rosto, dando de cara com uma nova expressão na face do omêga: tão séria, mas ao mesmo tempo... tão fofa?! Não soube explicar o quê naqueles olhos amendoados fizeram seu coração acelerar tanto, e nem queria perder tempo pensando em possíveis explicações, apenas tirou a camisa prontamente. — Ok. — Encostou-se às costas da poltrona, expondo o tronco pro capitão.

Taehyung engoliu em seco, apreciando brevemente a pele perfeitamente leitosa e lisa antes de inclinar-se sobre ele e deitar os lábios na curva do belo pescoço, sugando de leve, mas demoradamente.

— Mh! — Jimin sentiu um arrepio descendo pela espinha. — I- isso que você quis dizer com marcar? — Riu, meio ofegante. — Pensei que ia se vingar de mim me mordendo.

— Eu estou me vingando. — Olhou para a marca vermelha que havia feito, sentindo um certo orgulho. — Se acha que é essa cicatriz horrorosa que você fez em mim que me incomoda, você está muito enganado.

— E não é?

— Não? — Ergueu as sobrancelhas, como se fosse óbvio. — Você me deixou parecendo um reptiliano, sequer percebeu isso?

— Mesmo? — Trouxe o ômega pra mais perto pela cintura. — Você deve estar exagerando, apesar de quê... — Correu os olhos pelo belo torso à sua frente mais uma vez: estava cheio de marcas mesmo, mas não estavam nem perto de parecer... escamas? Se é que reptilianos tenham alguma. — Eu nunca vi um, então...

— Eu já vi... — Taehyung suspirou, olhando pra nebulosa lá fora. — Na verdade, talvez você esteja perto de conhecê-lo também.