Boas Vindas

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— Seja muito bem vindo a Trimurti, ah... Park Jimin? É esse seu nome, certo?

— Au!... — Jimin reclamou baixinho, sentindo uma baita de uma dor de cabeça quando abriu os olhos: estava tudo preto e branco, e meio fora de foco. — Onde...? — Piscou várias vezes, sentindo a garganta seca. — Onde é que eu tô?

— Você está a bordo da Agust. — Era uma voz masculina, num tom calmo, naturalmente atrativa. — O capitão quer te ver, mas está ocupado agora, então vou ficar aqui batendo um papo com você por enquanto.

— Quem é você? — Aos poucos a imagem ao redor foi criando cor e linhas: realmente estava meio escuro, mas dava pra ver uma figura esbelta sentada alguns metros na frente: o contraste da pele clara com as roupas negras era singular; tinha uma gargantilha no pescoço, lábios finos vermelhos que deixavam escapar dois caninos pontiagudos, olhos de curva baixa, naturalmente mais escuros na pálpebra de baixo, denunciando uma grave falta de sono, e cabelos num belo tom vermelho vinho elegantemente despenteados. — Hare!... — Apertou os olhos, sentindo de repente uma forte pontada na cabeça.

— Eu não me esforçaria muito no seu lugar. — O estranho cruzou as pernas e os braços à frente do peito, se recostando melhor às costas da poltrona que estava sentado: a pose lhe dando um ar maior ainda de superioridade. — Acabei te sugando um pouco de sangue, já que achava que você era um puro. — Passou o polegar nos lábios, como que se lembrando do gosto. — Foi mal, né. Eu não tiro sangue de híbridos, foi uma surpresa descobrir que você é um lobo.

— Híbrido de morcego, ah? — Agora que tinha mencionado conseguiu sentir uma ardência insistente no pescoço: aquilo sim era novo, pensava que aquela espécie nem existia mais. — Que problemático.

— Podia ser pior. — Uma nova figura entrou na sala, ou sabe-se lá que lugar era aquele em que estava: lembrava o interior da Blueberry, pra ser sincero, só que toda a planta elétrica exposta nas paredes era bem mais eminente. — O Hoseok normalmente bebe até matar. — Ergueu a cabeça pra conseguir ver o rosto daquele homem alto: era magro também, não tanto quanto o híbrido de morcego, e na sua face havia traços bem mais saudáveis, se pode-se dizer assim, mas o que chamou atenção mesmo foi a cor dos seus cabelos, que era também a exata cor dos olhos e de pequenas escamas que cobriam a pele levemente morena em lugares específicos: um verde intenso e cintilante. — Foi sorte ele ter percebido sua espécie no gosto do seu sangue: sabe que nunca teríamos descoberto só de olhar pra você.

— É, eu sei. — Fechou os olhos e baixou o rosto, tentando se concentrar em respirar fundo pra ver se a dor na cabeça passava nem que fosse um pouco. — Só não vá me dizer que eu tenho sorte por isso.

— Você tem.

De fato, híbridos de lobo eram os únicos que não tinham nenhuma característica física própria que denunciasse sua espécie, mas não eram os únicos só nisso: a divisão entre alfa e ômega que fazia sua reprodução tão eficaz também era única, bem como sua força, naturalmente três vezes maior que a de um humano puro e de qualquer híbrido, sua capacidade de recuperação, sua resistência: eles eram realmente diferentes, como que o ideal de um ser humano com DNA misto com o de um animal; exatamente o que dificultou a União de perseguí-los como aos outros por tantos anos.

— Mas não é por isso que vamos pegar leve com você. — O híbrido de hematófago projetou o torso pra frente, descansando os cotovelos nos joelhos. — Aonde está o Berry? E a nave dele? Quando te achamos você estava sozinho.

— "Berry"?

— É o nome que ele usa no mercado profundo. — O híbrido de lagarto se pronunciou. — Kim Taehyung, atualmente caçador de recompensas. — Chegou mais perto, com as mãos nos bolsos da calça de couro escuro. — É por isso que você estava a bordo da nave dele, não é, tenente? — Jimin moveu os pulsos presos em grossas correntes atrás das costas quando o outro se agachou à sua frente. — Foi o quê? Uma punição por ter saído da sua posição aquele dia em que colocaram um portal do inferno pra nós como uma armadilha? — Ele puxou seus cabelos agressivamente, erguendo seu rosto à altura do dele. — Vocês da marinha são bem idiotas de pensar que a gente cairia naquela, mas você foi esperto. — Seus olhos verdes bem perto, as pupilas em formato de fenda focadas nele, contraídas a quase parecerem tão somente duas linhas naquelas pedras de esmeralda. — Correu pra fechar o portal antes que aquele campo se tornasse o caos que a gente queria: você acabou com a nossa operação, sabia? O capitão Min ficou bem puto.

— Legal você lembrar de mim. — Jimin respondeu, aos poucos sentindo no corpo as sequelas de uma luta à medida que a dor na cabeça diminuía. — Assim eu me sinto importante. — A memória recente também estava voltando. De fato, estava sozinho quando do nada um bando de adolescentes vestidos de peles e com os rostos cobertos por ossadas de animais partiu pra cima dele: dava pra saber que eram adolescentes por causa da estatura, mas lhe deram uma bela de uma sabugada; ele também não pesou a mão no sabre pra não machucá-los demais enquanto se defendia, mas nunca ia esperar que fossem tão fortes.

— Sim, você é importante, principalmente porque tem as informações que a gente quer. — Se levantou, sem porém lhe soltar os cabelos.

— Aonde está o Berry? — O vampiro repetiu a pergunta. — E a nave dele, está estacionada aonde?

— Hã. — Riu, querendo ganhar tempo enquanto pensava: por que estava sozinho mesmo? Não se lembrava... na sua cabeça só vinha a lembrança de um lugar cheio de verde... tão bonito, tinham plantas enormes pra todo lado. — Acha mesmo que eu vou dizer alguma cois- Ugh! — O reptiliano desceu seu rosto contra o próprio joelho com toda força: a dor de cabeça voltou com tudo, e só conseguiu ver seu sangue que escorreu do nariz pingando no chão abaixo dele. — Hare... vocês não são nem um pouco delicados com hóspedes, não é mesmo?

— Não... — Sentiu seus cabelos puxados mais uma vez, o obrigando a erguer o rosto completamente. — Pelo menos não até você colaborar corretamente.

— Ah... tá... ok. — Fungou, sentindo o sangue escorrer pra boca. — Qual era mesmo a pergunta?

Recebeu mais uma joelhada, aquela duas vezes mais forte que a segunda. Droga, estava doendo, mas pelo menos estava dando uma chacoalhada na sua cabeça.

— Berry. Nave. — Hoseok repetiu mais uma vez, lançando ao parceiro um olhar de "pega leve aí" enquanto voltava a se ajeitar confortável no assento. — Te encontramos sozinho, mas sabemos muito bem que não foi sozinho que você chegou aqui.

— É, eu não deveria estar sozinho... — Acabou pensando alto: estava meio tonto, mas as memórias tinham voltado. — Ele me pediu pra não sair... pra esperar...

"— Não sai da nave, Jimin; me espera voltar, por favor."

— Mas eu estava preocupado... estava sentindo o cheiro dele...

— Oi? — Hoseok franziu o cenho, olhando pra Namjoon, que lhe devolveu o mesmo olhar curioso. — Você o quê? Estava sentindo o cheiro dele?

— Tem um cheiro tão bom... — Droga, tudo estava escurecendo... o quanto aquele morcego desgraçado tinha tomado pra aquele sangramento nasal o estar deixando tão fraco? — Tae...

— Tsc. — O vampiro estalou a língua no céu da boca. — Ele perdeu a consciência de novo.

— Deve ser o ar daqui. — Namjoon soltou os cabelos loiros: a testa do lobo só não indo de encontro direto com o chão por causa das correntes em seus pulsos que o seguraram. — Deixa a gente meio fraco nos primeiros dias.

— Deve ser sua joelhada, também. — Olhou pra ele de soslaio enquanto passava do seu lado pra ir embora. — Qual é, Nam? Você não é assim.

— Não é nada, é só que... — Pôs a digital na fechadura da porta, abrindo-a. — Falar dele me deixa meio puto. 

Blueberry - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora