Privilegiado

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Já tinha ficado mais que claro pra Jimin que, sim, ele errou feio em sair da nave pra buscar Taehyung quando o mesmo havia avisado para não fazê-lo, mas aquela situação em que estava naquele momento... bom, ele simplesmente não sabia classificar ainda.
— Fique quieto, sim? Isso, nessa posição. — Assim que acordou sentiu alguém segurando sua cabeça e um pano no seu nariz: não estava mais acorrentado, e sentia uma superfície confortável. — Só até todo o sangue sair... É normal que com o ar daqui vocês lobos fiquem mais frágeis.
— Mh. — Murmurou abafado no tecido molhado do seu sangue: aquele reptiliano moeu seu nariz no joelho, só podia.
— Acho que já saiu o bastante. — O pano foi recolhido, então aquela mão ossuda e gentil segurando sua nuca foi pro seu queixo, erguendo o seu rosto levemente. — Como se sente? Melhor pra respirar?
— A- Ah... — Não esperava dar de cara com um rosto tão bonito: cabelos lisos, negros, bem como as íris nos olhos estreitos, contrastanando com a pele muito clara e lábios vermelhos finos. — Si- sim... eu acho.
— Desculpe pelo o que meus meninos te fizeram. — Ele arrastou as pontas dos dedos pela sua mandíbula e então desceu pro pescoço, procurando pela veia onde pudesse sentir o pulso. — Eles estão sempre na defensiva. — Ficou com dois dígitos pressionados ali por um tempo, antes de se afastar e pegar uma ampola e uma agulha numa superfície ali ao lado. — Vou aplicar em você, tudo bem? É protocolo pra quem chega em Trimurti pela primeira vez depois de muito tempo.
— O que acontece se não tomar isso? — Jimin expôs o braço, acostumado com aquele tipo de injeção protocolar por causa do serviço na marinha.
— Pode acontecer uma série de desastres. — Ficou olhando as mãos do médico aplicando-lhe a injeção: sim, eram os movimentos inconfundíveis de um profissional de saúde, mas haviam membranas bem visíveis entre seus dedos. — Quem sabe disso não espalhe, sabe, mas a Terra Zero foi deixada pra trás com uma quantidade absurda de doenças no ar: nenhuma mortal, mas pegar todas juntas era letal.
— Pra humanos puros, você quer dizer? — Jimin o encarou de soslaio.
— Não existia essa nomenclatura na época. — O viu esboçar um sorriso de canto: um sorriso estranho, difícil senão quase possível de interpretar.  — Mas híbridos passam maus bocados sim, principalmente se já estiverem em estado fragilizado. — Então ele o encarou de volta, por trás da franja escura, enquanto pressionava um curativo contra o furo recente da agulha. — Você entende o que eu quero dizer, não é, tenente Park Jimin? Você entende que Taehyung está lá fora, imprudentemente em risco de ficar gravemente doente em poucas horas?
— Eu entendo, Min Yoongi. — Respondeu, jogando de volta o mesmo tom desafiador. — Aliás, eu entendo bem mais que você que o Taehyung não está em estado fragilizado porra nenhuma: você não vai barganhar fácil comigo, o que quer que seja.
— Ah, não? — Ele sorriu de novo: o mesmo sorriso de antes, só que mais largo. — Você é esperto, mas os meninos me contaram que você balbuciou alguma coisa sobre estar sentindo o cheiro dele. — Começou a acariciar seus cabelos, sem apertar, sem intensificar. — Não foi isso?
— O quê, vai me obrigar a farejar ele pra você? — Jimin não conseguia reagir mesmo solto: a pressão da presença daquele cara era absurda. — Eu tô acostumado a aguentar tortura, não se segure.
— Eu adoraria tentar. — Sentiu um choque elétrico, bem leve, na raiz dos cabelos que ele estava tocando. — Mas eu sou médico, e não, não vou pedir pra você encontrar o Taehyung pra mim através do cheiro, até porque você não consegue saber onde ele está através do faro nas atuais circunstâncias; estou errado?
Jimin ergueu as sobrancelhas sem nem notar: de fato achou estranho sentir o cheiro do ômega tão perto e nitidamente como se ele estivesse do seu lado, mesmo que estivesse claro que não, mas como o Min poderia saber?
— Acertei, não é? — Ele sorriu ainda mais largo, vitorioso. — Talvez nem você saiba, nem o Taehyung, mas isso é efeito da marca: o suor que sai daquela cicatriz com o tempo fica tão forte pra quem fez que é impossível mesmo pra vocês lobos se orientarem por esse cheiro. — Parou de acariciar seus cabelos, se escorando no travesseiro às suas costas e chegando o rosto próximo ao seu. — Eu sei que parece mentira, mas eu sou do tempo em que a marca em casais lobos eram comuns... — Falava baixo, aproximando os lábios lenta e gradualmente do seu ouvido. — E eu também sou do tempo... em que meu Taehyung não daria esse privilégio pra qualquer um.

Blueberry - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora