Um pouquinho apaixonado

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— Cabo Jungkook para tenente Jimin. Câmbio.
— Que baba você está falando, Jungkook? — Jimin riu. — Como está por aí?
— Área limpa e ventos calmos, tenente Jimin. Câmbio.
— Tá, tá, já pode falar direito agora.
— Ué, não posso nem brincar de ser sério?
— Você parece o Jin falando desse jeito.
— "Major Jin para tenente Jimin, câmbio. Tenente Jimin, está na escuta? Câmbio" — Jungkook imitou a voz do mais velho e Jimin quase rolou de rir. — Você tá me desconcentrando, porra!
— Só pra descontrair. — Pôde ouvir o garoto parando de rir do outro lado também. — A gente tá parado a umas três horas.
— Bem vindo ao clube. — Estalou o pescoço. — Isso não é nem metade da média de tempo que a gente fica de guarda.
— Ah, man!... — Reclamou. — Eu nem lembro o que a gente veio fazer, daqui a mais três horas eu vou tá só o esqueleto.
— Colocamos um portal do inferno aqui. — Jimin o relembrou. — Por isso estamos vigiando.
— Eu ainda não entendi porquê estamos vigiando um portal do inferno que nós mesmos instalamos a duas semanas.
— É estratégia, Jungkook... Se chama armadilha, já ouviu falar?
— Duvido que vão cair nessa.
— Você vai ver... — Pôs o olho na luneta da bazuca. — Piratas têm cérebro de vácuo.
— Eu não tô muito certo di... Caralho! — Jungkook gritou na escuta, e Jimin viu o porquê: o portão do inferno abriu com uma explosão seguida de uma enxurrada de cerberus.
— Viu? Morderam a isca! — Jimin mirou num cão do inferno e atirou. — Abrir fogo, cabo Jungkook!
Todos os soldados começaram a atirar desde suas posições, mas pelo portão do inferno só vinham mais e mais cães infernais e nada dos piratas aparecerem.
— Eles já não deveriam ter chegado? — Ouviu Jungkook ofegante. — Esses cães vão começar a atacar a gente!
— Permaneça atrás do seu escudo, cabo Jungkook. — Os dois ouviram a voz de Jin em suas escutas. — Major Jin para todos os soldados! Todos atrás de seus escudos! Repito: todos atrás dos seus escudos! Câmbio!
— Jin, eles não vão parar! — Jimin atirou em dois cerberus que vinham correndo até o beco onde estava escondido. — Esse escudo não aguenta muito, temos que fechar o portão!
— A missão prossegue, tenente Jimin! Repito: a missão prossegue! Permaneçam em posição! Câmbio!
— Merda! — Atirou num cerberus que veio correndo, manchando todo seu escudo daquele sangue verde fluorescente. — Minha mira já era. — Reclamou consigo. — Ah, quer saber. — Fechou o escudo, atirando em dois cães infernais entalados na entrada estreita do beco. — Foda-se. Pôs a bazuca nas costas, puxou os dois sabres do cinto e disparou correndo pra fora da sua posição. Sua escuta virou uma grande gritaria antes de Jin desligar todos seus contatos menos o dele próprio.
— Jimin, tá maluco, porra? Volta pra sua posição!
— Prefiro quando você fala assim! — Continuou correndo, cortando as tri-cabeças dos cães que pulavam em sua direção. — Manda todo mundo se retirar!
— A missão prossegue, Jimin!
— A missão não prossegue, os piratas nos deram bolo, cara! — Se virou, dando um golpe num cão que conseguiu pôr a pata no seu ombro. O sangue espirrou no seu capacete. — Bicho nojento!
— Ah... — Jin suspirou do outro lado, derrotado. — Major Jin para todos os soldados! Retirada! Repito: retirada! Todos abandonem seus postos e voltem pras naves! Repito: retirada!
— Isso! — Comemorou.
— E você, fecha o portão e volta correndo, ouviu? E vê se não morre!
— Entendido, Major Jin! Câmbio! — Já estava chegando no portão, o problema era o tanto de cerberus, saindo sem parar do buraco no chão, como um enxame de vespas saindo de suas colméias, mesmo assim conseguiu, abrindo o escudo assim que chegou na fechadura. — Ok... — Pegou a bazuca, apontou e atirou. — Portão do inferno fechado! — Avisou na escuta e fechou o escudo de volta, se levantando.
— Você atrapalhou nosso plano. — Ouviu uma voz rouca atrás de si, quando se virou todo que viu foi o cenário se distanciando em alta velocidade enquanto era jogado para trás. Quando bateu as costas tudo ficou escuro. — Au... — Reclamou, piscando os olhos no que lhe pareceu uns segundos depois. — Caralho... — Mas não demorou a notar que certamente não era o caso, sentindo a superfície macia em que estava deitado. — Desmaiei? — Perguntou pra si mesmo.
— E como. — Mas alguém respondeu. Levantou o tronco de uma vez, assustado. — Calma, gato! Não vou te morder. — piscou os olhos mais uma vez, sua visão lentamente se adaptando, lhe mostrando uma figura borrada aos poucos ganhando nitidez numa pessoa alta e esbelta, vestida numa calça de brim larga e nada além dela: o peito de pele levemente morena exposto, sem o menor receio do braço esquerdo completamente robótico, cujas conexões vinham desde o pescoço largo. — A não ser que você peça. — Ele riu. Era um cara muito gato; mandíbula larga e bem marcada, lábios bonitos, um nariz perfeito demais pra ser verdade e olhos amendoados por baixo de uma franja de cabelos completamos azuis.
— Aonde é que eu tô? — Olhou em volta, não querendo parecer completamente deslumbrado com um completo estranho. — E quem é você?
— Você está na minha nave. — Ele lhe respondeu, estendendo o braço esquerdo na sua direção. — Por isso eu que te pergunto: — E então a palma da sua mão robótico se abriu, lhe apontando um cano flamejante do que Jimin reconheceu como um lança chamas dos mais perigosos. — Quem é você?
— Tenente Jimin! — Encostou as costas na parede e levantou as mãos abertas pro alto. — Esquadrão 13, da marinha espacial. — Engoliu em seco. — Juro por Hare Krishna, então, por favor, vira o seu... Am... Braço...pra lá.
— Estava mesmo escrito "tenente" no seu colete. — O outro apontou com a cabeça pra seu uniforme dobrado no canto da cama, sem mover a arma do alvo; só então Jimin se deu conta de que estava só de box. — Mas você pode muito bem ser um pirata infiltrado.
— Eu pareço? — Levantou uma sobrancelha.
— Pareceu quando saiu da sua posição, contrariando as ordens dos seus superiores.
— Ah! Você estava lá? — Ficou tão surpreso que esqueceu de manter as mãos no alto. — Mas eu não te conheço, você é do esquadrão? — Franziu o cenho, confuso.
— Não, eu não sou do exército, mas sei como funciona. — Fechou o cano da arma, baixando o braço. Aquele loiro ali parecia do tipo burro e nada ameaçador. — Quando vi que você saiu correndo pra fechar o portão tive certeza de que estava desobedecendo alguém. — Loiro burro, mas tinha bolas. — Toma, veste isso. — Lhe jogou um cilindro metálico que trazia no bolso da calça.
— Mas se você não é do esquadrão o que estava fazendo lá? — Jimin pegou o cilindro no ar e abriu, desenrolando uma calça de brim bege e uma camiseta branca. — Nós isolamos a área.
— Caçador de recompensas. — Ele respondeu, lhe dando as costas e saindo do cubículo.
— Espera. — Jimin terminou de se vestir e saiu atrás dele. — Caçador de recompensas? Mas era uma armadilha nossa, você não...?
— Sim, eu sabia. — Ele atravessou um pequeno corredor, abrindo uma porta pelo interruptor. — Só adivinhei que os piratas não iam cair na de vocês, então pensei que poderiam cair na minha. — E então saíram na câmera principal da nave. — E eles chegaram  bem na hora em que vocês estavam de retirada, como pensei, mas não os peguei porque eles fizeram uma bela demonstração de força te jogando naquela coluna de concreto. Ela quebrou sabia? — Jimin estaria prestando atenção no ambiente se não estivesse tão distraído com os pés descalços do outro: um de carne e osso e o outro não. — Por isso preferi salvar você ao invés de arriscar ser arremessado também, e porque você está aqui? Não te convidei para entrar.
— Mas salvou minha vida, então já conta. — Jimin parou de olhar pro pé esquerdo robótico do outro para o olhar nos olhos. — Eu tô te devendo uma e nem sei seu nome.
Ele Jogou a franja de cabelos azuis pro lado e ficou pensando por um instante, então estendeu a mão direita.
— Kim Taehyung.
— Kim Taehyung, caçador de recompensas. — Ele sorriu, lhe apertando a mão. — Vou me lembrar disso.
— O que há com você? Sorri com a cara toda. — Taehyung não conseguiu não sorrir com aquele eye smile do outro. — Deve estar com fome, não? Eu vou fazer alguma coisa.
Taehyung lhe deu as costas de novo, sumindo ao passar por outra porta em torno das paredes circulares daquela enorme câmara. Pôs as mãos nos bolsos e começou a olhar em volta; parecia ser uma nave bem grande, já que aquela câmara estava mais pra um salão: tinha três degraus, o mais alto aonde estava, com alguns bancos flutuantes e outros dois fixos, mais compridos, o segundo, com uns três lugares para có-pilotagem e de onde o teto começava a ser translúcido e curvo, e o primeiro degrau, onde estava o lugar do piloto. Assobiou, pensando no quanto aquilo deveria ter sido caro, quando sentiu algo lhe puxando a barra da calça.
— Ei... — Era um bichinho, fofo demais pra ser verdade. Ele o olhou com os olhinhos negros, maneando a cabecinha pro lado. — Ei, bola de pêlos... — Se abaixou para por a mão entre as duas orelhas peludas. O animalzinho se sentou sobre as patas traseiras e pôs a língua pra fora. — Você está sendo fofo assim de graça ou eu vou ter que te pagar depois?
— Ah, Yeontan já te deu as boas vindas. — Taehyung voltou com um prato pequeno e azul escuro na mão. — Psi, Tannie! — o bichinho saiu disparado em direção ao dono, balançando um rabinho peludo todo curvado em direção às costas. — Você é um cachorro muito dado, sabia? — E então pôs o prato no chão.
— Não brinca que ele é um cachorro! — Jimin se levantou, olhando pro animalzinho de pêlos escuros, surpreso.
— É, ele é um cachorro. — Taehyung o olhou também. — Come com calma, Tannie... Hare! Parece até que dorme amarrado.
— Como conseguiu um cachorro?!? Eles são raríssimos, deve ter pago uma fortuna!
— Am... Na verdade o Yeontan não é um cachorro... Cem por cento... É... Longa história. — Desconversou. — Já trago nosso rango. — E então voltou a sumir pela porta.
Jimin ficou olhando pro cachorro devorando a massa marrom que havia no pratinho azul escuro. Não podia acreditar que estava vendo um cachorro. Eles eram lendários! A última vez que vira um fora quando muito pequeno, num zoológico numa estação espacial em Saturno.
— E era bem maior... — Murmurou consigo, se abaixando de novo perto do cachorro e o medindo. — Não pode ser... você é muito pequeno. — O cachorro olhou pra ele limpando a pequena boquinha com a língua. — E é muito fofo, Hare! Pare de ser fofo assim!
— Tannie, termine de comer. — Taehyung voltou, mandando ao passar pelo cachorro, que o obedeceu prontamente, voltando a comer. — Vem. — E então chamou Jimin com um movimento de cabeça, apertando uma alavanca no chão com o pé robótico e pondo os dois potes numa mesa redonda que subiu dali. — É udon de brotos.
— Obrigado. — Jimin puxou um banco flutuante pra perto da mesa. — Não está envenenado, não é? — puxou um punhado de udon com os hashis de metal.
— Não acha que eu já teria te matado se fosse minha intenção? — Taehyung também puxou um banco flutuante e se sentou. — Tipo... Quando você estava desacordado?
— Vai saber? — Soprou. Estava fumaçando, e cheirava muito bem. — Tem assassinos de aluguel que precisam seguir até os métodos específicos do cliente para matar, sabia disso?
— Não. — Taehyung soprou o seu também. — Essa é nova.
— Tivemos de investigar um caso assim lá na marinha. — Finalmente pôs um bocado de udon na boca e sugou. Envenenado ou não, estava com fome. — O era o mesmo assassino e o mesmo cliente; político. — E estava bom. — Mas os assassinatos eram todos cometidos de formas muito diferentes, para não haver suspeita.
— Hare! — Taehyung ouvia a história com atenção enquanto comia. — E como pegaram o cara?
— Nada que um faro bom na faça. — Dito isso Taehyung arqueou as sobrancelhas.
— Você é um lobo? — Perguntou.
— Completo.
— Ouh... — Arqueou as sobrancelhas ainda mais. — Agora faz sentido aquela coluna de concreto ter quebrado daquele jeito...
— Você está surpreso demais pro meu gosto. — Jimin passou a mão nos cabelos, jogando a franja pra trás. — Eu não pareço um lobo?
— Você parece um loiro genérico. — Taehyung debochou, apesar de ter sentido uma palpitação por dentro quando Jimin passou a mão nos cabelos.
— Ah! — Ele fez cara de profundamente ofendido, pondo a mão no peito. — Mas que insulto!
— E você é o quê? — Taehyung moveu a conversa. — Alfa?
— Claro que sou alfa. — Puxou mais um bocado de udon com os hashis. — As pessoa costumam se confundir, mas todo lobo homem é alfa.
— Oh, mesmo?
— Sip. — Mastigou por um instante. — Homens alfas, mulheres ômega e crianças todas betas. Simples.
— Suponho que sim. — Taehyung de repente se levantou. — Pode deixar a louça aí na mesa quando terminar, eu venho buscar.
— Ah...ok... — Jimin ficou o olhando se afastar, se abaixando rapidamente pra pegar o prato de Tannie quando passou pelo cachorro, que choramingou e o seguiu. — Hum... — "Será que eu disse alguma coisa?", pensou. "Bem", deu de ombros, "pessoas não costumam aceitar lobos, de qualquer forma".
Virou o molho para dentro, deixou o pote e os hashis na mesa, como o outro havia lhe dito, e então desceu daquele degrau até uma das cabines abertas de có-pilotagem; deveria  haver algum canal de comunicação ali. — Vamos ver... — Puxou um painel. — Aqui. — Ativou as frequências e limpou a garganta. — Tenente Jimin para toda a galera, alguém na escuta? — Esperou uns instantes. Nada. — Gente, eu fui resgatado por um caçador de recompensas... E... Se vocês conseguirem rastrear o sinal dessa mensagem vai ser bem legal porque eu sinceramente não sei se a sede da marinha é caminho do... Do cara que me resgatou, e eu não sou folgado suficiente pra pedir que ele me leve até aí.
— Já estou levando. — Taehyung apareceu atrás dele, fazendo-o pular na cadeira com o susto. — E eu espero que tenham a decência de no mínimo pagar meu combustível.
— Está mesmo me levando pra sede? — Jimin olhou-o, surpreso. — Mas fica... A anos luz da zona fantasmas em que estávamos.
— É caminho. — Taehyung deu de ombros e ia saindo quando o painel começou a piscar um sinal de chamada. Jimin tocou em aceitar.
— Jimin?
— Jin!!!
— Pelo panteão sagrado, por que não mandou mensagem mais cedo?!? Já te demos como morto por aqui, sua anta cósmica! Você vai perder duas medalhas por desobediência, sabia?
— Tem como não ralhar comigo agora? — Olhou de soslaio para Taehyung, ali do lado segurando o riso. — Como está o Jungkook?
— Desesperado? Completamente desolado?
— Owm... — Fez um biquinho involuntário. — Meu bebê... Diga a ele que está tudo bem.
— Como sempre você está tranquilo. — Pôde o ouvir suspirando. — Você não leva nada a sério, não é, tenente?
— E pra quê?
— Ah, olha, cala a boca! Eu não quero mais ouvir sua voz hoje; me arrependo de cada lágrima que derramei pensando que tínhamos te perdido.
— Uau, Jin, isso foi bem gay.
— Quê?!
— Por que não me leva pra sair quando eu voltar?
E então a linha ficou muda e o painel piscou uma vez, indicando chamada encerrada.
— Você está encrencado... talvez?
— Podia ser pior. — Jimin baixou o painel, se levantando. — Eu estaria na barriga daqueles cerberus se não fosse por você. — Olhou para os olhos amendoados de Taehyung. — Eu realmente sou muito grato.
— Am... — Taehyung quis desviar o olhar mas não conseguiu: de repente aqueles olhos azuis ficaram muito interessantes e what the hell? Nunca teve queda por caras loiros de olhos azuis, então qual era a daquele cara? — De nada...? — Limpou a garganta. — É... Você lembra aonde fica o quarto aonde estava? Caso esteja cansado.
— Você é muito gentil. — Deu um passo na sua direção, discretamente. — Mas eu não estou cansado.
— A - ah... — Por que estava gaguejando? E por que não recuou um passo? Hare!... Aquele homem... — Você é hipnólogo ou algo assim?
— Quê? — Jimin riu, e então logo em seguida aconteceu tudo muito rápido: as luzes se apagaram e toda a gravidade artificial da nave direcionou pro leste por um instante, fazendo-os bater contra a parede e caírem no chão em seguida, quando a gravidade voltou a estabilizar. — Auch... — Taehyung cairá em cima dele. — Você está bem?
— Acho que nunca caí num lugar tão macio. — Se levantou devagar, o ajudando em seguida. — Droga, está muito escuro. — De fato estava. Era a zona fantasma ainda, havia pouquíssimas estrelas visíveis por perto para iluminar dentro da nave. — Só um segundo... — Taehyung apertou os olhos e deu uma batidinha com a palma da mão na têmpora esquerda. — Pronto.
— Uou! — E de repente havia luz, vinda do fundo do olho esquerdo de Taehyung. — Seu olho, é...
— Robótico também, sim. — Estendeu a mão para ajudar Jimin a se levantar. Era difícil de olhar só com o olho direito quando seu esquerdo era um foco de luz, mas não tinha outro jeito. — Me desculpe por isso...essa nave é antiga. — Começou a andar.
— Ela é? — Jimin o seguiu. — Parece nova.
— Eu tento mantê-la em bom estado. — Desceu até o degrau da cabine do piloto, abrindo uma escotilha no chão e descendo por uma escada. — Mas ela é... Bem, bem antiga mesmo.
— Ela é enorme olhando por dentro. — Jimin desceu depois dele, vendo-o iluminar um caminho cheio de câmaras menores.
— É ainda mais olhando de fora. — Taehyung entrou por um corredor depois virou. — Uma lata velha, mas eu adoro. — Usou os dedos mecânicos para abrir uma portinha. — Hare! — Olhou para dentro. Jimin espiou pelo seu ombro; parecia uma caixa central de fios de energia. — Isso vai demorar... só tô com um olho bom.
— Eu posso... Arrumar isso se você iluminar pra mim. — Jimin se propôs. — Só preciso se umas ferramentas.
O que Taehyung demorava umas três horas pra arrumar toda vez Jimin fez em dez minutos. Ficou com um pouco de inveja, talvez por já não poder achar Jimin um loiro genérico e burro.
— Tem solda? — Sem contar que ele estava nas pontas dos pés com a bunda empinada pra poder alcançar os fios no fundo da caixa. — Acho que se soldar... Podemos concertar o problema da conexão por mais tempo.
— Eu tenho solda. — Se apertou na entrada da caixa com ele, pondo o braço esticado pra dentro. — Me diz aonde é que eu faço.
— Am... Bem ali, entre o fio rosa e o azul. — Ele apontou com o indicador, e então Taehyung soldou, com o indicador mecânico.
— Seu dedo é tão curto. — Taehyung comentou, e riu assim que Jimin fechou os dedinhos na mão. — Não foi uma crítica. — Terminou de soldar, se afastando da caixa junto com Jimin.
— Foi sim. — E ele fez um biquinho. Aqueles lábios gordinhos faziam um biquinho perfeito, Hare! — Lá na marinha dizem que tenho dedos de menina.
— E isso é problema? — Fechou a caixa e deu mais uma batidinha na têmpora, apagando seu olho agora que as luzes haviam voltado. — Eu sou um ciborgue e nem por isso me deixo abalar.
— Am... Se não for problema perguntar... — Eles começaram a fazer o caminho de volta. — Não que eu ache estranho, só que...
— Tudo bem. — O tranquilizou. De fato não se incomodava em falar no assunto. — Eu fui pego por um Kraken, uma vez... — Ui... — Jimin fez uma careta de aflição. — Aqueles tentáculos não são brincadeira.
— Não mesmo. — Riu. — Mas eu não me importei muito, sabe. — Finalmente chegaram de volta na câmara principal.
— Não se importou? — Jimin pareceu surpreso. — Você perdeu um braço e uma perna.
— E ganhei um braço e uma perna robótica no lugar...e um olho, nada de mais. — Deu de ombros. — Meu corpo não define quem eu sou; nunca definiu.
Jimin engoliu em seco, olhando pro dono daquela voz grave que falava com tanta segurança e tranquilidade. É... talvez estivesse um pouquinho apaixonado.

Blueberry - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora