me without you.

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Talvez fosse o outono que tivesse dado aquele ar melancólico a vida de Tzuyu. Talvez fosse pelo enorme vazio que ela sentia desde o inverno, naquele dia onde não soube o porquê de estar no meio da rua molhando-se na chuva.

Sua esposa não estava em casa, então o silêncio reinava sobre local. Ao observar seus animais dormindo no quintal, sob a luz do fraco sol do meio da tarde, seus pensamentos foram levados até o dia que mudou seu último ano. Sem saber o motivo, sempre acabava lembrando daquele momento onde tudo pareceu mudar. Sequer conseguia prestar atenção em suas filhas recém nascidas, o que deixava Tingyan preocupada com a situação.

Depois daquele dia de inverno, começou a sonhar com uma mulher, ela tinha cabelos claros e parecia ser menor que si, seu sorriso era de tirar o fôlego, mas era a única parte de seu rosto que era possível ver. Aquilo atormentava tanto a mais nova que ela passou a tomar remédios para dormir.

Sua soulmate não parecia mais ser a pessoa que ela amava, o que era estranho, já que antes do acontecimento, estava há dez anos com a mulher. Agora, no auge dos seus trinta anos, a Chou perguntava-se se ter ficado com sua alma gêmea tinha sido uma boa escolha, naquela altura nem parecia a amar mais e isso era estranho.

Seus pensamentos acabaram afastando-se de sua mente e outros apareceram no lugar, alguns eram só as contas que tinha que pagar, o horário de dormir das crianças e quando sua esposa chegaria. Outros eram coisas sobre o trabalho, totalmente inúteis naquele momento, porque, por mais que tentasse, tudo levava até o dia chuvoso em Busan.

A garota suspirou e só então percebeu que conseguia ouvir uma voz bem ao fundo, chamando seu nome, entretanto não era a voz de sua esposa, mas sim uma voz que parecia nunca ter escutado, embora fosse familiar. Conforme o tempo ia passando, a voz parecia ficar cada vez mais alta e nítida, porém quando Tzuyu virou para ver de onde ela vinha, não viu ninguém.

— Yannie? É você? — Perguntou, achando que era sua soulmate, mesmo sabendo que a voz não era dela.

A taiwanesa saiu da janela, onde olhava os animais há pouquíssimos segundos atrás, indo em direção a porta do quarto. Não demorou nem dois segundos para girar a maceta e logo estava do lado de fora, procurando pelo corredor quem a chamava. Por algum motivo, algo dentro si parecia reconhecer a voz que não parava de chamá-la.

Enquanto descia as escadas que davam na sala, Tzuyu escutou um barulho vindo da televisão, seu corpo inteirou arrepiou. Em passos curtos, foi em direção ao objeto e sentou-se no sofá, sentindo seu estômago revirar-se, de uma forma que não era desconhecida. A voz cessou e o vazio dentro de si também.

— Não importa quem você seja, apareça! — Pediu com a voz trêmula.

De repente, uma mulher apareceu na televisão, como se estivesse presa atrás do vidro. Ela não parava de chamar pela Chou, mas não olhava para a garota, seus olhos estavam fechados e escorriam várias e várias lágrimas, era como se ela estivesse desesperada.

A maior não conseguia explicar o que estava sentido, era como se o seu poder, que só era ativado perto de sua alma gêmea, tivesse sido ativado naquele momento. Seu coração parecia lhe dizer que aquela mulher era sua soulmate, mesmo que sua mente soubesse que não era. Enquanto milhares de pensamentos surgiam, Tzuyu sentia-se extremamente perdida, principalmente depois que a loira na tela olhou em sua direção, mas pareceu não lhe ver.

As pernas da garota pareciam estar com toneladas de pesos amarrados nelas e, mesmo assim, insistiu em levantar-se, caminhando até a televisão. Ajoelhou-se em frente ao objeto e colocou a mão na tela, então a pessoa do outro lado colocou a mão também, o mundo pareceu congelar naquele instante e o ar faltou de uma forma inexplicável. Se a Chou não estivesse em completo silêncio e sozinha em casa, não teria escutado a mesma voz pedindo ajuda, suplicando para que fosse resgatada.

A televisão desligou e Tzuyu permaneceu estática, olhando para o nada, embora sua mente estivesse cheia de perguntas e com um nome que sempre surgia, Park Jihyo. Mas, quem seria ela?

Antes que pudesse pensar mais sobre aquilo, percebeu que no lugar onde a tal mulher estava, tinha coisas que ela reconhecia. De repente tudo pareceu muito claro, ela estava na cafeteria das irmãs Kim. Como era muito amiga do marido de uma das donas, não demorou um segundo sequer para ligar para ele, tremendo enquanto procurava seu nome entre tantos outros Doyoung que tinha o contato.

— Dodo? É você? — Seu tom era desesperado e parecia estar constantemente procurando ar para continuar falando.

— Quem mais seria, bobona? — Ele riu do outro lado da linha.

— Não tenho tempo para brincadeiras, apenas me diga uma coisa.

— Desculpa... pode falar.

— Aí na cafeteria tem alguma mulher de cabelos curtos claros? — Perguntou, mesmo que aquilo não fosse o suficiente para saber se a desconhecida estava lá.

— Hum... deixa eu ver. — O homem pareceu afastar-se brevemente do celular. — Tem sim, mas ela está de costas para mim, não sei dizer quem é. — Respondeu e Tzuyu podia jurar que ele estava franzindo o cenho, como se pudesse ver através do cabelo da moça. — Mas calma, como você sabia? Alô? Tzuyu? — Continuou chamando por ela repetidas vezes, embora no fundo soubesse que ela já não estava escutando sua voz.

A mais nova desligou e pegou a chave do carro, correndo para fora de sua casa. No caminho esbarrou em sua esposa, que empurrava o carrinho de bebê das filhas delas, no entanto, não parou quando ela gritou seu nome mais de dez vezes.

A Chou sequer parou para olhar a sua volta quando passou em um sinal fechado. Sequer teve tempo de dar seu último suspiro quando seu carro foi arrastado por um caminhão por quilômetros. Sequer teve tempo de preocupar-se com sua família quando viu Jihyo sorrindo para si do outro lado da rua. Não sentiu dor alguma quando saiu do automóvel, — agora totalmente esmagado — com o corpo ensanguentado. Com um sorriso no rosto, correu para os braços da coreana, lembrando de tudo que vivera ao lado dela, lembrando que ela sim era sua soulmate.

— Agora podemos ficar juntas para sempre, porque eu não existo e você também não. — O sorriso da mais velha cresceu.

No final da rua deserta, Tzuyu viu um rosto familiar aproximando-se. Era Kim Taeyeon, uma das donas da cafeteira para qual estava indo antes do acidente, mas por qual motivo ela estaria naquele mesmo lugar não saberia responder.

— O que faz aqui? — Perguntou quando ela finalmente chegou perto o suficiente.

— Vim levar ela embora, ela precisa lidar com as consequências de seus atos.

— Do que você está falando?

— Vai ficar tudo bem, Tzuyu! Ela não vai mais invadir seus sonhos.

A garota não conseguiu dizer nada, em um piscar de olhos viu o tempo parecer voltar e de repente estava em sua cama, como se tivesse acabado de acordar. Estava sozinha de novo. O vazio dentro de si havia voltado, entretanto o que Jihyo havia feito não tinha sido em vão, Tzuyu lembrava-se exatamente quem a coreana era e pela primeira vez em séculos, seria sua vez de salvar a mulher que amava.

xxx

obrigada por ler até aqui. 💖

save you • jitzuOnde histórias criam vida. Descubra agora