35. Eu não acordaria sozinha

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DELPHINE

Não sabia o que me preocupava mais: as pontadas que o bebê dava em minha barriga, ou Cosima desmoronando pela situação de sua mãe. Ela tentava ser mais forte do que estava sendo, eu conseguia ver isso em seus olhos, mas ela não conseguia. De repente, foi como se todo o seu universo se desmoronasse. Para uma mulher que fugiu pelos abusos do pai, e encontrou alguém que pudesse substituí-lo, perdê-lo tão cedo era arrebatador. E agora, sua mãe estava doente, e todos os dias antes de dormir, ela perguntava se eu poderia cuidar dela.

Ela já havia gastado milhares de dólares em remédios e consultas, sem nem se importar com a quantidade, apenas querendo o melhor dos melhores o tempo inteiro. Susan estava bem, e não era nada tão alarmante por enquanto, mas sabíamos que não tinha como reverter seu quadro. E então, Cosima me abraçava apertado e encostava a testa em minha clavícula, recebendo um beijo no canto do rosto ao aconchegar-se ainda mais. Não estava sendo fácil para ela, e nem para Alison, eu sabia disso.

E então, meu coração se partia ao meio quando ela começava a chorar silenciosamente contra meu peito. Mas eu estava ali por ela, e tornava a repetir:

Estou com você.

Era seu conforto imediato, e meu coração se preenchia outra vez. Sussurrávamos palavras de amor até pearmos no sono. Cosima precisava se sentir amada, e se fosse tanto quanto eu me sentia, eu estaria satisfeita. Depois que reatamos, tudo parecia diferente para nós duas. Era como se ela precisasse de mim de volta, pois eu chegava a duvidar que Cosima conseguisse enfrentar essa situação se não tivesse em quem se segurar para não cair.

Mesmo assim, todos os cinco dias depois em que dormimos no apartamento de sua mãe, ela continuava me trazendo café na cama, sempre com uma diferente flor em um vaso de vidro transparente. Talvez fosse a maneira que ela encontrasse de aliviar-se da dor de ver sua mãe naquele estado. Talvez Cosima tivesse tanto medo de perdê-la, que encontrou uma forma de reverter esse sentimento. Expressando o quanto amava.

– Eu não queria pedir isso, porque sei que você está cansada. Mas preciso de você comigo daqui uma semana – sua voz trêmula entregava sua insegurança, e eu esperava sempre estar ali para protegê-la.

– O que tem em uma semana? – perguntei acariciando levemente sua nuca com a ponta dos dedos.

– Preciso ir a um lugar. Um lugar que já deveria ter ido há muito tempo – respondeu discretamente. Perguntas não eram mais necessárias. Se ela quisesse dizer agora, então eu ouviria.

Nem todos os dias eram fáceis, mas todos esforçavam-se diariamente para deixar as coisas fluírem normalmente, com cuidado. Após muita conversa sobre o assunto, Cosima pediu para morar comigo em minha casa, e mesmo sem pensar em prós e contras, mesmo sem fazer uma lista de coisas que diriam que ter ela comigo todos os dias era uma má ideia, eu aceitei. E então sua mãe apresentou os primeiros sintomas de Alzheimer, e ela se desculpou milhares de vezes, por nem sempre conseguir me dar alguma atenção.

Cosima perguntou se poderia, nas palavras dela, "Levar algumas de suas coisas para a minha casa, e dormir em minha cama ao meu lado por alguns dias", para assim não ficar sempre com a cabeça pilhada por tal situação. Alison, entretanto, havia dito a ela para fazer isso, pois ela mesma ficaria com a mãe em casa, acompanhando-a nas próximas consultas, já que Cosima havia feito todas as outras.

Não estranhei aquele pedindo vindo dela, já que era sempre exaustivo para ela, fingir que estava tudo bem, quando na verdade não estava. Eu a conhecia bem. Cosima queria ser forte na frente da mãe, na frente dos amigos, de Charlotte e da irmã, mas para mim, ela não conseguia fingir. Certa vez, esbarrei com ela no corredor da casa de sua mãe, e ela estava chorando como uma criança, e assim que me viu, me abraçou tão apertado que mal respirei, e entre soluços, conseguiu dizer:

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⏰ Última atualização: Dec 13, 2021 ⏰

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