SETEMBRO DE 1836,
"ESTOU PRESTES A BEIJAR-LHE."
Sam bateu sua caneca sobre a mesa e ergueu o olhar. Hayley se aproximava com um sorriso tão grande quanto seus peitos, que pulavam para fora do decote daquele vestido que ela usava naquela noite.
Ele tinha chegado ao pub marcado para se encontrarem há quase quinze minutos e já estava indo para a sua terceira caneca de cerveja. O primeiro dia em Boyce Castle tinha sido excepcionalmente pior do que qualquer outro serviço que Sam já tinha pego, ele passara o dia seguindo a Sra. Clio por todo o castelo e ouvindo instruções sobre como as coisas deviam ser feitas, o quarto de Sam era um cubículo na ala dos criados do terceiro andar, o mesmo andar dos aposentos do duque, e Sam podia tocar as duas paredes se esticasse os braços, mas pelo menos tinha uma cama confortável.
- E então? – Hayley indagou, sentando-se de frente para ele. – Como foi?
- Péssimo. – disse Sam, fazendo sinal com a mão para que a moça atrás do balcão lhe servisse outra cerveja.
Ela sorriu.
- Como é o Filho do Diabo? – perguntou Hayley, curiosa.
Hayley apoiou o cotovelo sobre a mesa e colocou o queixo sobre a mão.
Durante aquele dia, Sam pensou muito sobre os apelidos do duque. Talvez o chamar de Filho do Diabo fosse realmente adequado, não por crueldade ou qualquer outra coisa, mas sim porque a beleza daquele homem não era algo mundano.
Entre todas as damas em um salão de bailes que Sam frequentava, quem chamava sua atenção eram os cavalheiros mais atraentes em seus trajes perfeitamente cortados e moldados em seus corpos trabalhados, em um bordel ele se sentia atraído pelos clientes e não pelas meretrizes – não que Sam não sentisse atração pelas mulheres, algumas também chamavam sua atenção, mas não era tão comum quanto os homens – e, em Boyce Castle, o que tinha despertado os sentidos dele, fora, com toda a certeza da sua vida, o duque conhecido como Filho do Diabo. Aquele corpo forte e torneado, suado, subindo e descendo naquela barra e com os músculos flexionando-se, aqueles cabelos bagunçados e úmidos, os olhos de predador, talvez Sam realmente passasse à chama-lo de Filho do Diabo, ou de Diabo, apenas. Muitos homens já tinham atraído Sam, ele já tinha flertado com alguns e trocado beijos com outros, frequentava o Moça de Família na capital exatamente pelo serviço prestado à homossexuais e o sigilo, mas nunca tinha acontecido de Sam sentir-se tão atraído quanto estava por aquele duque. E aquela atração poderia acabar com seus objetivos dentro do castelo.
- Ele não é como eu o imaginava. – Foi tudo que Sam respondeu à Hayley.
Ela arqueou uma sobrancelha e tomou a caneca de cerveja para si antes que Sam pudesse pegá-la quando a garçonete a serviu, pedindo outra em seguida.
- Conseguiu algo?
- Não. – respondeu, frustrado. – Mal consegui entrar no castelo e ficar sozinho. A governanta passou o dia todo o meu pé e eu sou subordinado a ela.
Hayley riu, com certeza achando graça naquilo.
A garçonete serviu outra cerveja para Sam e um prato do jantar do dia – uma espécie de ensopado que podia ser de coelho ou de qualquer outro roedor que passou correndo pelo beco dos fundos durante aquele dia – e Sam escolheu não comer aquilo e preservar seu corpo de possíveis surpresas desagradáveis. Hayley dispensou o ensopado também, ela era uma grã-fina e tinha jantares de sete pratos em casa, então os dois apenas conversaram por um longo tempo.
Hayley tinha sido casada com o conde de Foxfort, casara-se quando tinha apenas dezoito anos, obrigada pelo pai, e engravidara aos dezenove. O marido era um grande canalha e batia nela mesmo quando Hayley estava grávida, então ela não hesitara em passar uma lâmina no pescoço do marido depois que seu filho nasceu e ficou garantido que toda a fortuna e o título de Foxfort ficaria para o menino quando o pai se fosse. Quando um agente foi designado para investigar o assassinato do conde, a própria Hayley se entregou e, com a ajuda de seu primo, que trabalhava com Calvin Chester, ela negociou para se tornar uma espiã da Coroa em troca da sua liberdade, usando seus contatos na nobreza para cumprir suas missões. Era uma das preferidas de Calvin e só pegava casos grandes há anos.
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O amor do agente
Historical FictionLivro 5 da série Os Hildegart. Determinado a colocar um fim no seu período trabalhando como espião para a Coroa de Egleston, Samuel Hildegart aceita sua última missão em um castelo localizado em um ducado costeiro com ilhas paradisíacas perfeitas p...