AGOSTO DE 1836,
"ÓTIMO PARA UMAS FÉRIAS DE VERÃO."
O escritório de Calvin continuava sendo como sempre fora, pequeno e abarrotado de papéis e caixas, ali tinha papel suficiente para manterem acesas as fornalhas do inferno por um inverno todo ou dois. O cheiro no ambiente era típico, um misto de queijo com mofo e fumaça da pequena lareira em um canto, a janela continuava emperrada e as cadeiras de frente para a mesa estavam cheias de caixas.
Hayley se incomodou em tirar uma caixa de cima de uma das cadeiras para sentar-se, Sam não. Ele caminhou para trás da mesa do seu chefe e sentou-se na cadeira de Calvin, colocou os pés sobre no espaço vago sobre o tampo da mesa e cruzou os braços.
- Você está procurando confusão. – Hayley alertou. Sam deu de ombros.
Se Calvin não se dignava a aparecer na hora marcada e no próprio escritório, por que Sam se importaria com qualquer possível repreensão?
Samuel Alexander tinha aprontado muito quando era jovem, deu muito trabalho para o seu irmão mais velho, até que Nate resolvera alistá-lo na Marinha Real e lhe comunicar sobre isso só depois que ele já tinha sido aceito, após um incidente embaraçoso com uma prostituta que fingiu ser uma virgem e o seduziu, pensando que ele era o conde, e depois quis obriga-lo a casar-se com ela, alegando desonra. Aquele momento tinha sido decisivo na vida de Sam, ou ele se casava e aceitava ser usado por aquela meretriz ou então ele iria para a Marinha. O que nem Sam e nem Nate esperavam era que Calvin Chester fosse ver algum potencial em Sam quando ele passava por treinamento para embarcar em um navio, então ele recebeu a oportunidade de se tornar um agente do Serviço de Inteligência Real, e foi isso que Sam escolheu, a vida de um agente da Coroa era melhor que a de um marinheiro.
Nos seus seis anos servindo à Coroa, Sam subiu de cargo rapidamente e se tornou um Membro Sênior com apenas três anos de serviço, teve casos importantes e chegou à investigar a morte do último rei e do príncipe herdeiro, gastou meses perseguindo pistas e interrogando pessoas de forma discreta para descobrir que o rei e seu filho tinham morrido em decorrência de sífilis depois de se deitarem com a mesma meretriz de um dos bordéis mais famosos da cidade de Lamero, então o caso foi arquivado e Sam recebeu uma boa quantia para ficar em silêncio, assim como seus parceiros do caso, pois ninguém podia saber que o rei morreu depois de pegar sífilis.
Seis anos tinham se passado, Sam tivera dezenas de casos e ganhara muito dinheiro, podia viver tranquilamente pelo resto da vida e estava farto de arriscar seu pescoço pela Coroa, seu último caso terminara com ele na mira de uma arma e precisando ser resgatado de uma masmorra pelo projeto de dama que estava sentada à sua frente, então ele tinha pedido sua exoneração na última semana e acreditava que Calvin queria discutir aquilo com ele. Sam só se perguntava o que Hayley fazia ali também.
- Tem alguma ideia do que Calvin quer conosco? – Sam indagou a ela.
Hayley jogou os cabelos loiros para trás e ergueu o olhar para Sam.
- Sim. – disse ela.
- Tem a ver com a minha exoneração?
Ela sorriu.
- Eu conto sobre o que é, mas você vai ter que acertar a cor do meu vestido. – disse ela.
Sam revirou os olhos e soltou um suspiro impaciente.
- Isso não tem graça.
- Tem, sim. – Rebateu ela.
Desde muito novo, Sam tinha descoberto que possuía uma anomalia óptica que o impedia de distinguir algumas cores, nenhum médico conhecia uma cura ou tratamento, não sabiam o que a causava e ele já tinha sido espetado em muitos lugares e de muitas formas, por muitos médicos diferentes, para tentar resolver aquilo, até que desistiu de se curar e só se adaptou ao próprio modo de ver o mundo. Sua maior dificuldade eram as cores que os outros distinguiam como verde e marrom, mas que, para Sam, era tudo o mesmo borrão de cor, e sempre que alguém descobria essa dificuldade dele em diferenciar as cores, faziam perguntas do tipo "que cor é essa?" ou "o que você enxerga aqui?" ou ainda "de que cor é a minha pele?". Era por esse motivo que Sam nunca elogiava o vestido de uma dama ou a cor dos olhos, ele descobrira que, ao contrário do que ele via, olhos violeta não eram tão comuns assim e todos os outros enxergavam azul.
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O amor do agente
Tarihi KurguLivro 5 da série Os Hildegart. Determinado a colocar um fim no seu período trabalhando como espião para a Coroa de Egleston, Samuel Hildegart aceita sua última missão em um castelo localizado em um ducado costeiro com ilhas paradisíacas perfeitas p...