8. Apenas Dean

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SETEMBRO DE 1836,

"TENHO CERTEZA QUE CONSIGO SER ÓTIMO."

Esse menino não pode ser meu filho. Era o que o antigo duque de Hovedan sempre dizia. Deve ser filho do Diabo.

Aquilo era a maior das hipocrisias que o duque dizia. O homem era ruim feito o Diabo e ficara conhecido por ser um péssimo administrador para o ducado, afundou Hovedan em dívidas e era o pior dos senhorios para os criados e para os arrendatários. Dean era muito parecido com ele, mas o pai nunca aprovava algo que ele fazia, sempre achava algo para criticá-lo e foi o próprio pai quem lhe deu a alcunha pela qual era conhecido em todo o reino. O Filho do Diabo.

Dean não se orgulhava daquele apelido, da mesma forma que não se orgulhava de ter colocado uma arma na cabeça de um homem naquele dia e ameaçado a família dele. Mas aquele era Dean, ele poderia culpar o pai por tê-lo criado daquela forma, poderia dizer que tinha um coração obscuro ou que seu passado era traumático, mas a verdade era que Dean não era filho do antigo duque, ele não tinha coração e ele mesmo tinha criado seus traumas do passado, então não havia o que contestar. Aquele era Dean – com passado obscuro, atitudes que ele mesmo desaprovava e desprovido de coração – e ponto final.

Apesar de tudo, aquele tinha sido um bom dia, um dia de grandes progressos, e Dean estava sentindo-se alegre quando voltou para o seu quarto após o jantar. Ele tomava aquilo que queria, e naquele dia ele tinha tomado um pouco mais de felicidade para si do que poderia ter imaginado ao acordar. Ele estava lutando, assim como qualquer outra pessoa, pelos seus interesses e pelos daqueles que ele queria bem, que não eram muitas pessoas.

Dean sentou-se em uma das poltronas próximas da lareira, um copo de brandy na mão e alguns pensamentos em mente. Ele tinha ficado tão envolvido com o carregamento que chegara naquele dia que não tinha feito seu treino matinal, não se sentia cansado, e Dean precisava de algo para cansar-se e poder dormir mais tranquilamente. O duque garantiu a si mesmo que era só isso que o movia. O relógio sobre a lareira marcava dezenove e trinta, ainda faltava trinta e um minutos para que Samuel estivesse atrasado e ele tivesse um motivo para punição, mas Dean não queria punições naquela noite, ele queria algo diferente.

Naquela noite, Dean não queria simplesmente dominar Samuel na cama e obter seu prazer, cansar-se e cair na cama para dormir melhor, ele queria mais. Dean queria entrega e prazer mútuo, queria sentir que, pelo menos por uma hora ou duas, ele era uma pessoa diferente, apenas Dean, não queria ser o Filho do Diabo ou o Duque Sombrio, como alguns o chamavam. Mas aquele não era o combinado entre os dois, Samuel tinha aceitado aquela proposta de Dean para sexo pesado, punitivo, e provavelmente era apenas movido à curiosidade gerada pelos boatos que circulavam entre os criados. O pior erro de Dean foi, aos dezoito anos, envolver-se com um criado do castelo que espalhou histórias sobre seus gostos sexuais.

Virando seu brandy e pousando o copo sobre a mesa de apoio ao lado da poltrona, Dean levantou-se e saiu para o corredor novamente. Jane tinha seguido a instrução do duque e dado à Samuel um quarto no terceiro andar, o mesmo dos aposentos de Dean, e foi para lá que ele seguiu.

O duque parou do lado de fora da porta e bateu, aguardando por um curto momento antes de ouvir a voz de Samuel do lado de dentro. Ao empurrar a porta, Dean viu o quarto arrumado e Samuel sentado à escrivaninha, guardando na gaveta do móvel os papéis e a pena que tinha em mãos.

- Vossa Graça. – disse ele, levantando-se. – Posso ajudá-lo em algo?

Dean entrou no quarto pequeno e olhou o mordomo com mais atenção. Ele não tinha notado o quão grande Samuel também era, até vê-lo naquele ambiente pequeno. Samuel tinha ombros largos, um queixo quadrado com o maxilar marcado e destacado pela barba castanha sempre aparada curta e os lábios rosados que se destacavam à luz das velas, os braços dele pareciam ser trabalhados por muito treino ou trabalho braçal, provavelmente a primeira opção, já que era um mordomo. E aqueles olhos... Dean não conseguia olhar muito para eles.

O amor do agenteOnde histórias criam vida. Descubra agora