Tudo começou em 2001 em uma espécie de internato religioso onde fui deixado para adoção nos primeiros dias após meu nascimento, segundo os padres minha mãe era viciada e meu pai um desconhecido e sem condições de me sustentar e sustentar o vício ela me deixou aqui, no início não me importei e nem senti raiva pois imagino que deve ser difícil criar um filho sozinha, principalmente quando se é usuária de drogas, mas mesmo sabendo que fui abandonado não deixei de desejar nos primeiros anos de vida que ela ou meu pai inexistente voltassem para me resgatar deste inferno, todavia os anos foram passando e ninguém apareceu, nem meus pais biológicos e nem interessados em me adotar, o reverendo dizia que por eu ser desse meu jeito eu espantava possíveis famílias adotivas, mas nunca entendi que jeito ele se referia.
Mais alguns anos passaram e quando estava com 10 anos os garotos me encurralaram no pátio com provocações, não que não fizessem isso diariamente nas refeições, na sala de aula, sempre me chamando de anormal, esquisito, eu não tinha amigos e não falava com ninguém, tirava boas notas e não entendia porque eu era tão ruim a ponto de ser atacado verbalmente todos os dias por colegas ou até criticado diariamente pelo clero que senão mudasse meu jeito estranho sofreria muito.
Mas voltando aos garotos me importunando pela milésima vez com frases do tipo: ah graças a você não podemos usar short nas aulas de esporte, mas aí me perguntam o que você fez Jungkook para proibirem os garotos de usar short, te respondo não tenho a mínima ideia, o Clero se reuniu e decidiu proibir e os meninos me acusam como se eu tivesse pedido por isso.
Porém como senão bastasse a agressão verbal hoje eles passaram dessa linha quando Choi me acertou um soco no estômago, a dor foi forte mas me pegou desprevenido pois nunca achei que passariam de xingamentos e gritos.
Começou a me bater e gritar dizendo que eu seria punido e que eu era um monstro e me acertou de novo e de novo até eu cair no chão então eles saíram e me deixaram ali me contorcendo de dor, longos minutos deitado no chão em um canto, senão levantasse eu sei que ninguém viria me socorrer então com esforço consegui levantar e ir até a enfermaria, contei o que houve ao padre, e o mesmo me disse que não podia estar chegando perto ou tendo contato com os garotos que resultaria nisso, me medicou e me mandou para o quarto, no qual dormia sozinho pois diferente dos outros não podia dividir o quarto com outros garotos, e eu não entendia absolutamente nada.
E como não posso ter paz, com o passar dos dias as agressões foram piorando, todo dia levava um chute, um tapa ou um soco, fui proibido de participar das aulas de esporte e as refeições passei a fazer em meu quarto e só poderia usar o banheiro se estivesse totalmente vazio.
Não entendia o porque me odiavam tanto nunca dei motivos, nunca levantei a mão para ninguém e nem denegri nenhum colega, os respeitava assim como os padres afinal eram a única família que tinha, contudo mais uma vez estava enganado pois ele eram tudo menos minha família.
Cada dia que se passava mais solitário e deprimido eu me sentia e não tinha o que fazer, pois se reclamasse era ignorado ou castigado e não podia nem olhar para os garotos que apanhava, virei refém dentro do local que deveria ser meu lar, me acolher e me proteger o que não foi o caso pois foi nesse mesmo local que acabaram com minha saúde mental.
Tentava me manter focado, sempre evitava confronto e aprendi a esconder meus sentimentos, andar sempre de cabeça baixa e cada vez aquela vontade de ter uma família se reduzia a ilusão, pois não acreditava mais que alguém viria.
Quem iria me querer e por mais que me agarrasse a um fio de esperança o Padre Ikeda sempre minava cada mínimo sorriso, ânimo ou vontade de viver que existia em mim.
Dizia que não me comportava como um garoto, que não deveria olhar para os meninos daquele jeito e nem ter comportamento doce pois doçura e gentileza eram coisas de meninas.
Eu achava aqueles comportamentos brutos desnecessários, afinal porque não podia ser gentil, sorridente, doce e atencioso com alguém e quando se tratava dos meninos parecia que estava cometendo o maior dos pecados.
Mas o que mais me irritava é que meu comportamento e a maneira que olhava eram taxados como pecado e indigno do perdão de Deus e como castigo nunca seria amado e acolhido por uma família, mas a agressão física e psicológica que sofria era ignorada, e quando tentava me impor era punido pois eu estava errado sempre.
Por bastante tempo achava que eu era uma vítima de algum preconceito ou perseguição coletiva, mas a dúvida de que talvez eu realmente seja um erro aumentava mais, e se o problema de fato for eu e todos tentam me alertar pra me consertar por eu ter nascido defeituoso.
Já não acreditava mais em amor mas eu queria tanto que me respeitassem, parassem de me bater e me aceitassem, só aceitação e respeito já me sentiria feliz, porque pelo que vi amor é algo que jamais me seria dado.
Mas já me sentiria satisfeito e feliz se tivesse o mínimo de respeito, creio que isso eu posso me iludir pois meus outros sonhos estavam cada dia mais afundados na dor, medo e agonia.
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Safira
Romance(Concluido) Onde um jovem órfão se muda de cidade para fugir da violência que sofria e acaba entrando no mundo das drogas e quando viciado se vê apaixonado por uma alucinação.