O princípio de nossa purificação é a humilde confissão de nossos pecados.
Penso nisso todos os dias mas qual o meu pecado? Porque deveria me sentir pecador ou impuro se jamais maltratei outro ser, mesmo sofrendo fisicamente e psicologicamente jamais levantei a mão ou voz para meu semelhante e mesmo assim sou torturado diariamente por apenas ser diferente, será que algum dia serei aceito mesmo tendo essas sensações desmedidas dentro de meu ser?
Sensações essas que sabia que eram erradas, ouvi de pessoas inteligentes, bem estudadas que eu era anormal, então era inevitável sentir medo e tentar reprimir e esconder qualquer coisa fora do correto que me foi ensinado.
Começo a recobrar minha consciência e sinto algo macio abaixo de mim abro os olhos lentamente com bastante dificuldade devido as dores e claridade que agridem minha retina, sinto fortes dores na cabeça e corpo e ao averiguar a sala em que me encontro me deparo com o reverendo do internato, me senti por poucos segundos aliviado pois no estado em que me encontro certamente os garotos seriam penalizados e teria paz nos últimos anos que me faltam naquela tortura sem fim, porem ao fita-lo em seu olhar pude ver indignação e repulsa e isso foi comprovado com sua fala:
-- Fique agradecido aos garotos por terem me falado onde lhe achar antes que outra pessoa te visse, imagine como seria arruinada a reputação deste lugar se soubessem que abrigamos crianças como você, ainda temos que conversar sobre este pequeno problema com seus colegas.
Pequeno? A culpa era minha novamente, eu não entendia porque tudo isso estava acontecendo, então só ignorei suas queixas para comigo e resolvi levantar para avaliar o estrago, respirei fundo e criei coragem para ir na frente do espelho que tinha na enfermaria onde me encontrava, ao pisar no chão não consegui reprimir o grito de dor, quando olhei no espelho meu braço estava enfaixado com tala visivelmente quebrado, tinha levado alguns pontos no peito onde os chutes me acertaram em cheio e meu rosto roxo, inchado com cortes e mais pontos em minha sobrancelha, foi involuntário o derramamento das lágrimas, quando deslizavam nos lábios ardiam devido aos inúmeros cortes mas o que mais me doeu foi ver que me destruíram fisicamente e psicologicamente só pelo próprio prazer e o clero apoiava pois pelo fato de serem "normais" os faziam vítimas do "anormal" que não gostava de garotas, enxuguei minhas lágrimas e fui ao meu dormitório só querendo solidão e sossego, queria tanto morrer mas algo me segurava vivo e nem sabia o que era.
Sabe quando disse que vivia no inferno pois então estou claramente sendo punido e torturado pois achei que após o espancamento me deixariam em paz novamente errei feio, toda vez que cruzava o corredor e me viam iam na coordenação alegar que estava os assediando, e qual era o resultado disso, era um Jungkook de joelhos nas pedras como penitência para aprender que Deus abominava dois homens se relacionando numa tentativa de me purificar e curar meus pecados, mas curar o que?
Nunca toquei em um garoto na verdade mesmo os achando bonitos eu morria de medo de chegar perto de um, homens me davam medo, pois fui abandonado por um e espancado e maltratado por vários.
Então no último ano passei trancafiado no quarto, evitava até comer só pra não sair e quando completei meus 18 anos pude ir embora e respirar aliviado.
No dia seguinte da minha alforria pus minhas únicas duas mudas de roupas e meus documentos em minha mochila e sai em busca de trabalho e moradia, andando pelas ruas de Busan achei um bar que precisava de garçom, chegando ao balcão pedi a uma moça para falar com a responsável pela contratação, ela pediu para aguardar e logo em seguida veio uma senhora com uma cara mau humorada falar comigo, me explicou a função e que não teria salário era por gorjetas diárias o pagamento, não podia me dar ao luxo de rejeitar então aceitei e lhe contei que recém tinha saído de um internato e não teria moradia, me ofereceu o quarto dos fundos onde me acomodei e iria começar em poucas horas.
O bar era pequeno e não era um ambiente familiar ou amistoso, parecia um pardieiro, muitos bêbados cheirando a maconha, nicotina e suor mas era o que consegui.
Os primeiros dias foram tranquilos eu atendia as mesas, servia os clientes e recebia umas gorjetas e no final da noite tomava banho e me deitava numa cama pequena e desconfortável, o colchão cheirava a mofo, não tinha janela, tinha um pouco de paz, mas obviamente desenvolvi ansiedade e crises de pânico devido a anos de agressão sofrida, a insônia e o estresse não me abandonavam também e foi numa noite de muita ansiedade que resolvi experimentar a minha primeira droga o álcool, legal, fácil de achar porque não, então todas as noites bebia um pouco mais, para relaxar mesmo, depois comecei a aumentar a dose bebendo até apagar e dormia a noite toda e como o álcool não fica sozinho logo em seguida veio minha segunda droga a nicotina que era tragada diariamente sem pudor, meus dias de vida se resumiram a trabalho, álcool e cigarro, mal sobrava para comida e mesmo após 6 meses trabalhando não tinha adquirido nenhuma peça de roupa ou um par de tênis ainda usava os mesmos calçados do internato, não tinha feito um mísero esforço para melhorar a minha situação, adorava matemática, fotografia e mesmo ciente que existia a possibilidade de conseguir bolsa para tais cursos e conseguir uma carreira melhor nunca me empenhei, ficava só em servir mesas, encher meus pulmões de nicotina e me embriagar até cair, não tinha esperanças de melhora.
Na verdade eu queria morrer logo mas como disse algo não me deixava ir.
E quando achei que iria ficar estagnado nessa vida medíocre porém pacata, eis que chegam dois clientes e se sentam em uma mesa ao fundo, estava tão ocupado que só percebi quem eram quando cheguei na mesa para anotar os pedidos, meu olhar focou naquelas duas criaturas que saíram do fogo do inferno para tirar o resquício de paz que restou, encararam-me incrédulos e no sorriso maldoso que deram vi que estava ferrado, Woojin e Choi faziam seus pedidos animadamente enquanto eu encarava em pânico dois das três causas das minhas crises e insônia fora o alcoolismo.
Tentei soar o menos afetado possível, me iludindo que não lembrassem de mim ou me ignorassem mas claro que sorte é algo que não existe na vida do pobre Jeon, anotei tudo e trouxe as bebidas as depositando na mesa e quando me virei para sair ouvi o grito de Woojin, me virei e o vi encharcado com as bebidas começando a gritar chamando pela gerente num total escândalo, fui em direção a ele e implorei para não fazer isso mas foi em vão a senhora Yan já estava vendo a cena furiosa, começou a pedir desculpas aos clientes, me demitiu e me despejou por assedia-los, aqueles malditos, quando terei paz?
Relevem algum erro, pois revisarei melhor ao longo dos dias.😘
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Safira
Romance(Concluido) Onde um jovem órfão se muda de cidade para fugir da violência que sofria e acaba entrando no mundo das drogas e quando viciado se vê apaixonado por uma alucinação.