Eles não avisaram porque sabiam que eu não viria assim tão facilmente depois de ontem. Conheço meus pais, são incapazes de mentir ou enganar, mas isso não os impediria jamais de me colocar em situações como estas, até porque eles poderiam me avisar sobre o jantar, mas não são obrigados a dizer, bem como eu provavelmente não seria obrigada a participar se soubesse.
Mas os jantares serão comuns de hoje em diante.
As reuniões, os encontros, haverão muitas coisas até o noivado formal que será dentro de um mês e meio, logo, depois disso acredito que será o casamento.
Meus pais estão sentados em um sofá amplo conversando com a mãe do ministro, mas tão logo nos veem os três se levantam, noto certa semelhança entre Virgo e sua mãe, mas ela tem olhos mais expressivos e vívidos, ela é branca como ele e mantém um lenço azul na cabeça, usa roupas escuras.
—com licença minha mãe—Virgo fala educado—permissão.
—toda—responde a mãe dele—que bom que chegaram, o jantar já será servido.
Virgo beija a mão dela e depois as mãos de minha mãe, com uma devoção fora do comum e muito respeito, aperta a mão do meu pai e então indica o sofá para que me sente, me aproximo e deixo minha bolsa num canto do sofá então me sento.
—estamos conversando sobre a celebração de noivado—mamãe não para de sorrir enquanto se senta—que bom que o Sven liberou você para que viesse.
—desculpe que o convite tenha sido de última hora.
Eu não me recordo bem o nome da mãe do Virgo, mas com certeza percebe-se de longe que ela é uma mulher muito diferente da minha mãe em todos os sentidos.
—foi inesperado, mas deu tudo certo—falo com cuidado.
—Virgo insistiu em ir buscá-la—papai está como sempre tão orgulhoso—e seria mais rápido.
—não é uma grande distância—Virgo estende a mão e segura a minha.
—precisam se planejar e pensar sobre a compra da casa—a mãe dele parece apenas inconformada em vê-lo segurar minha mão.
Acredite senhora, não é a única na fila do pão.
Posso imaginar que ela até pensasse que o filho poderia se casar com alguma ministra ou alguém que trabalha para o Estado Majoritário, não uma simples relojoeira que tem graduação em História, socialmente vinculada a uma prole insignificante em vista do que os antepassados deles fizeram a Navie, mas infelizmente não mandamos ou escolhemos nosso destino.
Não somos donos de nossas decisões a dezenas de centenas de anos, não temos livre arbítrio, nem fazermos decisões deste porte aqui, então a mesma verdade que vale para mim deve valer para ela, mesmo que em seu sangue corra honra e certo valor social maior que no meu.
Não há distinção de classe, mas ainda há uma série de fatores que nos limitam nesse sentido, porque também não faria sentido que todos os dias um Ministro se casasse com alguém de uma prole inferior, os ministro trabalham muito e tem um ensinamento de vida que só é compatível com a de outro ministro.
—deixemos os jovens à sós—aconselha a mãe dele.
Ela se levanta, sua elegância notável, mamãe e papai se levantam e a seguem rumo a cozinha que fica do outro lado mais afastada daqui, eu noto que eles estão mais felizes com isso, mas a mãe dele vai porque não suporta nos ver juntos.
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Evergreen
General FictionUma conveniência imposta por uma regra social obrigatória, um mundo onde não há amor maior do que o que podemos cultivar pelas leis. Hielena é a escolhida para se casar com o temido ministro Virgo, o homem de capa preta, mas seria ela corajosa o suf...