Dois braços grandes me envolvem num abraço quentinho, meu coração fica por alguns instantes acelerando, gosto quando ele me abraça, Virgo coloca um beijo gentil na minha bochecha e depois enfia a mão dentro da túnica que eu estou vestindo. Fecho os olhos sem conseguir parar para pensar em nada.
— Minha esposa está zangada pela nossa calorosa conversa de mais cedo?
A voz dele está baixa, é carregada de um tom mais profundo.
— Um pouco — respondo sincera.
— Não tinha o intuito de irritá-la — ele diz baixinho.
— Virgo...
— Está me evitando.
Olho para nossa cama, sei que devo ter um pouco mais de paciência com ele, mas é que depois da conversa que nós tivemos, não sabia o que falar, fiquei um tanto sensível e depois da refeição e vim para o quarto, Virgo se manteve distante e acredito que tenha ficado na sala até agora, chorei por alguns momentos e sei que essa foi a melhor forma que encontrei de lidar com a situação.
Me viro para ele, seus olhos também estão avermelhados, sua mão pousa sob minha face e me toca a bochecha, nossos olhos se encontram e nos fitamos em silêncio por alguns momentos. Sei a forma como me sinto, mas não sei como descrever isso porque nunca me senti assim antes, nunca quis sentir isso por ninguém.
Pouco me importou na vida a forma como meu jeito de ser pudesse impactar os outros desde que isso não infringisse nenhuma lei, sempre estive tranquila, mas agora com o Virgo as coisas não parecem tão simples assim.
Nunca seriam.
— Lamento por tê-la feito chorar, não tinha intenção, precisei pensar sobre nossa conversa para justamente acalmar os ânimos — diz ele com certo receio na voz. — Me sinto muito mal por ter essa sensação de que talvez isso nos afaste, não é meu objetivo.
— Você também chorou?
— Sim.
Ele sorri e isso me faz sorrir também, me inclino e o abraço com carinho, ele coloca um beijinho na minha testa. Fico por momentos agarrada a ele deixando que meu corpo se envolva pelo calor gostoso, permitindo que eu viva isso sem que me questione ou martirize.
Sei que em qualquer outro momento da vida isso nunca poderia acontecer entre dois desconhecidos, mas está acontecendo entre eu e Virgo, estamos tendo esses momentos de atrito e conexão, algo realmente raro e do qual sei que nunca viveria com mais ninguém.
— Sinto que as coisas não devem ser assim — ele diz baixinho e coloca outro beijo em minha testa. — Não que me olhe com tanta raiva.
— Não era raiva de você e sim das coisas como elas são — confesso incerta e fico triste por chegar a essa conclusão novamente. — Sei que o meu papel não é te roubar paciência, sinto muito.
— Hielena você só pode estar de brincadeira comigo — ele diz e se afasta um pouco me olhando nos olhos. — Nunca houve outra pessoa em toda a minha vida que fizesse questionar tanto quem sou e o que faço. Acredito inclusive que estou começando a entrar numa crise existência profunda desde que nos casamos porque você trás tantas questões que tenho ignorado e que não tenho visto que isso faz com que me sinta próximo de algo que tenho muito medo de ser.
Fico ouvindo isso e absorvendo tudo o que ele acabou de falar.
E sei que agora tem mais significado, tudo tem se intensificado rapidamente para nós dois sem que haja tantas explicações lógicas ou plausíveis. Sei que tenho dentro do coração essa vontade incrível de ter podido escolher com quem poderia me casar desde muito pequena, mas isso agora me parece realmente irrelevante.
Porque me casei com alguém que não queria, com alguém que eu sei que também não me queria, mas que agora faz com que a minha singularidade de existir se torne tão insignificante que me sinto medíocre.
Medíocre por ver o despertar de sentimentos pequenos e simples por um homem.
— Eu não posso te pedir que mude, não quero isso, mas não quero sentir que te transgrido.
— Não transgrede! — afirmo profundamente sincera. — Eu não entendo bem esse misto de emoções.
— Nem eu — Virgo toca minhas faces com carinho. — Eu sinto que é forte e tão dramático.
Sorrio, ganho um sorriso de volta, mas não consigo manter o sorriso, eu tenho entrado num estado de negação muito profundo desde que o Virgo admitiu que mentiu para mim e isso parece suficiente para que eu não continue e polarizar qualquer coisa que eu venha a sentir por ele.
Porque sei que é sexual, porque tenho certeza de que é atração e eu ainda não confio nele, mas e se for mais do que isso?
— Não mereço seu sorriso, minha esposa?
— Com um pouco mais de esforço talvez!
— Hielena eu...
Não!
Me desvencilho dos braços dele e me afasto indo para a cama, começo a tirar a minha túnica, as mãos firmes seguram o tecido e as puxam para baixo com firmeza, começo a chorar sem saber porque, me sinto tão... tão...
— Não faça isso! — ordena ele cheio de raiva. — Não faz mais isso, está bem?
— Tá — cubro as faces tomada por uma vergonha intensa.
Ainda me pergunto por que, ainda me questiono, mas é muito óbvio.
Estou me apaixonando por ele.
Ele se inclina e me abraça de novo com força, sua mão segurando a minha e seus lábios colocando um pequeno beijo em meu ombro.
— Não quero seu corpo agora, quero seu coração.
— Será que tem algo para me dar em troca? — ouso perguntar.
— Tenho o meu, se você quiser é claro.
Meu coração dispara e me sinto agoniada, mas o aperto dele se torna mais forte e isso faz com que eu me contenha aos poucos, com que aprenda a segurar as forças do sentimento, tento vasculhar dentro da minha mente qualquer momento da vida em que eu tenha me sentido assim, mas nada me vem à mente.
Nem a minha mais pura satisfação de presenciar o nascimento de algum dos meus sobrinhos me causou tanta coisa junta dentro de mim, como se a qualquer momento fosse explodir de tanta felicidade ou com toda essa tensão que vibra no meu corpo... no meu coração.
— Eu a quero por completo.
Será que eu estou pronta para isso?
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Evergreen
General FictionUma conveniência imposta por uma regra social obrigatória, um mundo onde não há amor maior do que o que podemos cultivar pelas leis. Hielena é a escolhida para se casar com o temido ministro Virgo, o homem de capa preta, mas seria ela corajosa o suf...