— Gostou do quarto?
— É bem grande.
O quarto é quatro vezes maior do que até mesmo minha casa inteira, olhar para uma cama tão grande ainda é algo que me deixa no mínimo intrigada, Virgo acaba voltar ao quarto teve que sair devido a um chamado da mãe dele, nem consigo ainda assimilar o fato de que o lugar tem uma sacada com vista para todo o jardim bem como para a cidade de Sonora.
É bastante assustador olhar para tudo isso assim, me sinto despreparada e incerta porque o máximo que cheguei perto de alguma grande metrópole foi em todos os livros de história que li, vi fotos é claro, vídeos, mas não dei atenção, sabia que nunca sairia do meu canto e que provavelmente viveria toda a minha vida onde nasci, perto dos meus pais.
— Conversei com minha mãe, ela concordou em nos deixar descansar — avisa ele e tira os sapatos.
— Não me importo em descer — aviso bastante sincera.
— Não é questão disso, ela agiu errado e sabe que não deveria ter feito o jantar hoje, agora ela que se vire com a família, não vão se importar, mamãe reúne constantemente todos aqui para refeições e jantares — responde se aproximando. — Vem tomar banho?
— Eu prefiro tomar banho depois se não for incomodo, pode contabilizar do meu consumo — falo meio incomodada.
— Besteira — protesta e começa a tirar a túnica na qual vestiu. — Venha, pedi que tragam nossa refeição aqui no quarto, estou faminto, depois do banho quero dormir e descansar.
Tiro a minha bolsa do ombro e coloco sob a cama, puxo meu vestido para cima dizendo para mim mesma que seria ignorância me negar a tomar banho, ainda mais porque sei que não posso gastar todo o meu consumo por orgulho. Dobro meu vestido e coloco sob a cama em cima da minha bolsa, junto as mãos na frente do corpo e o sigo sem olhar para sua nudez.
Entro no banheiro e olho em volta completamente chocada com a parede de vidro transparente, logo adiante tem um poço com água em formato redondo, à direita uma pia com lavatório e um acento para as necessidades, tenho a nítida sensação de que qualquer um lá fora poderá nos ver aqui.
— Não se preocupe, são espelhados, podemos ver tudo lá fora, mas não podem nos ver aqui dentro — ele vai descendo os degraus rumo ao poço. — Presumo que não saiba nadar.
Nunca vi tanta água em toda a minha vida.
— Venha, eu a seguro.
— Eu não...
— Vamos, a água será filtrada dentro de alguns minutos para ser reutilizada para outros fins, não teremos muito tempo até que seque.
Franzo a testa, me sinto travada, mas ainda assim me vejo caminhando até o batente, tem degraus de pedra que vão fazendo com que desçamos para dentro do poço, quando sinto minhas pernas sendo tocadas pela água meu corpo se arrepia e engulo meu entusiasmo pela sensação gostosa que toma meu corpo, tenho um pouco de medo conforme a água vai subindo e subindo até a altura da minha cintura, até que sinto as mãos firmes do Ministro me segurando pelos quadris e me puxando para junto dele.
— A água tem sais que irão promover a limpeza de todas as impurezas do corpo — ele fala bastante tranquilo. — Basta que passe ela em seu corpo e as impurezas saem.
— Posso ficar na escada...
— Pare com isso, não me evite — corta bastante sério.
— Está bem.
Junto as mãos experimentando a sensação de segurar bastante água e despejo em meu rosto sentindo meus pés flutuarem enquanto Ministro me segura, essa sensação é estranha, porém satisfatória.
— Imagino que seja assim que nos sentiríamos se os mares fossem acessíveis — falo e toco a água vendo minha mão transparecer dentro dela. — Tanta água, para apenas um banho.
— E para limpar a casa, lavar pratos e lavar alguns tipos de roupas — ele diz muito baixo. — O sistema de filtros vai limpando a água conforme ela é utilizada, reutilizamos a água todos os dias para diversas coisas.
— Nós também reutilizamos a nossa água, mas apenas para irrigação das plantas no subsolo e para descarga sanitária — explico e jogo água sob meus ombros depois sob minha cabeça.
— Sei que você está chateada com a situação, não merecia que eu houvesse mentido para você, contudo, foi algo necessário — Virgo permanece me olhando bastante pensativo. — Eu não gostaria que as coisas entre nós houvessem acontecido do jeito que aconteceram, se eu pudesse ter escolhido não teria escolhido fazer parte do que meu avô me pediu, mas não pude ponderar, não faz parte da minha personalidade ficar lamentando por decisões, eu sei como lidar com minhas escolhas muito bem, mas jamais colocaria você em alguma situação propositalmente.
— Agora já está feito — analiso as minhas mãos dentro da água por alguns momentos, consciente disso. — Ainda acredito que poderíamos ter resolvido sem nos casarmos, nem que para isso eu me escondesse na casa de algum parente.
— Não é tão simples, teria que dar satisfação aos seus pais e eles não poderiam omitir nada dos seus irmãos e familiares, não é coisa que se conte todos os dias para pessoas normais, assustaria a todos e entrariam em pânico por não saber lidar com a situação, talvez até quem sabe não acabassem por enchendo você de acusações?
Eu não sei o que dizer.
— Não estou tentando convencê-la de que não tenho culpa, só estou explicando para que você tem consciência de que em parte é muito fácil para vocês viverem suas vidas normais enquanto nós emos todos os dias que fazer escolhas difíceis que nos custam muitas coisas.
— O amor da sua vida — concluo pouco agradada.
— Não me doo por Olívia, ela já se casou e está contente com o matrimônio dela, nem me arrependo de ter escolhido você se é o que quer ouvir, somos diferentes e isso é fato, mas não é barreira para que tenhamos uma boa união.
Acredito muito pouco nisso.
— Tudo o que temos vivido foi verdadeiro para mim...
— Não quero falar sobre isso.
— Por que não? — ele procura o meu olhar. — É minha mulher, não poderia esconder as minhas intenções para com você, me sinto atraído e quero poder dividir uma boa relação com você, temos química.
— Ama outra mulher, Virgo, por mais que se sinta atraído por meu corpo, não seria verdadeiro — replico ligeiramente. — Só se encantou porque me viu nua.
— Há muito em você que me atrai e não irei negar isso — ele se aproxima de mim e me abraça puxando meu corpo mais para baixo. — Eu gosto da nossa convivência.
— Eu não sei se seria suficiente ou seguro.
— Eu farei o possível e o impossível para que acredite em mim e nas minhas intenções mais profundas de cuidar para que fique bem e segura.
Sei que não acontecerá, mas não sei o que falar para que Virgo pare de dizer todas essas coisas que não aconteceram e que não vão acontecer.
Não vão acontecer nunca mais.
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Evergreen
General FictionUma conveniência imposta por uma regra social obrigatória, um mundo onde não há amor maior do que o que podemos cultivar pelas leis. Hielena é a escolhida para se casar com o temido ministro Virgo, o homem de capa preta, mas seria ela corajosa o suf...