— Está com medo?
Virgo me lança um olhar um tanto curioso, ele ainda não consegue esconder seu encanto com nosso novo recém-chegado, tão pouco seu marasmo, acredito que bem como eu jamais viu um peixe assim pessoalmente, não o tocou tão pouco chegou perto de imaginar a perfeição de uma criatura aquática como esta.
— Um pouco — ele responde. — Já tentaram tantas vezes fazer clones de peixes que me parece impossível que seja real.
— Temos que achar uma caixa maior, talvez um recipiente — aconselho. — E colocar ele em algum lugar onde nenhum dos seus ajudantes poderão achar.
— Já devem ter deixado a nossa refeição no quarto — ele diz e se ergue.
Estamos sentados nos degraus do tanque, a água já se foi, contudo ainda seguro o copo observando Milagre, Virgo também, ambos estamos maravilhados enquanto o peixinho apenas se move para os lados dentro do vidro estreito.
Fico de pé tomando cuidado com o copo, ele segura o meu cotovelo me indicando os degraus enquanto subimos um a um, sorrio apreciando mais uma vez o filhote, tão encantada que ele esteja aqui que ainda é meio complexo de assimilar tudo. O que os meus sobrinhos pensariam se vissem um filhote de peixe pessoalmente? Meus pais? Nós nunca nem entramos em um tanque na vida, tão pouco chegamos perto de alguma criatura aquática.
Voltamos para o quarto de Virgo e ele pega uma toalha cumprida, ele coloca sob meus ombros e pega o copo, o leva até uma mesa de refeições que está posta com pratos e duas taças com o que parece ser água. Me aproximo da mesa e me sento olhando para o prato, tem bastante salada e algumas frutas fatiadas, castanhas, pão, é um prato bem grande.
— Obrigada — falo e pego o pão com a mão, divido ao meio.
— Quer ovos? — indaga ele olhando para o copo com Milagre num canto à mesa.
— Não, obrigada — mordo meu primeiro pedaço de pão e mastigo muito agradada com o gosto, é doce e macio. — Não comemos muitos ovos nos estados do Norte.
— É um hábito recorrente, mamãe tem algumas criações — ele responde pensativo. — Por que acha que o peixe veio até você?
— Eu não sei — dou de ombros e pego um pedaço da fruta vermelha, enfio na boca e me agrado também. — Hummm, essa com certeza é da plantação do primo José, as frutas dele costumam ser grandes e doces, bem suculentas.
— Confesso que não sei de onde as frutas vêm, mas sei que elas vêm mesmo da sua região — Virgo responde com um pequeno sorriso. — Creio que devamos cuidar do peixe até que ele se desenvolva, se viver devemos levá-lo até mamãe para que ela o entregue a universidade dos estudos local.
— Não acredito que seja a melhor alternativa, devemos mantê-lo em segredo para ver primeiro se ele se reproduz ou se aparece outro — falo. — Talvez seja fêmea.
— Navie seria tão generosa? — Virgo se endireita na cadeira. — Você viu de onde ele surgiu?
— Eu disse que o havia visto — replico. — Você quem não acreditou.
— Bem, vi apenas um fóssil — alega pensativo.
Junto as folhas da salada com a mão e enfio na boca, mastigo, confesso que estou faminta, não tenho comido direito há dois dias basicamente.
— Eu vi o peixe depois o fóssil, então o peixe veio — junto os ombros por mais uma vez e Virgo fica me olhando enquanto usa os talheres para fatiar seu ovo cozido, ele sorri. — Hummm, por que está sorrindo?
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Evergreen
Ficción GeneralUma conveniência imposta por uma regra social obrigatória, um mundo onde não há amor maior do que o que podemos cultivar pelas leis. Hielena é a escolhida para se casar com o temido ministro Virgo, o homem de capa preta, mas seria ela corajosa o suf...