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Paramos diante da casa da Anciã.

Bato na porta duas vezes pois estou com um pouco de pressa, ainda não amanheceu, porém sabemos o suficiente para ter certeza de que em questão de menos de uma hora o sol irá nascer, não teremos tempo de voltar para a casa dos meus pais.

Agora é questão de proteção.

Mal consigo olhar na cara do Ministro, mal consigo imaginar que ele mentiu para mim, sinto-me ingênua e isso é tudo o que eu menos fui durante a minha vida, algo que abomino, nem consigo acreditar que ele mentiu para mim.

Um ministro que mente!

— Entre — escuto a voz da senhora soar de dentro da casa.

Giro a maçaneta e entro primeiro, ela está sentada no chão diante de uma fogueira acesa com dois copos ao lado de seu corpo, a velha chaleira em cima das brasas e roupas gastas como sempre.

— Estão cinco minutos atrasados — informa a Anciã pouco amigável.

Me sinto contrariada enquanto me aproximo e me sento no chão diante da fogueira, ela também mentiu para mim, todos eles mentiram para mim, infringiram a lei, inventaram coisas para me manipular.

— Não menti para você Hielena, Virgo se esforçou, mas também não mentiu, ele apenas fez o que o avô ordenou que ele fizesse — avisa ela com autoridade na voz. — Ele que por vez recebeu a ordem do Estado Majoritário.

— Mas disse que...

— Eu disse a verdade, irão se casar e serão os pais da criança, Virgo se nega a acreditar porque as circunstâncias que o trouxeram a você o tiraram das escolhas egoístas que sempre o cercaram — ela me interrompe.

— Não sou egoísta — Virgo retruca e se senta ao meu lado diante da fogueira.

— Tem como cancelar? — pergunto ainda zangada. — Podemos simplesmente dizer ao conselho que...

— Não podem cancelar o que já está feito — ela responde me interrompendo, os olhos pintados de uma cor vermelha em formato horizontal. — Virgo escolheu você quando decidiu não se casar com Olívia e a escolha dele o tornou pai da sua criança.

— Eu não quero me casar com alguém em quem não possa confiar, já fui muito humilhada.

— Não a humilhei — retruca ele, inquieto.

— A única pessoa em quem pode confiar neste momento é Virgo, ele é a única pessoa que tem lutado por você e cuidado para que fique bem até mesmo antes de conhecê-la.

— Ele não me ama, ele não me quer.

— Besteira, o amor já existe, ele só ainda se sente cego por conta do comodismo que era estar com Olívia.

— Eu estou aqui — Virgo pragueja.

— Eu quero outro noivo, afinal de contas, se puderam tirar o Sven da jogada podem tirar ele também, basta que você diga para eles que não é mais o Virgo e sim outro homem — protesto chateada.

A Anciã sorri pela primeira vez desde que a conheci.

— Menina, não seja teimosa, não tem um ego tão grande para ser ferido por conta de uma omissão, Virgo selou o destino dele quando escolheu você, sei que sabe que qualquer homem poderia ser pai do Oráculo, como sabe a última mãe do Oráculo era uma mulher que se deitava com diversos homens sem seletividade alguma, mas não é qualquer homem a quem ele poderá chamar de pai, nem você de marido, Virgo é virgem e leal ao que é certo, ele é leal a você.

— Percebi — começo a chorar. — Fui ingênua.

— Não foi ingênua, só é pura — alega ela com muita calma. — Virgo jamais iria feri-la de propósito, acredite, ele só quis protegê-la.

— Não entendo o que fiz para merecer este castigo ­— falo entre lágrimas. — Sven também é um homem digno e puro de coração.

— Mas ele não é capaz de escolher entre você e o dinheiro que tem, deveria saber, se ele quisesse o teria feito, apresentado alguma intenção mediante do ministério ou reclamado com alguém quando anunciou seu noivado — Virgo retruca bastante sério.

— Deveria saber que por mais que ele tentasse nunca conseguiria, porque afinal de contas eu seria obrigada a me casar com alguém que só estava encenando sentimentos por mim, alguém que estava brincando com as minhas boas intenções e com meu bom caráter — respondo tão magoada, chorosa, sinto como se meu coração estivesse se contraindo muito. — Sinto-me quebrada e triste.

— Eu não queria causar sofrimento com as minhas palavras, apenas queria que soubesse que eu não faria amor com você sem que soubesse o que aconteceu antes de eu conhece-la por completo — ele responde meio rude. — Não deve chorar, já me sinto muito mal devido ao fato de ter omitido toda a verdade.

— Você só fala mentiras — berro. — Que tipo de ministro mente? Me diga!

— Eu menti para protegê-la, se soubesse de metade das coisas que fariam com você ou com a criança você respeitaria um pouco as minhas decisões.

— Deve se sentir traída e usada, mas não seja tola ao ponto de acreditar que Virgo faria isso de propósito, ele foi colocado nessa situação bem como você foi, ele é tão ou mais inocente que você — a Anciã está muito serena. — Imagino que a partir de agora ambos não têm para onde voltar.

— Irei para a casa dos meus pais e ele ficará em minha casa até resolvermos tudo — seco minhas faces, lambendo as feridas. — Até que resolvamos essa situação.

— Não devem procurar seus pais, seus próximos passos devem ser dados rumo aos estados do sul onde poderão ficar seguros na casa da mãe de Virgo — ela fala.

— Mas ela me odeia — reclamo confusa. — E quanto aos meus pais?

— Eles serão comunicados de que precisaram viajar.

— Sem acompanhante? — indago confusa.

— Estarão casados — A Anciã comunica e dá um breve sorriso. — Por que acha que vieram para cá agora? Já podemos celebrar a união?








 — Por que acha que vieram para cá agora? Já podemos celebrar a união?

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