XIII

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Acordo.

Me estico na cama e procuro meu travesseiro, me aconchego a ele e fico quieta, me sentindo quase preguiçosa, demoro um pouco para querer abrir os olhos, sinto como se houvesse dormido mais do que deveria, ao mesmo tempo respiro fundo me sentindo bem, descansada.

Apenas como há muito tempo não me sentia.

O cheiro de café envolve minhas narinas e levo ao menos alguns segundos até chegar a conclusões óbvias, meu cérebro acompanha minha linha de raciocínio enquanto naturalmente sinto um toque brando nas minhas costas.

O toque me causa arrepios, mas ainda assim, me ergo, me apoio no meu cotovelo e abro os olhos me deparo com o par de olhos mais claros, calmos, cabelos bagunçados, ele usa uma calça de tecido fina.

—oi.

—eu dormi muito?—é a minha primeira pergunta.

—o suficiente—Virgo me analisa por alguns instantes—estou preparando algo para comermos, tem pão e leite.

—você saiu? Não tive tempo de pensar em nada fresco...

—fique tranquila, mamãe passou aqui e me trouxe bastante comida, ela se preocupa demais com nosso bem-estar—ele mantém a mão no meio das minhas costas—não quis incomodar, queria que você descansasse bastante.

—obrigada, acho que não durmo tão bem há bastante tempo.

Ele se ergue e desvio o olhar, então vai para o rumo da cozinha, me ergo e me envolvo no meu lençol de cama, vou até meu trocador e pego um vestido qualquer, tento ser rápida ao me vestir, depois que me visto, volto para minha cama e começo a arrumá-la como faço toda noite quando me levanto.

—ela trouxe ovos, quer que eu faça algum para você?

Acho que faz mais de meio século que não como ovos, um pequeno luxo para quem tem condições, comemos ovos em épocas do ano quando as poucas aves do meu pai colocam alguns, nossa alimentação é basicamente derivada de frutas, verduras e legumes, raízes, folhas, não comemos quase nada de origem animal, mamãe costuma usar os ovos para fazer bolos, o que também raramente acontece, papai não gosta que comemos ovos, ele diz que é um tipo de "pecado", já que a lei é clara quanto a isso.

—não obrigada—respondo—você come sem peso na consciência?

—às vezes sim, as vezes não—Virgo está diante do meu pequeno fogão—mas possuí muitas vitaminas.

—costumo beber mais leite de outros grãos—confesso—sua mãe tem criação?

—sim, nós temos nossa própria criação, tenho quatro sobrinhos e ela gosta de agradá-los com bolos e biscoitos quando vão a casa dela.

—meus sobrinhos gostam mais de frutas, coisas doces.

—os meus não.

—são poucos por isso são conformados, se fossem em grande quantidade, com certeza vocês não teriam controle algum sob eles.

Me aproximo sem muita pressa, observando este imenso homem diante do meu fogão, a mesa está posta para dois, tem pão, frutas em uma cesta, leite em uma garrafa, o café está na minha garrafa, fico surpresa que ele consiga se virar na minha casa tão bem.

Pelo visto o ministro é alguém que eu realmente não conheço.

—mamãe disse que devemos escolher um local para morarmos, já pensou sobre isso?

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