— Mais calma?
— Sim.
— Trouxe um chá para nós dois.
Me sento no colchão, o vejo entrando no quarto carregando dois copos longos com chá, sinto o cheiro doce de camomila, é inevitável sorrir, é a erva predileta da minha mãe para noites mais frias.
Virgo se senta diante de mim e me entrega o copo, ele usa uma peça íntima curta e nada mais, acabei adormecendo depois da nossa quase conversa sobre o que eu chamo agora de tentativa de eu não surtar.
Acredito que ele também tenha adormecido, é algo do qual sei que talvez não estejamos prontos para lidar agora, porém em minha mente nada se passa para tentar justificar os sentimentos rápidos e fortes.
Porque até quatro noites atrás ainda o detestava, ainda queria ele bem longe de mim, agora mal consigo pensar como poderia ser sem ele por perto. Isso faz com que me pergunte se estou assim porque fui a escolhida, por causa dos hormônios, mas e quanto a ele?
Será que há algo mais por trás de todas essas sensações?
Costumo ser tão racional sobre a maioria das coisas que mesmo que saiba que estamos cercados por um bocado de coisas que não se explicam na prática, me parece difícil acreditar nessa coisa de que estou predestinada a ser mãe do Oráculo.
— Acha que estamos assim porque ele está fazendo isso conosco? — sopro meu líquido quente dentro do copo juntando as mãos em volta do mesmo.
— Tem acontecido tanta coisa que sinceramente, não duvido — ele me olha bastante concentrado, sopra seu chá também. — Só que algo não se explica.
— Ele não está aqui — concluo.
— Exato.
Suspiro, não tão infeliz, mas curiosa, nada que eu saiba sobre o último Oráculo poderia preencher um por cento de todas as dúvidas que tenho a respeito disso de forma fácil, principalmente porque há pouca evidência datada de quem era ou o que foi tão pouco dos anteriores a ele.
Não há dados sobre a mãe além do que já sabemos, nem nomes, até então eu acreditava que tudo não passava de uma lenda que os antigos povos contavam ao interpretar suas reações ao ter que lidar com pessoas que viviam do outro lado de Navie.
Porque sabemos que muitas pessoas indesejadas eram enviadas para esses lugares onde deveriam morrer com alguma doença ou envenenado, a antiga ordem fazia isso com os indesejados sem pensar duas vezes ou ponderar, os que sobreviviam voltavam para às margens da sociedade com habilidades desenvolvidas.
Os Anciãos são as provas mais vivas disso, mas foram de certa forma "amaldiçoados" a conviverem com seus dons num papel de serventia ao Estado. Não podem se casar, não podem formar família, eles nascem para servir, algo do qual eu também me questionava muito durante o curso, só que não tive tempo para pensar profundamente.
— Posso tentar pesquisar com meu buscador...
— Não teremos as respostas que precisamos, eu estudei, acredite, não há muito além do que ensinam nos cursos de História da Humanidade ou Ciências Sociais e Filosóficas, afinal de contas, para que Filosofia se não há liberdade de expressão?
Ele me olha e dá de ombros fazendo bico como se chegasse a mesma conclusão, isso me faz sorrir, provo do meu chá, está levemente adocicado e gostoso, com um toque de menta.
— Os filósofos debatem avidamente em púlpitos em diversos eventos promovidos pelo Estado durante os jogos anuais.
— Aqueles jogos em que vocês apostam para ver quem é a pessoa que pula mais alto por cima de uma tábua?
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Evergreen
General FictionUma conveniência imposta por uma regra social obrigatória, um mundo onde não há amor maior do que o que podemos cultivar pelas leis. Hielena é a escolhida para se casar com o temido ministro Virgo, o homem de capa preta, mas seria ela corajosa o suf...