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— No que está pensando?

Olho para o lado, estou deitada na minha cama com este enorme homem deitado ao meu lado, alguém do qual nem fazia ideia até alguns dias atrás de que seria meu futuro marido. Nem que sonhei que um dia compartilharia algum tipo de intimidade.

— No bebê.

Eu sei que não devo mentir, mas é automático falar sobre isso, assustador que eu venha pensando numa vida que sequer sonhei que existiria antes, agora, no entanto estou pensando sobre isso, sobre um bebê, um filho.

Volto a olhar para a parede, ficar em casa nunca foi tão tranquilo e silencioso, sei que se eu estivesse sozinha estaria lendo um livro ou vendo antigos mapas que tenho desenhados em cópias que tirei da biblioteca local, fazendo esboços de como eram os vários relógios ou peças internas de um dos extintos séculos XVII na antiga terra.

Virgo é um companheiro silencioso também, calado, depois da nossa refeição vim me deitar e ele me acompanhou, cochilei e acordei há pouco, acredito que ele tenha dormido um pouco descansar para ele assim como para mim é um certo luxo em algumas épocas do ano.

— Não ocupe sua mente com isto — diz baixinho.

Gostaria de não ocupar.

Desde que tudo isso começou não me permiti sentir tantas emoções ou responsabilidades, a verdade é que eu nem parei para pensar com cuidado sobre nada disso, estava muito ocupada com minhas frustrações sobre estar casada com alguém contra minha vontade, imaginando como seria ter que tornar minha existência objeto da atenção de alguém.

É assim que sempre vi meus pais, mas de um jeito mais terno, talvez por esse motivo que nunca tenha me preocupado com o instituto do casamento e que não tenha pensado no celibato direito, que não tenha olhado para um homem do jeito que olhei para o Ministro hoje quando acordamos, eu realmente nunca parei para ver um homem na minha vida.

— Deve ser bom de cama — digo para mim mesma.

A respiração dele se fixa na minha nuca e arregalo os olhos saindo dos pensamentos, uma lufada gostosa toca minha cabeça e sei que ele ri em silêncio, ri muito, minhas bochechas queimam e sei que é algo muito errado.

O sexo é uma coisa que já foi usada de diversas formas durante a nossa evolução, ele já foi alvo de desejo, luxúria e arma de guerra, estupros eram comuns na antiga república assim como a prostituição, moeda de troca entre muitas pessoas com poder, pelo que soube a prática de vender a virgindade de suas filhas era algo que os colonos faziam ao arranjar bons casamentos, outros davam suas mulheres para noites regadas de sexo em troca de pactos por território ou poder.

Ou só porque objetificavam-nas... algumas delas adoravam isso.

Em alguns textos fica bem claro que em poucos momentos da história as mulheres conseguiram ter algum tipo de liberdade, mas a que elas mais tiveram privação foi no sentido sexual e em relação as decisões de seus corpos, decisões pessoais.

Poucas mulheres foram tão donas de si em suas vidas.

Poucas mulheres foram donas de alguma coisa.

— Não acha curioso que nossas decisões sejam entreguem a pessoas que mal nos conhecem, meu senhor? — questiono pensativa. — Nossos direitos reprodutivos, nossas profissões, nosso direito de amar alguém?

— Sobre o sexo, acho intrigante — Virgo responde.

Coço meu rosto no braço e confesso que estou constrangida, Virgo passa o braço envolta da minha cintura e fico olhando para os dedos grandes pousados em minha barriga.

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