🗝14

487 143 28
                                    





— Seus pais acabaram de telefonar, parece que saíram, creio que nossa visita a casa deles não seja mais possível.

— Tudo bem.

Como ministro imagino que ele tenha recursos, meios de se comunicar, está mexendo em seu comunicador portátil, tive que limpar as vasilhas que sujamos após o café, Virgo me analisa por alguns instantes e isso me deixa constrangida.

— Prefere que eu vá para a minha casa?

— Fique se desejar, podemos jogar alguma coisa ou conversar, talvez não tenhamos tanto tempo quanto queremos até a cerimônia de noivado.

— Provavelmente não, há muito a se fazer por estes lados.

Não temos castas muito importantes em Zimbar, a comunidade é pequena e formada por serventes e poucos comunicadores, compomos pouco mais de dez mil pessoas no nosso estado, nossa base é a agricultura e pequenos serviços de prestação ao Estado Majoritário, há outros estados dedicados a tecnologias, saúde e educação, tive que cursar a universidade no estado vizinho, fica há cerca de sete quilômetros daqui, voltava para casa aos fins de semana, foi um bom momento para eu aprender a ter mais independência.

— Podemos ficar lá fora se preferir — Virgo sugere.

Volto para realidade, ele já colocou uma camisa comprida de tecido fino, parece confortável em estar aqui, mas não imaginei que fosse querer uma aproximação tão rápida, contudo, afinal de contas, iremos nos casar e ter um filho e isso será uma das coisas mais importantes que já aconteceram em nossas vidas, para nosso planeta, porque ele evitaria se acostumar?

É o nosso destino, nosso dever, mesmo que não seja nossa escolha.

— Prefiro ficar aqui, logo mais posso preparar nossa refeição principal, quer ler algum livro e falar sobre sua profissão?

— Sim, gosto de ler.

Não sei se é hábito da maioria dos homens que conheço de ler, mas imagino que para um provedor de leis seja, talvez não sejamos tão diferentes assim.

— Quantos sobrinhos tem?

— Muito barulho na ligação?

— Sim, bastante.

Começo a sorrir, é engraçado pensar que são tantas famílias em apenas uma.

— Acha que o nosso filho irá ser barulhento?

— Talvez, as crianças da minha família são muito barulhentas, já ultrapassamos a marca dos duzentos.

Vou para o sofá do meu pequeno canto de reflexão, me sento pensando muito sobre tudo isso, sobre o Oráculo, sobre a decisão do meu casamento com um completo estranho e o que isso irá refletir em Navie.

— Me conte um pouco sobre o que sabe do último Oráculo?

— Todos eles nascem de proles muito pobres, ao que tudo indica são crianças que vem de uma genética compatível com os organismos do planeta, podemos falar do ponto de vista científico que todas as genitoras de Oráculos foram mulheres que tiveram seus corpos afetados pelo planeta diretamente, mas pelo outro ponto... o não cientifico preferem acreditar na profecia de que forças do universo enviam um Salvador para renovar a fé que devemos ter uns nos outros.

Virgo se senta ao meu lado no sofá e fica me encarando, curioso, sei que ele já deve ter ouvido diversas vezes sobre essas histórias, porém ele está curioso.

EvergreenOnde histórias criam vida. Descubra agora