capítulo 12

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- É  claro. De  que  outra  maneira eu saberei  onde  apanhá-la para jantar? Por  mais  que  Anahi  tivesse  gostado  de  discutir  com Alfonso sobre  a  prepotência dele,  no  final,  não  se  incomodou.  Ele  tinha  o  péssimo  hábito  de  conseguir  o  que  queria em  quase  todas  as situações,  então,  de  que  adiantava discutir? Ela  também  decidira  que,  pelo  tempo  que  poncho  se  determinasse  a  ficar  em  sua vida  e  na  vida de Alan,  era  melhor  ser  gentil  com  ele.  Não  fazia  sentido  antagonizá-lo o  tempo  todo,  quando  ele potencialmente tinha tanto  do  futuro  dela  nas  mãos. No  momento,  tudo  que  ele  parecia  querer  eram  tempo  com  o  filho  e  informações sobre  Alan.  Não  estava  tentando  lhe  tirar  o  bebê  ou  ameaçando  tirá-lo  mais  tarde, mesmo  se  ambos  soubessem  que  ele estava no  seu direito  de  fazer  isso. De  ameaçar,  não  de  tirar  o  bebê  de  Anahi .  Mas  se  ela  estivesse  no  lugar  dele, raiva e  traição a teriam  feito  agir  de  maneira hostil  e  ameaçadora. Então,  naquela  tarde,  quando  poncho pediu  para  que  ela  lhe  mostrasse  onde  morava com  tia  Helen,  Anahi  o  levara  até  o  pequeno  sobrado  em  Evergreen  Lane.  Não  era grande  coisa  comparada  à  propriedade  luxuosa  onde  ele  crescera,  com  quadras  de tênis  e  um  quilômetro  de  caminho  ladeado  por  árvores  apenas  para  chegar  ao  portão da frente,  mas  durante  o  último  ano  a pequena casa se  tornara seu lar. Tia Helen  lhe  dera  o  quarto  de  hóspedes  e  ajudara  a  transformar  o  quarto  de costura  num  quarto  para  Alan .  Também  oferecera  sua  cozinha  para  as  centenas  de tentativas  e  erros  com  as  receitas  culinárias,  antes  que  elas  tivessem  coragem  de abrir  a própria padaria. Em  retorno,  Anahi ajudava  com  a  manutenção  geral  da  casa,  tinha  plantado novas  begônias  nos  canteiros  que  alinhavam  a  varanda  da  frente.  E  até  mesmo  ensinara tia Helen  o  bastante  sobre  computadores,  de  modo  que  ela  pudesse  enviar  e-mails  para velhas amigas  de  escola, que  nunca sonhara que poderia contatar  novamente. Apesar  de  Anahi ainda  acreditar  que  jamais  poderia  pagar  a  gentileza  de  sua tia,  Helen insistia  que  gostava da companhia e que  estava feliz por  ter  tanta  juventude e  atividade  na  casa  novamente.  O  que,  para  Anahi,  tornava  a  casinha  branca  com menos  de  um  acre  de  área  verde  mais  um  lar  do  que  a  Mansão Herrera,  com  seus  sinos  e luxos,  algum dia poderia ser. Respirando  fundo,  ela  olhou-se  no  espelho  do  banheiro  uma  última  vez...  Embora não  soubesse  por  que  se  importava  com  sua  aparência.  Sim,  fazia  tempo  que  não  tinha um  motivo  para se  mimar,  muito  menos  duas  vezes  num único  dia.  Mas  apesar  de  jeans  e  tênis  ser  mais  seu  estilo  ultimamente,  poncho  já  a  vira  de todo  jeito,  desde  vestida  em  short  e  camiseta  até  em  vestidos  longos  e  jóias inestimáveis.  Além  disso,  ela  não  estava  tentando  impressioná-lo  esta  noite,  estava? Não,  estava  tranqüilizando-o. Depois  de  mostrar-lhe  a Hospedaria do  Porto,  e  depois  que  ele a deixara em  Doce Cabana  novamente,  Anahi  tinha  terminado  seu  dia  na  padaria,  fechado  o estabelecimento  e  ido  para  casa  com  Alan  e  sua  tia.  Enquanto  Helen  preparava  ô jantar  para  si  mesma  e  mantinha  Alan entretido,  Anahi fora  se  arrumar  no  andar de  cima. Não  estava  se  arrumando  para  Poncho,  disse  para  seu  reflexo.  Estava simplesmente  se  aproveitando  de  um  convite  para  jantar  que  incluía  a  chance  de parecer  mulher,  em  vez  de  apenas  uma  mãe  trabalhadora  lutando  para  ser  uma empreendedora bem-sucedida. Somente  por  isso  estava  usando  seu  vestido  vermelho  favorito  sem  alças, sandálias  vermelhas  de  saltos  altos  e  brincos  que  imitavam  rubis.  Estava  sofisticada demais  para  o  restaurante  mais  caro  de  Summerville,  mas  não  se  importava.  Talvez nunca  mais  tivesse  a  oportunidade  de  usar  aquele  traje...  Ou  de  lembrar  a Alfonso do  que ele desistira quando  a  deixara ir  embora. O  toque  da  campainha  fez  seu  coração  disparar.  Anahi rapidamente  passou outra  camada  de  batom  e  se  certificou  de  que  tinha  tudo  que  precisava  em  sua pequena bolsa vermelha. No  meio  da  escada,  ouviu  vozes,  e  soube  que  tia  Helen  havia  atendido  a  porta  em sua  ausência.  Não  sabia  se  estava  grata  ou  nervosa  sobre  isso;  dependia  da  disposição atual  de  tia  Helen. À  base  da  escada,  ela  encontrou  tia  Helen  do  lado  de  dentro,  uma  das  mãos  na maçaneta. Nenhuma arma  ou panela  à vista,  o  que  era um bom  sinal. Alfonso estava  do  outro  lado  da  porta,  ainda  na  varanda.  Ele  estava  vestido  no mesmo  terno  cinza-chumbo  de  antes,  agora  com  o  paletó  no  corpo.  Com  as  mãos  unidas atrás  das  costas,  sorria  para  tia  Helen,  com  todo  charme  de  um  vendedor  de  carros. Ao  avistá-la, transferiu o  sorriso  para Anahi -  Oi  -  cumprimentou ele. 
-  Você  está  linda. -  Obrigada.
-  Eu  estava  dizendo  à  sua  tia  que  casa  adorável  ela  tem.  Pelo  menos  do  lado  de fora  -  adicionou-o  com  uma  piscadela,  provavelmente  porque  tia  Helen  não  o  convidara para entrar.
-  Gostaria de  entrar?  -  perguntou Anahi,  ignorando  a carranca da tia. -  Sim,  obrigado.  -  poncho também  ignorou  a  carranca,  entrando  e  passando  por  tia Helen. Ele  olhou  ao  redor,  e Anahi  imaginou se ele  estava  comparando  o  lugar  com  sua residência  palaciana,  possivelmente  achando  que  aquele  não  era  um  lugar  apropriado para  seu  filho  ser  criado.  Mas  quando  Poncho virou-se,  sua  expressão  não  continha censura  apenas  curiosidade.
-  Onde  está Alan?
-  Na  cozinha  -  respondeu  Helen,  fechando  a  porta  e  indo  naquela  direção. 
-  Eu estava dando  o  jantar  dele. Poncho olhou para Anahi, antes  que  eles  seguissem  Helen para os  fundos  da casa.
-  Pensei que  você  ainda o  alimentasse  nos  seios. Ela enrubesceu.
-  Eu  o  alimento,  mas  não  exclusivamente.  Ele  também  toma  suco,  come  cereal  e uma seleção  de  papinhas  de  bebê.
-  Ótimo  -  murmurou  ele,  observando  tia  Helen  rodear  a  mesa  da  cozinha  e sentar-se.  -  Quanto  mais  tempo  a  criança  mamar  no  peito,  melhor.  Isso  aumenta  a imunidade,  dá segurança ao  bebê  e  ajuda no  elo  mãe/filho.
-  E  como  você  sabe  disso?  -  perguntou Anahi , genuinamente surpresa. Alan estava  preso  a  um  cadeirão,  o  rosto  e  o  babador  melecados  de  papinha  de bebê,  enquanto  chutava  os  pezinhos  e  batia  as  mãos  contra  as  laterais  de  plástico  do cadeirão. Sem  esperar  convite, poncho  sentou-se  do  lado  oposto  de  Helen,  inclinando-se  para bagunçar  os leves fiozinhos dourados dos cabelos  de Alan que começavam a crescer. O  bebê  riu,  e  poncho  sorriu em  retorno. -  Contrário  à  crença  popular  -  respondeu  ele,  não  olhando  na  direção  de  Anahi  eu  não  me  tornei  diretor-geral  de  Corporação herrera apenas  por  nepotismo.  Por acaso,  sou  rico  em  expedientes  quando  preciso  ser.
-  Deixe-me  adivinhar...  Você  pegou seu notebook e  acessou a internet.
-  Eu  não  contarei - replicou  ele,  sorrindo-lhe.  Então,  para  tia  Helen,  falou: 
- Posso?  -  indicando  a seleção de  potinhos  com  comida de  bebê  na frente dela. A  mulher  idosa  lhe  lançou  um  olhar  que  dizia  claramente  que  não  achava  que  ele fosse  capaz,  mas respondeu:
-  Fique  à vontade. Poncho  pegou  a  colher  de  plástico  em  miniatura  e  começou  a  alimentar  Alan bem devagar,  esperando  pacientemente  que  o  bebê  engolisse  antes  de  oferecer  a  próxima colherada. Anahi ficou  de  pé,  observando... 
E  desejando.  Desejando  que  não  tivesse concordado  em  jantar  com poncho naquela  noite.  Que  não  o  tivesse  convidado  para entrar.   Desejando  que  esta  cena  não  fosse  tão  doméstica,  tão  parecida  com  o  que poderia ter  sido. Poncho parecia  totalmente  à  vontade  alimentando  o  filho,  mesmo  vestido  num  terno impecável.  Ele  era  também  estranhamente  bom  naquilo,  o  que  ela  não  esperava  de  um homem  que  não tinha  passado  muito  tempo  com  bebês  antes. Quando  Alan deixou  claro  que  não  queria  mais,  poncho  pôs  os  potes  e  a  colher  de lado  e  esfregou uma  mão  na  outra.

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