Capítulo 55

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Dor. É isso que sinto, apenas dor. Lembro-me bem da noite anterior. Os choques invisíveis que faziam eu me contorcer. E ali, sozinha na enfermaria, a dor me consumiu. Não apenas a dor infernal de seja lá o que a enfermeira me deu, mas tudo o que estava dentro de mim.

A saudade de Draco veio com força. Sinto falta de seus braços calorosos, o sorriso que ele só dava para mim e da sensação de seus lábios contra os meus. Merlin, por que tive quer perdê-lo? Céus, eu só quero tocá-lo novamente. 

Mas sua traição, a forma como me apunhalou pelas costas na frente de todos, aquilo doeu mais que o veneno se espalhando pelo meu corpo. Mas talvez eu não o tenha esquecido, talvez nunca vá, porque é ele. Sempre foi ele.

Por todos esses dias, fingindo ser quem não sou, abafei meus sentimentos e me impedi de chorar. Eu não podia, eu não queria me sentir frágil novamente. 

Mas quando a enfermeira se foi e o formigamento do veneno começou, eu soube que algo aconteceria. Não havia mais ninguém lá, só eu e a brisa gelada que entrava pela janela aberta. Estava escuro e frio, e eu estava com medo.

Um arrepio percorreu meus membros e eu conhecia aquela sensação. Foi então que percebi que o veneno, de alguma forma, estava dentro de mim. Mas estava mais forte dessa vez, a dose era alta e achei que morreria. 

Eu tinha que tomar um pouco do veneno todo dia, mas sempre o fazia de noite. Dessa vez não tive tempo, mas o veneno veio até mim de alguma forma que não sei explicar. Mas a enfermeira não me daria veneno. E ele não apareceria magicamente.

Meu sangue começou a esquentar e adrenalina acelerou meu coração. Me empurrei da cama e tentei ficar de pé, mas minhas pernas já haviam sido afetadas e fraquejaram. Caí no chão com força, os joelhos estalando com o baque no piso e minhas costas se curvando para frente. 

Me agarrei em um dos pés da cama, mas nessa altura eu já estava quase deitada em cima das minhas pernas. Pontadas pareciam me esfaquear a barriga e meu corpo se contorceu de dor. Minha cabeça latejava e uma tontura ia tomando conta de mim.

E mesmo com toda aquela dor, todo aquele sofrimento, tudo o que eu conseguia pensar era nele, apenas nele. Memórias me invadam a mente, mesmo que embaçadas, mas eu pude vê-lo nos pensamentos. 

Lembrei-me de seus cabelos louros meio ressecados. O dia presos naquela saleta parecia estar acontecendo bem diante de mim. Ele ficando por cima de mim, fazendo meu coração quase pular do peito. 

Vi também nossas noites na cama, deitados após o sexo. Ele sempre me abraçava nessas horas, como se me quisesse só para ele. Como se tivesse medo de eu sair correndo e deixá-lo para trás. No fim das contas, foi isso que aconteceu. Eu o deixei para trás. E talvez agora eu queira voltar e mudar a decisão.

Veio a minha mente nosso dia em Londres. Nestha Jones, ah eu lembro bem. Naquele dia da nossa pequena grande aventura, era como se o mundo tivesse parado só para nós dois. As cortinas do palco se abriram e deixaram meu era uma vez se tornar realidade. A plateia nos assistiria dançar naquela rua quieta de forma desengonçada, mas bela. A mais bela valsa que já dancei.

Mas a dor ainda estava ali, não só do veneno, mas do amor também. E naquele momento, deitada no chão me contorcendo de um lado para o outro, achei que morreria. Achei que esse era o fim, o meu fim, porque eu aprendi que o mundo festeja mesmo sem convidados. O tempo tem suas próprias regras e eu não lidava muito bem com ela. 

Ali, no meu suposto leito de morte, lembrei-me de Cedric e os romances que lia para mim. Sempre que algum dos amantes morria, havia um último discurso, uma última palavra. Minha vida podia não ser o romance mais bonito e bem escrito, mas eu precisava fazer isso.

Palavras, melodias, poemas, tudo veio à minha mente mas não tinha tempo. A fraqueza me controlava e só poderia fazer um último esforço. E então falei para as paredes de rocha descascada, o vento frio da janela e o chão que me acolhia:

- Draco, meu Draco.

Mas daí eu acordei e aqui estou eu, na maca novamente com a enfermeira desesperada ao meu lado. E a morte já não era mais a escolha que eu queria, porque o que eu realmente quero é vê-lo novamente. Quero falar o discurso de frente para ele, viva dessa vez.

E para isso a cova de Riddle já terá que estar preparada. Não restam muitos dias para ele, os roubarei assim como ele me roubou do meu amor, de Draco, do meu Draco.

An angle in hell // Um anjo no infernoOnde histórias criam vida. Descubra agora