Capítulo 64

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- Celina? - a voz de Mia me desperta. Aperto os olhos enquanto pisco várias vezes. - E então?

- Então o quê? - minha voz falha um pouco e me ajeito no banco de pedra cinzenta polida. 

- Perguntei se vai pra festa na Grifinória. - repete, e dessa vez presto atenção. Olho em volta, a luz do sol é bem mais forte aqui no jardim. Tem verde pra tudo quando é lado, o clima ameno.

- Ah, eu tô meio ocupada.

- Ocupada com o que? Namorando Tom Riddle? - Logan brinca e ri enquanto toma o suco de abóbora.

Arregalo um pouco os olhos. Foi noite passada, como diabos ele saberia? E foi um beijo, só um beijo. Um beijo viciante e delicioso, mas nada mais. Um beijo com explosão de sabores. Apenas um beijo.

- Ih, ficou toda séria, foi? - Logan coloca o copo na mesa e revira os olhos - Dá pra acreditar nesse boato? Você namorando Tom Riddle - sua voz se mistura com um riso - Céus, essas pessoas não têm nada para fazer mesmo.

Me seguro para não deixar transparecer o alívio. A ressaca me ataca na cabeça, mas já tomei um remédio bruxo e espero que resolva. Se não resolver, será um longo dia.

- Como será que seriam os seus filhos? - provoca Mia. Ayla ri baixo e Logan dá mais um gole em sua bebida. Pássaros cantam ao nosso redor.

- Se minha dor de cabeça não me matar, eu me mato - resmungo com as mãos no rosto. - Esse remédio serve de alguma coisa mesmo? Ou é só pra engolir meu dinheiro e tempo?

- Calma, não faz nem cinco minutos que você tomou - Ayla diz, tentando me tranquilizar. 

- Onde foi que você bebeu pra estar assim? - Logan indaga. Bom, não posso falar, é um segredo de corvinos. E eu sou um deles agora.

- Sem perguntas - digo.

- E sem respostas - ele devolve.

Puxo a bebida de Logan e dou um gole. Meu cabelo amarrado me refresca a nuca, mas ainda sinto um calor que vem de dentro de mim. Quando penso na noite de ontem... Merda, estou com calor de novo.

Não, eu não sinto tesão por ele. Não por Tom Riddle. Não por um genocida. Não pelo homem que destruiu meu primeiro amor. Não pelo desgraçado que quer me matar e usou a única pessoa que amei para isso.

Foi o álcool, digo a mim mesma. Tudo culpa do álcool. 

Mas ele não estava bêbado. Tom me beijou sem ter álcool nas veias. Que droga.

De toda forma, tenho que encará-lo. Tenho que ver minha Pansy e meu Cedrico. Tenho que ver se estão bem e entender o que está acontecendo, porque minha vida ficou ainda mais conturbada do que já estava, se é que isso é possível.

- Festa da Grifinória amanhã, depois da janta - Mia diz, se levando da mesa e puxando Logan pela manga do casaco vermelho.

- Não conte comigo - digo, pegando o copo de Logan e virando o resto da bebida agridoce. 

- Não vamos - Mia responde uma última vez antes de começar a andar com Logan para longe, resmungando algo sobre a próxima aula que terão. 

Graças ao caldeirão, Ayla e eu temos o horário livre. Digamos que a última aula com Tom não foi muito acolhedora. 

- Você vai? - Ayla solta o cabelo do rabo de cavalo e ajeita a postura no banco de pedra. - Para a festa, eu digo.

- Ah, sem chance. Tenho que resolver umas coisas e não tô nada a fim de ficar de ressaca de novo.

- Você não precisa beber, sabe. Pode só ir e dançar, sei lá.

Aí eu percebo. Ayla quer ir, mas tem vergonha de ir sozinha. Acha que precisa de mim ao seu lado para ser notada, talvez. Ah, ela tinha de tudo para ser a garota mais famosa dessa escola. Tudo o que eu queria era não ser notada e ter um minuto de paz, mas o único rosto que eu não preciso ver nem de longe aparece. E ele vem até mim.

An angle in hell // Um anjo no infernoOnde histórias criam vida. Descubra agora