Capítulo 65

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Pansy rosna tão alto que nem olho diretamente para ela.

Mas já faz um certo tempo que ela está fazendo esse show. Tom fez o "favor" de acordá-la com um grito. Como já era de se imaginar, só piorou o humor dela. Por que não impedi? Simples, se eu chegasse perto era capaz de ela arrancar minha cabeça.

Mesmo amarrada, ela grita, xinga, ameaça e age como se estivesse no controle. Cedrico já tentou acalmá-la, mas desistiu depois de não ver resultado algum.

De pé com as costas apoiadas em um dos pilares da câmara secreta, os braços cruzados e cabisbaixa, me obrigo a ficar calada e esperar.

Tom, por sua vez, está andando de um lado para o outro, lentamente, apenas para mostrar que ele pode andar, ao contrário de Pansy que tem o corpo todo amarrado.

- Juro que se estivesse solta, iria arrancar sua cabeça e pendurar na porta da minha casa - ela grita, a voz soando como um rugido de animal selvagem.

Suspiro. Pansy, o que há com você? Um pouco de comunicação aqui ajudaria bastante, mas acho que ela só quer falar comigo se for para me intimidar.

- Chega - Tom para de andar e coloca as mãos no bolso. - Já entendemos que ia cuspir no cadáver de nós dois e beber nosso sangue se estivesse livre. Mas não está - Pansy franze uma sobrancelha com nojo - Você está presa e a ponto de morrer. Não tenho lá muita paciência. E você, Celina?

Nem olho para ele. Encaro Pansy por alguns segundos, sem expressão alguma. Penso o que mudou. Quando mudou e o motivo.

Me desencosto do pilar e tento relaxar os ombros. Fico tensa na presença deles e de Tom. Lembrar que ontem sua boca se alimentava da minha e... Chega.

- Cedrico cooperou, se não fizer o mesmo, não sei bem o que vou poder fazer para ajudá-los - é tudo o que eu digo. Meu Merlin, odeio quem inventou viagem no tempo.

- Claro que seu amante concordou, comer você parece mudar a forma como ele vê as coisas.

Puta que pariu Pansy, você me irrita às vezes. E nesse momento, às vezes é algo bem constante.

Tom me olha e encara Cedrico. Analisa a situação, tenta entender se é verdade o que ela acabou de dizer. Merda, agora Tom poderá ligar alguns pontos.

- Ele não é meu amante, mas pense o que quiser - digo, a voz firme. - Sabe de uma coisa? Também não tenho paciência de sobra, então vai cooperar querendo ou não.

Olho para Pansy, quase vacilando. Não falo assim com ela, nunca falei. Mas tenho que mostrar a Tom que tenho controle da situação e impor respeito. É assim que se faz, eu acho.

De relance, vejo um sorriso maroto surgir no canto da boca de Tom. Ele gosta disso, gosta de ver como ajo e como me pronuncio diante dos outros.

- Incrível como você se tornar mais vadia a cada dia que se passa - a voz de Pansy está cheia de risos irônicos e escárnio. Caralho, você é minha melhor amiga, que diabos está acontecendo?

- Na verdade - interrompe Tom - acho que ela precisa ver um por cento do que acontece se ela não cooperar. - Olho para ele, sem entender.

Ele caminha até as cestas de comida, pega uma delas e hesita um pouco antes de pegar a outra também. Vai tirar a comida deles, claro. Por mais que pareça inteligente, não posso deixar. São meus amigos, não vou deixá-los sofrer assim.

- Cedrico cooperou - digo, tentando fazê-lo colocar as cestas no chão novamente. - Deixe a cesta dele. A dela pode colocar no canto.

Ele caminha até mim e faz sinal com o queixo para eu ir junto. Sem querer parecer sentimental perto dele, o faço. Ele não pode saber o tanto que esses dois importam para mim.

- Ver o amiguinho dela morrer de fome vai fazê-la pensar melhor - sua voz soa tão cruel quanto ele.

Antes que eu possa falar algo, ele me olha de canto, indiretamente me mandando calar a boca. Minha vontade é bater na cara dele, mas me mantenho firme e paciente.

Saímos da câmara secreta e ele prevê meus pensamentos.

- Não, não vão morrer de fome. Em cinco horas, talvez seis, voltamos e deixamos que comam.

Tom me entrega as cestas enquanto tira a varinha do bolso e as esconde em algum lugar com um feitiço rápido.

- Quatro horas no máximo.

- Cinco? - ele tenta argumentar.

- Três.

- Quatro e você me diz os nomes deles.

- O garoto se chama "vai" e a menina "se fuder".

Tom revira os olhos e contém um riso. Nem graça eu vejo, mas ao perceber onde estamos fico ansiosa. Algumas horas atrás estávamos com os corpos colados logo ali na parede da janela.

Um arrepio corre pelo meu corpo com a lembrança. Porra, tenho que sair daqui.

- Precisamos falar sobre uma coisa - não, não, não. Nada de falar sobre ontem, por favor. Que merda, por que eu fui me deixar levar pelo álcool? Ele dá um passo em minha direção e eu dou um para trás, mantendo distância.

Ele percebe. Me olha de cima para baixo e vira a cabeça para o lado, como se estivesse pensando.

- Tenho mais o que fazer - digo, quase atropelando as palavras. Meio sem jeito, vou andando até a porta e dessa vez quase tropeço em mim mesma. Sua voz me interrompe e eu paro, de costas para ele.

- Não beba na festa da Grifinória - ele diz.

- E posso saber o motivo e porquê você acha que vou te obedecer? - me viro e ele está mais perto que antes, andou silenciosamente até mim.

- Porque você fica muito atirada quando bebe - ele se inclina para falar na minha orelha. - E eu gosto de você atirada, mas não queria gostar - seu hálito aquece meu pescoço. - E isso me faz gostar ainda mais.

Sem saber muito bem o que fazer ou como sair dali, fico parada feito pedra. As memórias tomam conta de mim. Sua respiração virando minha, suas mãos agarrando meu corpo, eu esfregando meus dedos em seu peito, querendo mais, precisando de mais.

Alguns segundos torturantes depois, ele puxa o corpo de volta e fica reto. Em seguida, sai como se não se afetasse com nada.

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Autora voltou e nossos personagens também.
Se preparem, porque vou importunar vocês 💗🗣️

An angle in hell // Um anjo no infernoOnde histórias criam vida. Descubra agora