Capítulo 41

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Já era dia. Mais especificamente, o dia mais decisivo na minha vida até então. Não esperava que acontecesse tão rápido, muito menos que já tivesse chegado esse dia.

Como de costume, estava deitada com os braços de Draco envolvendo minha cintura nua. Já era normal dormirmos juntos, era confortável. Draco estava sem camisa, deixando seus braços ligeiramente musculosos a mostra, mas não tinha ninguém ali além de nós dois.

Ele ainda dormia pacificamente, mas eu havia acordado antes. Isso também passou a ser costume, por mais que disso ele não soubesse. Por algum motivo, eu sempre demorava mais para dormir e acordava antes. 

Insônia era o motivo, claro. Estava de costas para Draco com nada além de seu braço em minha cintura e o cobertor não muito grosso cobrindo meu corpo. Tentei tirar seu braço de cima de mim, mas ele se remexeu um pouco ainda dormindo e resolvi não fazer movimentos bruscos para não acordá-lo.

Nesse tempo de insônia eu sempre pensava sobre duas coisas: Draco e meu, ou nosso, futuro. Draco me salvou das profundezas de meu sofrimento com tamanha suavidade que nem percebi.

Estava claro que eu tinha me tornado quem eu não queria ser: a garota apaixonada pelo pretendente perfeito. Mas depois de muito tempo, aceitei. Eu não me importava se minha família gostava de nossa relação ou qualquer outra coisa. Estava com ele porque ele me salvou e nunca cobrou nada por isso.

Draco- Já está acordada?- murmurou contra a lateral de meu pescoço, a voz rouca de sempre.- Vamos dormir mais um pouco, vai.- Não contive um sorrisinho de canto. Me virei, ficando cara a cara com ele e Draco não tirou o braço que envolvia minha cintura.

Celina- Faz ideia de que horas são?- perguntei levando uma mão aos capelos quase brancos dele. Sua perfeição me fascinava.

Draco- Desde quando se importa com horas?- eu ri e ele deixou uma beijo rápido, mas delicado, em minha testa. Fiz menção de me desvencilhar de seus braços e levantar, mas ele apenas me puxou mais para ele e apertou um abraço em mim. Meu rosto ficou pressionado contra seu peito e senti seu queixo no topo de minha cabeça.- Nem temos aula hoje, se aquiete.

Celina- Podemos não ter aula, mas vamos viajar, esqueceu?- falei empurrando seu peito e tomando um pouco do ar abafado do quarto.- Uma longa viagem.

Draco- Ainda falta muito tempo para isso.- me sentei na cama e ele bufou.- Vem deitar logo, Celina.- ele deu um tapinha na cama com um olhar carente. Gostava quando ele me chamava assim. Meu nome parecia poesia quando soava por entre seus lábios.

Celina- Você por acaso já fez as malas?- virei a cabeça para olhar em seus olhos, mas ele desviou o olhar de mim e já soube a resposta sem que ele precisasse responder com palavras.- Eu disse para fazer ontem!

Draco- Falando assim nem parece a mesma de ontem a noite.- ele puxou meu braço, me fazendo cair novamente no colchão e afundar um pouco enquanto ele se inclinava e ficava por cima de mim.- Sua voz era diferente enquanto gemia.

Revirei os olhos mordendo o lábio para não rir, mas mesmo assim meu sorriso transpareceu. Ele colocou uma mecha do meu cabelo para trás e deixou o olhar serpentear pelo contorno do meu rosto.

Draco- Não precisamos ir se não quiser.- falou, quase que me oferecendo um aconchego. Ele se tornou tão íntimo meu ao ponto de ter minha confiança por completo. Talvez eu a tenha entregado de bandeja por ele ter sido a primeira pessoa a me escutar, não como um bajulador, mas como alguém que não tinha nenhuma outra intenção.

Celina- Eu quero isso.- falei desviando o olhar entre seus olhos azulados. Azul passou a ser minha cor preferida sem que eu percebesse.- Quero fazer parte disso, ter a marca.- prolonguei a fala, a fim de convencê-lo.

An angle in hell // Um anjo no infernoOnde histórias criam vida. Descubra agora