Roxo

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POV SAULLO

Convencer a minha mãe a me deixar viajar com a família de outra pessoa pra outro estado não foi nenhum pouco fácil. Semanas e semanas de sacrifício, de trabalho e de humilhação pra convencer a velha. Mas a questão é... valeu a pena? Depois de tanto sacrifico, depois de tanto pedir pra viajar, será que tudo isso era necessário? E eu digo, valeu sim! Apesar desse perrengue que estamos passando, passar um tempo com pessoas que você gosta ajuda mesmo a espairecer.

É um fato que eu sou meio sequelado quando se trata de relações sociais, mas pra um role em outro estado eu até que estou indo bem. Talvez seja por estar envolto de pessoas que eu admiro, além do Cauã também. Todos são especiais do próprio jeito: a Camille pode ser uma obsessiva pelos action figures dela; o Júlio pode ser um cinéfilo com opiniões questionáveis; o Gustavo pode ser alguém de fácil ódio; e o Danilo ne mano, o cara que me espancou há pouco tempo.

Só estranho o fato de a gente estar agindo de maneira "normal" com o que ta acontecendo. Por exemplo, a gente literalmente presenciou o primo da Camille espancar a mim e ao Júlio; agora estamos em outro prédio depois de ser transportado em um veiculo por uma pessoa sem habilitação. A questão é: até quando a gente vai continuar agindo dessa forma? Qual vai ser o estopim pro inicio do caos? Ao meu ver, isso ta longe de terminar.

Estávamos há quase 2 horas no hotel da família do Júlio fazendo absolutamente nada, apenas esperando a menina e vigiando o estado do Danilo.

Gustavo: Júlio.

Júlio: Oi.

Gustavo: Tua cara ta roxa.

Júlio: QUE???

Júlio vai correndo até o banheiro da suíte a fim de analisar como esta sua face após o ataque violento do primo da Camille.

Júlio: Ah não mano.

Saullo: Olha pelo lado bom Júlio, você não levou um soco no nariz. Acredito que o meu esteja em pé porque eu não tenho cartilagem nele, ai é molenga.

Júlio: Tudo bem, Saullo, isso não ajuda muito. Minha cara continua roxa.

Cauã: O Danilo tava andando descalço fora do apartamento da Camille, com certeza o pé ta todo sujo.

Júlio: Boa, Cauã.

Camille: Perdi.

Pode-se ouvir o chuveiro do banheiro principal, Júlio realmente era um pouco paranoico com a estética. Eu não faria diferente, aquele pé realmente tava bizarro.

Cauã: Ei Canille!

Camille: O que foi, Bastos?

Cauã: Já é quase 8 horas, que horas os teus pais saem pra trabalhar?

Camille: 8, por quê?

Cauã: Ah sei lá, né, é que talvez a filha dele possa estar em posse da PORRA DO CARRO DELES CAMILLE.

Camille: MEU DEUS CAUÃ, EU TENHO QUE LEVAR ELE DE VOLTA!

Saullo: E tu vai sozinha? Deixa que eu vou contigo, caso precise de um cumplice quando for contar mentiras.

Júlio: Eu vou também, so deixa eu me secar!

Camille: Tudo bem, Cauã e Gustavo vocês ficam aqui vigiando meu primo.

Gustavo: Que porra viu, Cauã. Já não bastou eu carregar o Danilo junto contigo subindo e descendo os lugares.

Cauã: Relaaaaaxa man, comigo aqui, o Danilo não faz mal a ninguém 💪.

Gustavo: Teu cu. Na hora que a gente tava segurando-o, tu tava mais vermelho que meu pau.

Cauã: Puta que pariu tu so fala merda.

Camille: Cuidado pra não se comerem ai, viu.

Júlio: Estou pronto! Ainda bem que as minhas roupas tão aqui.

Saullo: Vamo logo.

Eu, Camille e Júlio saímos de lá o mais depressa possível, faltaram 15 minutos pras 8 e os pais da Camille iriam surtar se a vaga do carro deles estiver vazia no estacionamento.

A Camille partiu tão rápido que o som dos pneus no piso do estacionamento ecoou por um bom tempo na minha cabeça.

No meio do Caminho, Júlio diz.

Júlio: A gente tem que exercitar a nossa mentira, Camille.

Saullo: Boa ideia, Camille, finge que eu sou o Eudes. Cof cof; Camille, o que tu tava fazendo no hotel do teu amigo em, porra?

Camille: Papai, eu tava tomando um café com os pais do Júlio... gente boa.

Júlio: HORRIVEL HORRIVEL HORRIVEL

Camille: Af. Eu vou saber agir na hora, gente. Não precisa de simulação.

Naquele momento, Matheus envia um áudio importante no nosso grupo do Whatsapp:

"Pessoal, descobri algo sobre as viagens da Menina. Ela ainda recebe auxilio de algumas empresas que ela era sócia no passado, dinheiro suficiente pra transitar pelo país quando ela quer. Entretanto, ela não passa as noites dela em hotéis, ela age como mendigo e dorme nas ruas. Não sei se o dinheiro dela não é suficiente pra arcar com hotéis ou ela realmente só não quer. Enfim, ela também frequenta lan houses pra poder usar as redes sociais as vezes, e acreditem, ela tem várias, e é lá que to procurando mais coisas pra poder contar pra vocês!"

Saullo: A cada detalhe que o Matheus conta, fica mais estranho.

Júlio: Assim que é bom. Gente, vocês acham que eu seria capaz de dirigir um filme relatando nossa história?

Camille: Claro que sim, Júlio, mas eu teria que ganhar 70% dos ganhos do filme por danos morais. Meu Levizinho.

Júlio: Ei man. Chegou eba.

Estávamos adentrando no estacionamento do prédio da Camille. A viagem não durou mais do que 10 minutos em decorrência da proximidade dos dois pontos.

Saímos do carro e estávamos subindo à passos largos e rápidos. Já eram 8 horas, provavelmente veríamos Eudes ou Andrea saindo do apartamento, por isso a nossa pressa. No entanto, quando estávamos dentro do elevador, escutando alguns gritos vindo de fora. Eles ficavam mais altos à medida que o elevador subia. Chegou em um momento em que nós estávamos entendendo cada palavra que estava indo violentamente chegando aos nossos ouvidos.

Quando as portas do elevador abriram, não era mais só um som, também vimos com exatidão o que nós mais temíamos...

Camille: É ELA, A MENINA!!!! ELA TÁ COM A MESMA ROUPA DE ANTES, TA COM A MESMA ROUPA DO SHOPPING E COM A MESMA ROUPA DE ANTES NO CORREDOR!

Júlio: Fala baixo, Camille.

Saullo: Camille!!! Tem alguém falando com ela, chega mais perto.

Júlio: Aquele não é o Eudes?

Camille: Júlio, Saullo, avisem no grupo sobre isso, eu vou até eles. Não saiam daqui!

A expressão da Camille mudou no exato momento que nós notamos que na verdade era seu pai que estava conversando com a Menina, parece que ela recebeu uma vacina instantânea naquele momento, que a imunizava de qualquer medo. Ela se aproxima em passos longos e fortes, que ecoavam por todo corredor. Enquanto isso, eu abria o meu whatsapp pra alertar o resto do grupo sobre a Menina.

WHATSAPP ONGRUPPEN E CAUÃ

Saullo: GENTE, A MENINA TA AQUI AAS,ISMAIMSINANAIDENAIDNA

*foto da menina no corredor*

Gustavo: A COISA TA FEIA AQ TMB!!!

Cauã: E eu acho que o Danilo acordou, nós estamos trancados no banheiro e ele ta na cozinha. Não sabemos o que fazer. 

Júlio: *figurinha do sigilo*

Ministério ÉtromOnde histórias criam vida. Descubra agora