1. Refugiada

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Eu estava ansiosa. Sempre foi fácil controlar minhas emoções, então isso é novo para mim. Parece que não são só minhas emoções que andam meio fora de controle.

Tudo nos últimos meses saiu do meu controle.

– Não se preocupe, S/N. – disse o sr. Aizawa do banco da frente do carro. – Já pedi que o representante da 3A deixasse tudo certo no dormitório para sua chegada. Todos irão te esperar na entrada, conforme o combinado. Estão ansiosos para conhecer a intercambista brasileira.

– Refugiada. – Corrigi ele. – Não sou intercambista.

– Eu sei. – disse Aizawa, olhando para trás ao parar no sinal. – Mas eu não falei nada pra eles. Isso é escolha sua.

Abaixei a cabeça, concordando. Eles perceberiam de toda forma que eu sou diferente. Sejam pelas cicatrizes que eu carrego, seja pelo meu modo de me portar, eles perceberão, uma hora ou outra. Esses alunos não são burros. Pelo o que eu entendi, são os veteranos do último ano do curso de heróis da melhor escola do Japão, a UA.
São os melhores dos melhores, e eu estou níveis abaixo deles.

– Eles vão perguntar, você sabe... – disse eu. – Principalmente sobre a prótese. Vão querer saber como eu perdi a perna.

– S/N, esses alunos também passaram por muitos horrores. Me surpreenderia se perguntassem. – disse ele. – E outra, apenas mandem eles calarem a boca. O que você passou não é da conta de ninguém.

Sim, não é da conta de ninguém... Só de umas três bancadas da ONU e pelo menos dois dos maiores grupos revolucionários brasileiros. E não podemos esquecer do Governo ditatorial do Brasil.

Todos eles estão na minha cola, acompanhado meus próximos passos, e não a nada no ano de 2038 que eu possa fazer para mudar essa realidade.

Nada, a não ser, é claro, me tornar uma heroína.

Deixe-me dizer apenas uma coisa: eu não sou heroína. Nem existe isso na minha terra natal.

Cresci para ser uma assassina. Uma ladra. Espiã. Fui treinada toda minha vida toda para matar o ditador. Mas... heroína? Eu nunca nem imaginei que existia gente assim. É tão fantasioso que chega a dar dó.

Não sei se vou me adaptar. Não em uma escola de super prodígios metidos a heróis.

Mas não é como se eu tivesse outra opção.

- É aqui. Chegamos. -- disse Aizawa, encostando o carro. -- Bem-vinda à UA.

***


Depois de passarmos por milhares de protocolos de segurança de alta tecnologia, finalmente entramos na UA. Fiquei surpresa com tamanha burocracia, mas o sr. Aizawa me explicou que isso evitava os ataques frequentes de vilões à instituição.

"Vilões...", pensei, "Isso soa tão ridículo... Bom, se essa é minha nova realidade, é melhor eu me adaptar a ela. Eu moro aqui agora, afinal."

Ao subirmos o campus, passamos pelo prédio principal, e Aizawa me apontava os prédios e campos de treinamentos, me mostrando tudo o que se há para ver naquela academia de heróis.

Ok, tenho que admitir... era surreal.

Os locais separados para treinos distintos, as salas de aulas internas e externas, e, caramba, aquilo era um bondinho?

– Instalamos a linha interna de bondes magnetizados para agilizar a locomoção dentro da Academia alguns anos atrás. Você pode ir para qualquer local da universidade usando os comandos desse tablet. – ele apontou para um toten eletrônico que mostrava o mapa tridimensionalizado da UA. - Vamos, suba. – então ele clicou em uma parte do mapa que eu não reconheci. – Vamos para os dormitórios.

Sentimentos Explosivos - UA de BNHAOnde histórias criam vida. Descubra agora