26. Não se pode apagar o passado - pt. 7

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Aquela explosão fez meus ouvidos zumbirem, e percebi naquele momento que eu tinha cometido um baita de um erro.

Depois do choque inicial, eu corri em direção ao barulho, na ala norte. Ainda torcia para que aquela explosão fosse só mais uma coincidência, mas no fundo, eu sabia a verdade.

Se Gaspar conseguiu de alguma forma entrar com o carregamento de explosivos, eu não sabia o que eu poderia fazer para impedir seus planos doentios.

Mas eu ia tentar.

Chego suando ao local marcado: a sala de jantar da ala norte, onde o ditador Abel estaria com seus ministros. Mas quando chego, não encontro o ditador. Muito menos seus ministros. O que eu encontro é Gaspar brigando com seus soldados, enquanto uma dúzia de homens carrega sacos marrons e os apoia contra uma porta no canto oposto da sala.

A mesa de jantar a minha frente é um caos de comida espalhada por todos os lados. No teto, rachaduras começam a estalar, demonstrando a fragilidade da estrutura. E o cheiro de pólvora fazia meu nariz queimar.

Com certeza, ali tinha acontecido uma explosão. E pelo que pude perceber, os soldados se preparavam para uma segunda.

Vou até Gaspar, e, sem hesitar, lhe dou um soco.

— O QUE VOCÊ FEZ?!

— Porra, S/N! Que merda é essa? — ele diz, enquanto estanca o sangramento no nariz quebrado.

— Eu que te pergunto que merda é essa!!! Achei que tínhamos concordado em uma abordagem pacífica!

Gaspar apenas ri do meu desespero. Eu me sinto a pessoa mais idiota do mundo.

— Você é uma graça, sabia, S/N? — ele diz, como se eu fosse uma criança que acredita em contos de fadas. Ele rapidamente recompõe sua pose de líder autoritário e volta a falar com seus asseclas. — Ei! Você aí! Cuidado com isso! Se outra bomba for acionada sem querer, vou colocar você pra fazer companhia ao ditador!

E é aí que me dou conta.

— Onde tá o ditador, Gaspar?

— Ah, S/N, sinceramente! O que você acha que tem atrás daquela porta? — ele aponta para a porta selada com explosivos. — esses imbecis vão ser os primeiros a virarem pedacinhos.

— Os primeiros, mas não os únicos!!! Eu passei por uns três faxineiros acuados no caminho pra cá, Gaspar! Eles não vão conseguir sair, nem os cozinheiros, nem os estagiários...

— S/N, não me importo!!! Caramba, o que deu em você?! Deixa pra lá, no final do dia, essas perdas não vão fazer a menor diferença. Teremos um país pra comandar.

Não, não, eu não ia deixar Gaspar matar centenas de inocentes. Tudo que Gaspar via era o poder que queria por as mãos. Mas desse jeito, eu não ia deixar.

— Última chance para fazer a coisa certa, Gaspar. — eu disse, voltando a atenção dele a mim, minhas unhas cravadas em seus ombros. — Ou você desativa esses explosivos, ou eu vou. Eu não tô brincando.

Ele me olhou, e via nos meus olhos que eu falava sério. Gaspar percebeu que tinha me perdido.

— Eu não vou deixar você estragar meu plano, garota. Quer que eu seja o vilão? O cara mau? Eu posso muito bem desempenhar esse papel... — ele disse, e vi que ele sacou sua adaga. Eu sempre gostei daquela adaga com o punhal em forma de cobra, mas, no momento, tudo o que senti foi medo.

— Vai se fuder, Gaspar. —  e, correndo na direção oposta, peguei minha própria adaga. Eu sabia desativar uma bomba, mas precisava de tempo. Foi utópico achar que eu conseguiria antes dele me pegar, mas eu tinha que tentar.

Sentimentos Explosivos - UA de BNHAOnde histórias criam vida. Descubra agora