5. Rivais

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– Mina, fala sério, por que eu não posso usar uma calça como os meninos? –  eu perguntei enquanto experimentava pela primeira vez meu uniforme pomposo.

Aquela saia curta estava me dando nos nervos. Além de ser desconfortável, ela deixava evidente a minha prótese. Às vezes eu preferia esconde-la com uma calça larga. Evitava os olhares e, melhor ainda, as perguntas.

– Está no código de vestimenta, querida. Eu também acho injusto. Mas não se preocupe: na parte da tarde, você vai poder vestir seu traje de herói!

– O quê? Traje? Eu não tenho nenhum "traje"...

– Ah, não tem problemas. Você pode usar a roupa de educação física. –  explicou Mina – Mas, sobre o seu traje... você precisa enviar seu requerimento pro departamento de suporte. Fala com a Mei Hatsume, ela vai saber te ajudar. Você já tem uma ideia de como quer o seu traje? -- perguntou.

– Ainda não, Mina... Eu nunca pensei em coisas assim. Todo esse lance de herói é meio novo pra mim, sabe?

– Não se preocupe, S/N... Depois das aulas de hoje, você vai ver que não é nada tão surreal assim. Heróis são apenas pessoas que usam suas individualidades para ajudar os outros... Você vai gostar.

Eu não tinha certeza disso, mas apenas concordei.

Pensamentos me invadiram antes que eu pudesse evitar:

Sua individualidade nunca fez o bem para ninguém, S/N. Ela foi criada para ser destruição. Você não vai conseguir fazer o bem com ela. NUNCA.

Chacoalhei minha cabeça, me livrando daquelas palavras.

Eu ia tentar. Eu ia me tornar uma heroína.

***

As aulas do período matutino da UA eram aulas comuns como de outra escola qualquer. Inglês, Biologia, História, Matemática, tudo aquilo que eu já sabia de cor.

Os professores insistiam que eu anotasse a matéria, mesmo eu explicando que minhas anotações seriam inúteis pois as informações acabavam ficando gravadas no meu cérebro de qualquer jeito. Uma das vantagens de ter hiperminésia: só de estar na classe, ouvindo o professor, eu conseguia reter o conteúdo das aulas. Se eu precisasse lembrar algo de qualquer uma das lições, meu cérebro tocava como um gravador palavra por palavra dita, sem precisar de anotações ou livros.

Acabei a manhã com um caderno inútil cheio de anotações inúteis. Valeu, UA.

Fora isso, não posso reclamar. Em uma escola de prestígio como essa, era de se esperar que as aulas exigiriam excelência.

Depois de um almoço reforçado no pavilhão de alimentação dentro da escola, era hora do que todos mais esperavam:

Treinamento de herói.

Chegamos num pavilhão aberto, cercado de simuladores e alguns alvos para praticar. Todos estavam vestindo seus trajes de heróis que, para ser sincera, a maioria parecia fantasias de carnaval. Mas eu entendo que faz parte do espetáculo de ser um herói. Nesse país, um herói é mais que um vigilante ou um policial. É um ideal. Seus trajes refletiam uma imagem de esperança, ou seja lá o que os civis tanto admiravam. Era parte do show.

Eu vestia a roupa de educação física da UA, que, por sorte, tinha uma calça larguinha. Automaticamente me senti melhor.

Depois de um tempo, o professor Aizawa finalmente apareceu. Ele parecia mais descansado. Afinal, depois de um mês no Brasil resolvendo os termos do meu refúgio no Japão, isso esgotaria qualquer um, e ele merecia mesmo um descanso. Sou muito grata por tudo que ele e o diretor Nezu fizeram por mim. Se não fossem por eles, eu estaria morta. Literalmente.

– Como foi ontem, S/N? – perguntou ele.

– Foi... surpreendentemente bom. –  respondi.

–  Que bom que você está se enturmando. Os meus alunos são boas pessoas.

Foi então que atrás de nós, sons de explosões invadiram a quadra e, quando dei por mim, Izuku Midorya tinha sido arremessado por cima do ringue de treinamento pelo garoto explosivo.

–  Quer dizer... Quase todos os meus alunos são boas pessoas. –  e, virando-se para o problema, gritou: – Bakugou! Não me obrigue a usar a minha individualidade!

– Não é culpa minha se o Deku é a droga de um frouxo nas lutas corpo a corpo! –  rebateu Bakugou.

– Você atacou antes do sinal, Kachan!!! – disse Deku, com a voz aguda de quem tinha acabado de aterrissar 5 metros abaixo do ringue.

– NA VIDA REAL NÃO TEM SINAL, SEU IMBECIL! –  berrou Bakugou. – Se é para eu me tornar o melhor herói de todos, é melhor praticarmos do jeito certo. Agora, levanta, Deku, seu bosta! Vem aqui e tenta me derrotar!!!

O sr. Aizawa revirou os olhos. Subitamente, parecia exausto novamente.

– Eu não sou pago o suficiente para essa  palhaçada. – sussurou ele. –  Bakugou! Se você está tão animado para treinar, porque não luta com a S/N? Eu estava querendo mesmo apresentar a individualidade para a classe.

–  Há! Tá falando sério? – riu Bakugou, se apoiando nas cordas do ringue. – Isso vai ser interessante... Sobe aqui, novata.

Olhei para o sr. Aizawa, que tinha um sorriso irônico no rosto, como se soubesse no que aquilo ia dar, mas que não ia interferir porque seria divertido assistir.

Então, é claro, eu subi no ringue. Mal podia esperar para dar na cara daquele filho da puta.

– Só pra deixar bem claro, novata. –  disse ele, chegando bem próximo de mim e segurando meu braço. –  EU sou o melhor daqui. Olha para todos esses desgraçados. – ele fez um gesto amplo, apontando para os colegas – Eu já derrotei todos. Cada um deles. E você não vai ser diferente.

E, para exemplificar sua ameaça ridícula, fez algumas explosões surgirem na palma da mão.

Tive que me segurar para não rir.

– Seus fogos de artifício não me assustam, garoto. Muito menos suas ameaças. – disse, e afastando sua mão de mim, sussurrei em seu ouvido. – Se prepare para perder.

Ele apenas riu, como se apreciasse um bom desafio. Pelo menos nisso nós éramos parecidos.

– Olha gente! O Bakugou vai lutar com a S/N! Bora assistir, isso vai ser épico! –  gritou Kirishima, e logo tínhamos plateia.

–  Afinal, qual é sua individualidade, garota? Deve ser bem boa pra te trazerem do outro lado do mundo pra cá. – perguntou meu oponente.

–  Você já vai descobrir... – disse, fazendo suspense, e fiquei satisfeita ao perceber que ele demonstrou medo por trás dessa máscara de superioridade. –  Quando eu acabar com você, imbecil.

–  Cuidado com o que diz. Você não vai me querer como seu inimigo, garota... –  percebi que era uma ameaça.

–  Ei, escuta, vocês dois! Eu quero uma luta limpa! Fiquem nas marcações e no meu comando, lutem. Vou interferir se passarem do limite! – gritou Aizawa, se posicionando do lado do ringue.

Fomos um para cada lado, e, atentamente, esperamos o sinal. O silêncio era sufocante.

– VÃO!

Ativei minha individualidade, gerando interjeições de surpresa por todo o pavilhão.

Bakugou percebeu logo nos primeiros segundos de luta que estava fudido.

Sentimentos Explosivos - UA de BNHAOnde histórias criam vida. Descubra agora